26 abril, 2010

A Ignorância e a Burrice - Por Antonio Caetano

"As constelações servem para esclarecer a noite". Bela frase, não? A mim, soa como Guimarães Rosa, o uso ambíguo do verbo esclarecer sugerindo algo de arcaico e místico. Um astrólogo certamente enxergaria nela vestígios simbólicos, as constelações servindo para aclarar a obscuridade de nossos destinos. Um marinheiro, por outro lado, veria na frase a expressão de uma verdade empírica: à noite, navegamos orientados pelas estrelas — conhecimento indispensável quando nos faltam instrumentos. Eu fico com a ressonância lírica — me basta.

Juro: se pudesse, roubava a frase para dizê-la como um comentário displicente depois de observar longamente o céu salpicado de estrelas numa noite de lua nova, lá no alto da serra. Sim, depois de um longo silêncio eu sussurraria ao teu ouvido num tom grave e sorrateiro: "As constelações servem para esclarecer a noite", e certamente mais duas estrelas se acenderiam no teu rosto, cheias de admiração pela sabedoria que eu teria se a frase fosse minha...

E nem seria difícil me apropriar da frase, visto que ela talvez hoje envergonhe seu autor anônimo, depois de ter sido enjeitada pelos bedéis do senso comum que julgaram as redações da galera que prestou vestibular para UFRJ este ano. Eles não só não gostaram da frase como a incluíram em uma mensagem eletrônica que fizeram circular pela Internet (eu só recebi agora) reunindo o que consideraram ironicamente como "pérolas": frases que continham erros mais ou menos crassos — fosse de informação, sintaxe ou grafia.

[Continue a leitura em Projeto Releituras / textos para relaxar  -
crônica escrita em 5 de fevereiro de 2001]













Taninha Nascimento

17 abril, 2010

MATEMÁTICA MAIS ATRAENTE


Alunos da 4.ª série do CEI David Carneiro usam mesa com blocos e computador com jogos e exercícios: diversão que ajuda no aprendizado.

Aprendizagem na disciplina ocorre a longo prazo. Levar o aluno a entender o contexto, usar jogos e tecnologia podem tornar processo mais agradável
A tecnologia aliada à criatividade dos professores tem ajudado a tornar a matemática mais atraente para os estudantes. Avaliações de desempenho mostram que dominar a disciplina não é o forte dos brasileiros. O Sistema Nacional da Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2007, último resultado disponível, mostra que estudantes brasileiros da 8.ª série do ensino fundamental, que deveriam ser capazes, por exemplo, de calcular o valor de uma expressão algébrica, incluindo potenciação, conseguem realizar apenas operações como multiplicação e divisão com dois algarismos, conteúdo que deveriam ter dominado na 4.ª série do ensino fundamental.
E a dificuldade com a disciplina se arrasta desde as séries iniciais. Na 4.ª série, de acordo com dados do Saeb, os alunos dominam habilidades que deveriam ter vencido na 2.ª série (veja tabela). O Saeb é um dos exames que integra a avaliação da educação básica no Brasil. É feito a cada dois anos e avalia uma amostra dos alunos matriculados nas 4.ª e 8.ª séries do ensino fundamental e 3.º ano do ensino médio, de escolas públicas e privadas, localizadas em área urbana ou rural.
Olimpíada estimula estudo
O governo federal continua apostando na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) para, entre outras coisas, melhorar o desempenho de professores na educação da disciplina e estimular o estudo da matemática. Uma avaliação econômica solicitada pelo Ministério da Educação (MEC) à Fundação Itaú Social mostra que a iniciativa tem tido bons resultados.
Entrevista: As crianças sabem, mas não conseguem se expressar
Aos 76 anos, o professor da Universidade Paris Gerard Vergnaud já orientou mais de 80 teses de mestrado e doutorado. Formado em Psicologia, é diretor do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS, na sigla em francês), em Paris. Fez a própria tese de doutorado com ninguém menos que Jean Piaget, um dos teóricos mais estudados no campo da Pedagogia. O professor francês esteve em Curitiba no mês passado, quando concedeu a seguinte entrevista à Gazeta do Povo.
O que a avaliação mostra, na opinião de especialistas, é que boa parte da relação de ódio com números e operações, muito comum em crianças e adolescentes em idade escolar, tem origem no ensino fundamental. Para o professor da Universidade Paris Gerard Vergnaud referência mundial em educação matemática, autor do livro A criança, a matemática e a realidade, que acaba de ganhar versão em português, uma das razões que explicam esse conflito é que o aprendizado em matemática ocorre ao longo dos anos. Vergnaud é criador da Teoria dos Campos Concei¬tuais, que ajuda a entender como as crianças constroem os conhecimentos matemáticos. Para ele, os professores precisam usar mais desta teoria. “Os professores têm que se aliar aos pesquisadores e realizar um estudo empírico para acompanhar e dizer o que cada criança é capaz de aprender em cada idade. Os professores não têm conhecimento desta diversidade. E menos ainda os pais”, diz. O professor francês esteve em Curitiba no mês passado para ministrar palestra aos docentes do Grupo Positivo.
Para Vergnaud é possível, mas difícil, tornar o ensino da matemática mais atraente, devido à seriedade que permeia a disciplina. “Ao mesmo tempo em que há situações que se aproximam das vividas pelos jovens e crianças, a matemática é uma coisa muito séria. E por isso, a maior parte das crianças se enche. O uso de atividades lúdicas com a seriedade da matemática é um equilíbrio difícil de achar”, diz.
Atratividade
Trabalhar com o lúdico e a contextualização da matemática foi a solução encontrada pela professora do Colégio Novo Ateneu Juliana de Moraes Campos, que leciona a disciplina para crianças e adolescentes há 12 anos. A professora envolveu seus alunos da 5.ª série do ensino fundamental com a história da matemática. Depois de ter pesquisado sobre o assunto, cada estudante criou seu próprio sistema de numeração. “Temos de mostrar para a criança que a matemática não surge do nada na vida dela. Dá para vincular os conteúdos com o dia a dia usando novas metodologias”, diz.
Há 12 anos, os alunos do pré à 4.ª série do ensino fundamental do Centro Municipal de Educação Infantil David Carneiro, no Xaxim, usam mesas com blocos desenvolvidas exclusivamente para o ensino da matemática. As aulas com as mesas ocorrem uma vez por semana. Antes e depois os conteúdos são abordados em sala de aula. De acordo com a professora Cristiane Inês Bassa, a tecnologia permite uma melhor visualização de situações matemáticas. “Serve como um complemento da aprendizagem”, diz.
A mesa tem blocos coloridos e é integrada a um computador que permite o uso por até seis crianças simultaneamente. Contém jogos e exercícios que dão noções de lateralidade, direção, medidas e lógica. Para a estudante do 3.ª ano Bianca Ferreira Fidelis, 8 anos, dispensar a escrita dos números é um dos pontos positivos do uso da tecnologia. “Sem contar que aqui é muito mais divertido”, diz.
Para uma das desenvolvedoras da tecnologia, a matemática Vanessa Moraes, as novidades tecnológicas servem para facilitar, mas sozinhas não garantem o sucesso do aprendizado. No caso das mesas, a matemática acredita que um dos principais ganhos é que o software não obriga os alunos a acertar os exercícios. “A criança se sente mais à vontade para treinar no computador. Sabe que pode retornar e tentar de novo. A observação ocorre de maneira mais lúdica. Já com a presença do professor o sentimento é de que está sendo repreendida”, diz.
A tecnologia aliada à criatividade dos professores tem ajudado a tornar a matemática mais atraente para os estudantes. Avaliações de desempenho mostram que dominar a disciplina não é o forte dos brasileiros. O Sistema Nacional da Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2007, último resultado disponível, mostra que estudantes brasileiros da 8.ª série do ensino fundamental, que deveriam ser capazes, por exemplo, de calcular o valor de uma expressão algébrica, incluindo potenciação, conseguem realizar apenas operações como multiplicação e divisão com dois algarismos, conteúdo que deveriam ter dominado na 4.ª série do ensino fundamental.
E a dificuldade com a disciplina se arrasta desde as séries iniciais. Na 4.ª série, de acordo com dados do Saeb, os alunos dominam habilidades que deveriam ter vencido na 2.ª série (veja tabela). O Saeb é um dos exames que integra a avaliação da educação básica no Brasil. É feito a cada dois anos e avalia uma amostra dos alunos matriculados nas 4.ª e 8.ª séries do ensino fundamental e 3.º ano do ensino médio, de escolas públicas e privadas, localizadas em área urbana ou rural.

(DUARTE, Tatiana. Curitiba: Gazeta do Povo, 13.04.2010 - educacao@gazetadopovo.com.br )

11 abril, 2010

Abril...

... E, uma semana depois, o RJ amanhece com uma greve de ônibus!! Ninguém merece... É o cúmulo da falta de senso... Sem falar em multas por se tentar sobreviver ao "dilúvio"...
Inacreditável. [12/04]


     Tenho escrito pouco. Em meu blog de poesias, muitas repostagens... A sensação é de um turbilhão de bolhas de sabão nas idéias: aparecem e papocam - somem.
     Aqui, por exemplo, tenho o desejo de escrever sobre assuntos vários. Mas não consigo concluir. Enfim, um misto de excitação e desânimo... 
     Dia oito do corrente mês, fiz aniversário . E, o mês de abril, comporta muitas [outras] datas importantes ou absolutamentes desimportantes - dependendendo do ponto de vista:




01 – Dia da Mentira [Vá lá, uma homenagem aos pinóquios da vida pública e privada...]

02 – Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil [Bacana!]

07 – Dia Mundial da Saúde [ À saúde!]

08 – Dia Mundial da Luta Contra o Câncer [ Dia do meu aniversário!]

13 – Dia do Beijo [hehehe, legal... Vale lembrar que Judas beijou Jesus...]

14 – Dia Pan-Americano [como assim?]

16 – Dia Nacional do Lions Clube [Hm... ]

18 – Dia do Amigo [Ué, será que está certo? Não é 20 de julho?]

19 – Dia do Índio [ Ah, os índios. Só lembrados assim...]

21 – Dia de Tiradentes [ Puxa... É até feriado!]

22 – Dia da Força Aérea Brasileira [ Legal... ]

22 – Dia do Descobrimento do Brasil [ Sério?]

22 – Dia do Planeta Terra [Uau... Bacana!]

23 – Dia do Escoteiro [ Puxa, sei que é importante, mas só me remete aos filmes americanos...]

23 – Dia Mundial do Livro [UAU!]

26 – Dia do Goleiro [ Os frangueiros também podem se sentir homenageados]

27 – Dia da Empregada Doméstica [ Bem lembrado!]

27 – Dia Mundial do Teatro [Bacana!]

28 – Dia da Sogra [hehehe...]

30 – Dia Nacional da Mulher [ Ah... Dia 8 de março é o dia internacional....]
 
                                                                                       
                                                                                     

      Então... Continuando a falar do mês de abril, que começou de maneira trágica: consequencias das fortes chuvas, fico sem palavras - pra variar. Mas, o que dizer diante de um cenário como este? Eu sei que não foi uma chuvinha. Foi algo que à NASA causou espanto pelas imagens das nuvens sobre o Rio de Janeiro. Melhor não entrar no mérito da questão por esse viés da previsão, mas permissão para se construir lares em cima de lixões - como ocorreu no Morro do Bumba - e ainda fazer benfeitorias no local é de matar. Pelo amor de Deus! A coisa é de um absurdo tão grande que comentar é quase que aplaudir. Acho que, por isso, "alguns muitos" silêncios... 

Foto extraída do jornal A Tarde On Line 

[Morro do Bumba com  - ao fundo - a emblemática foto do que restou do quarto de uma casa que foi abandonada pelos moradores momentos antes do desabamento.]


     Não estamos preparados para pequenas nem grandes tragédias. Nem para as nossas, pessoais. Isto é fato. Então o que fazer quando estas se abatem sobre nós? Não sei. Eu só sei que até Deus manda que façamos a nossa parte e dá exemplos de se "construir sobre a rocha". Não sobre areia, barrancos ou tampouco sobre lixões. [Rio tem 18 favelas que cresceram sobre lixões]
     Enfim, a conta é alta. Preço de vidas. Quem vai pagar? [O prefeito Eduardo Paes anunciou a remoção imediata de famílias]. Não me causaria espanto ver o dia da forte chuva nos próximos calendários de abril - dia 6 - como homenagem aos sobreviventes - ou mortos - da enchente no RJ... Me [nos] poupe...




Ah, sim. Ja ía esquecendo... Um poema que toca em alguns


Até que ponto...
... o ponto de partida
tem um ponto de
chegada

Um toque...
... na flor com espinhos
não representa
uma furada

O limão ...
... azedo
dá pra fazer
a "tal limonada"
A chuva...
... cai trazendo
esperança e
não desgraça?

Até que ponto...
... se dá
sem esperar
nada?
Até que ponto?
Não sei....

... Mas,
se descobrir,te conto...

... O conto...
... Que ...

... quando se conta,
aumenta
um ponto
...

[Por Taninha Nascimento]



Assista ainda:



[O pior é que o risco não acabou... A cada chuvisco o medo nas áreas de risco, continua...]




Por Taninha Nascimento


Leia a reportagem mais recente sobre as chuvas no estado do Rio de Janeiro [12/04]


Imagens copiadas do FESTER BLOGER 
Visite o blog e veja mais fotos.
   

01 abril, 2010

UM ROMÂNTICO CONSPIRADOR DA EDUCAÇÃO


Entrevista - Um romântico conspirador da educação
José Pacheco, mestre em Ciências da Educação e criador da Escola da Ponte.


“Aquilo que hoje funciona no Brasil, em termos de sistema educativo, é a lógica administrativa e burocrática. Todas as medidas que se tomam são inúteis e as leis que existem estão erradas. O Ministério da Educação só serve para consumir dinheiro”.

De jeito simples e fala mansa, o mestre em Ciências da Educação José Pacheco rompeu o modelo tradicional de educação na Escola da Ponte, há mais de 30 anos, em seu país natal, Portugal. A escola não tem salas de aulas, turmas, nem séries e o aluno decide o quê, como e com quem aprender. Zé da Ponte, como é mais conhecido, mora há dois anos no Brasil, na cidade de Nova Lima, região me¬¬tropolitana de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais.
Costuma dizer que vive mesmo é nas nuvens. No último ano, acumulou mais de 340 voos para visitar escolas, dar palestras e conhecer a educação brasileira. “Vim muito mais para aprender do que para ajudar”, diz. No pouco tempo que está em terras brasileiras, Zé da Ponte ajudou a criar um grupo de educadores brasileiros que se intitulam “Românticos Cons¬piradores da Educação”. Além das milhagens acumuladas, aproveitou as viagens para es¬¬crever dois livros de crônicas, o Pequeno Dicionário de Absurdos em Educação, da Artmed, e o Pequeno Dicionário das Uto¬pias da Educação, da Wak.

Liberdade responsável

Autonomia e liberdade podem definir como funciona a Escola da Ponte, localizada na Vila das Aves, a 37 quilômetros da cidade de Porto, em Portugal. Há 34 a escola está instalada numa área aberta, sem salas de aulas ou turmas. Os alunos são organizados em pequenos grupos com interesse comum, escolhem seus tutores e reúnem-se com seus professores em torno de um galpão. São eles que desenvolvem seus trabalhos.
De acordo com Zé da Ponte, a liberdade responsável move a Escola da Ponte. Os pais quando decidem matricular seus filhos, assinam um contrato de responsabilidades. Podem, inclusive, participar da direção da escola. A instituição também tem autonomia financeira perante o estado, podendo contratar e demitir professores e funcionários.

Transformação na rede

Uma rede de cerca de 600 educadores brasileiros realizou seu segundo encontro nacional em Curitiba, durante a Conferência Internacional de Cidades Inova¬doras. O grupo “Românticos Cons¬¬piradores pela Educação” existe há dois anos e surgiu da iniciativa do professor Zé da Ponte. Os “Românticos Conspi¬radores” dialogam sobre as possibilidades transformadoras de educar, na linha da autonomia de aprendizagem, educação integral e democrática.
Para Zé Pacheco, estão integradas ao grupo pessoas que transformaram suas escolas mas que seus trabalhos ainda não são visíveis. “Eles trocam figurinhas pela internet e se encontram uma vez por ano. Não ficam só na teoria, estão fazendo na prática muitas coisas boas. São pessoas que enxergam e fazem a educação de um outro modo”, diz.

Serviço:

Os debates dos “Românticos Conspiradores” podem ser acompanhados pela internet no endereço: http://romanticos-conspiradores.ning.com/
Pelo título das obras dá para perceber o que Zé da Ponte é na sua essência: um ferrenho questionador da estrutura de ensino tradicional. O mentor da Escola de Ponte acredita que o modelo atual das escolas precisa ser revisto e defende a extinção do Ministério da Educação. Zé da Ponte não concorda com as principais leis educacionais brasileiras e diz que é na própria escola que devem começar as transformações.
“Somos todos socialmente responsáveis. Deixei de estar sozinho numa sala de aula, dependendo de coordenador, diretor e ministro. Passei individualmente a ser responsável pelos atos do meu coletivo. A Escola da Ponte mostra que é possível realizar a utopia de acolher a todos e dar resposta a cada um”, diz.
Zé da Ponte esteve em Curitiba para participar da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras 2010, quando concedeu entrevista à Gazeta do Povo. Abaixo trechos da entrevista.

A Escola da Ponte quebrou com o modelo de escola que conhecemos. A ideia é acabar com as salas de aula e escolas da maneira que existem?

Este é o lado exótico, o mais visível. A Escola de Ponte não tem sala de aula, turma, ciclo, diretor, nada. Tem outras coisas que a torna uma das escolas mais estruturadas e organizadas que eu conheço. O essencial foi uma profunda renovação da cultura pessoal e profissional. Como consequência acabou com essa estrutura de turmas e salas de aulas que não servem para nada. Digo isso com todo respeito que tenho com as pessoas que trabalham desta maneira.

Isso quer dizer que o modelo de escola precisa ser repensado?

A Escola com “E” maiúsculo está condenada a desaparecer como modelo existente. Há mais de cem anos que está numa crise profunda e ninguém encontra uma solução. Essa “Escola” foi criada para suprir as necessidades sociais do século XIX. O modo como está organizada demonstra que está organizada para o insucesso, para o analfabetismo e o sofrimento. A Ponte, uma escola da rede pública estadual, mostrou que é possível ter responsabilidade perante o Estado, mas ser autônoma. Pode contratar e demitir, tem autonomia pedagógica e financeira. E esta escola que eu chamo de autônoma é assim porque não existe relação de poder hierárquico.

Essa transformação da Escola tem de partir de onde?

De cada escola. Não acredito em transformação a partir de medidas que venham de cima para baixo. Acredito no poder agregado ao local. As escolas não são iguais e por isso não há medidas políticas que possam contemplar a todas as escolas. Há muita diversidade. Sobretudo é uma mudança de cultura. Toda obra sobre a mudança da “Escola” está escrita. Falta mudar.

Você diz que encontrou muita coisa boa no Brasil relacionada à educação. O que foi?

O Brasil tem muitos bons educadores que a maioria dos brasileiros não o conhece. Cito Eurípedes Barsanulfo. Ninguém fala de Anísio Teixeira nesta terra. Inclusive pouco ou nada se faz sobre o legado de Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Lourenço Filho, Manoel Peixoto. A maioria conhece um Jean Piaget ou Lev Vygotski, dois fósseis europeus, mas não conhece o que tem aqui dentro do Brasil.

Numa entrevista a um jornal português você defendia a extinção do Ministério da Educação em Portugal. No Brasil você acha que deve ocorrer o mesmo?

Se queremos melhorar a educação brasileira, uma das primeiras coisas a ser feita é extinguir o Ministério da Educação. Com todo respeito que merecem aqueles que estão no Ministério da Educação, que são muito válidos, inteligentes, cultos e competentes. Não se trata disso, mas de acabar de uma vez por todas com uma máquina burocrática que não serve para nada. Só serve para manter as escolas sem desenvolvimento pedagógico. Aquilo que hoje funciona no Brasil, em termos de sistema educativo, é a lógica administrativa e burocrática. Todas as medidas que se to¬¬mam são inúteis e as leis que existem estão erradas. O Ministério da Educação só serve para consumir dinheiro.

Faltam recursos para a educação no Brasil?

O sistema educativo brasileiro não tem falta de recursos. O Brasil desperdiça. Isso também ocorre em Portugal. Fiz parte do Con¬selho Nacional de Educação de meu país. Discuti políticas educacionais com os ministros e quando me perguntavam qual a principal medida a ser adotada eu dizia: extinguir o Ministério da Educa¬ção. Pode-se criar um organismo ligeiro e simples, que acompanhe as políticas locais e que fiscalize o cumprimento da Constituição, no que diz respeito às escolas. Uma instituição tão burocratizada, tão pesada, não serve para nada a não ser para desperdiçar dinheiro público.

(Tatiana Duarte - educacao@gazetadopovo.com.br - 23/03/2010).