23 junho, 2010

A morte de Saramago - por Jayme Bueno

José Saramago


O Prof. Jayme faz parte de nossa equipe aqui no blog.  O mestre, além de dominar os conhecimentos da Literatura Brasileira, é profundo conhecedor da Literatura Portuguesa. Em seu blog, fez uma postagem imperdível!

Vale a pena conferir e aprender mais sobre José Saramago lendo o post: A morte de Saramago no blog do Prof. Jayme Bueno.


Uma degustação do post:


Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,

manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.

Então sabemos tudo do que foi e será.

O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, /

e dizem-se as palavras que a significam.

Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.

Com doçura.

Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites.

Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece /

e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela.

Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz.

Cada um de nós é por enquanto a vida.

Isso nos baste.



21 junho, 2010

A Morte de Saramago - por Daniel Osiecki

Na foto: José Saramago



Daniel Osiecki é um jovem professor de Literatura Brasileira, revisor de texto e escritor. Graduado em Letras e Especialista em Literatura Brasileira (mais precisamente em Moacyr Scliar).

Em seu blog, Távola Redonda, Daniel faz excelentes postagens e o qualifica como um "espaço para discussões sobre literatura, muito em especial a Literatura Portuguesa.Viagens poéticas e narrativas".

Por ocasião da morte de José Saramago, Daniel escreveu um belo e breve texto sobre o autor que merece ser lido por conter informações preciosas  - com a credibilidade de um leitor voraz; excelente professor e escritor que é Daniel Osiecki.

Segue o texto:



Nota-se a passagem do tempo quando os mais velhos morrem, e desta forma sabemos que caminhamos para o mesmo fim. É mais desalentador quando um grande mestre, próximo ou não, nos deixa.Caso de José Saramago, morto na última sexta-feira em sua casa em Lanzarote.



Saramago era um sujeito controverso, polêmico, muitas vezes incoerente, mas é inegável o fato dele ser um grande escritor. leia na íntegra aqui

15 junho, 2010

Futebol, teoria e prática

Maicon celebra primeiro gol do Brasil na Copa do Mundo 2010 - foto: Reuters



Sempre que eu escrevo aqui sobre futebol, tem umas senhoras que reclamam.

Acontece que, em primeiro lugar, eu adoro futebol. Em segundo, minha cara, se o Roberto DaMatta escreveu, se o Verissimo escreveu, se o Ubaldo escreveu e o pau não comeu, por que não eu? Viram?, estou até rimando.

É que eu tenho uma teoria sobre o nosso futebol paraguaio. Não sou homem de muitas teorias, sempre fui um prático. Mas há 30 anos, exatamente desde a Copa de 70, venho acompanhando a queda do nosso futebol. De lá para cá - exceção da seleção de 82 -, é sempre um sufoco assistir aos jogos da nossa seleção. Até contra o Panamá, país onde passa um canal no meio do campo, a gente ficou na agonia durante exatamente 61 minutos.

A minha teoria é a seguinte. Até 70, não havia substituições no jogo.

Machucou, saía e continuava com dez. Ali começou o imbróglio. Com as três substiuições, veio o banco de reservas. E com o banco, ele, o técnico. Deus.

Era aqui que eu queria chegar. Depois deixaram o Deus ficar de pé. E gritar.

Gritar palavrão, dar ordens, xingar, ameaçar, mandar fazer isso ou aquilo.

Sendo dono da coisa, da cabeça e do talento dos nossos meninos.

Ou seja, o técnico quer que o jogador faça o que ele quer e não o que o jogador sabe. Fico a imaginar um técnico gritando com o Garrincha, que dribrava para trás. A pedir para o Pelé não entrar pela direita. Teve um até que chegou a dizer que o Pelé estava ficando cego. Céus.

O jogador brasileiro tem aquele nível cultural que você conhece. É tímido, envergonhado, semi-analfabeto. Hoje, erram uma jogada e olham para o banco.

Já reparou? E, quando acertam, vão lá beijar o dono deles, o pai deles, o homem que pensa por eles.

A minha idéia é acabar com esse negócio de substituição e deixar os onze craques lá dentro. E eles se virarem entre eles. Eles perceberem com o talento que o verdadeiro Deus lhes deu e se ajeitarem. Vai voltar a criatividade e a ginga dos moleques canarinhos.

Eu não sei qual é a sua profissão. Mas imagine você trabalhando e um sujeito (que se julga superior a você, mas nunca fez aquilo) martelando no seu ouvido.

Fico imaginando eu aqui, escrevendo e um sujeito gritando ao meu lado:

- Olha a vírgula, porra! Olha a vírgula!!!

Sem saber onde é que eu ia terminar a frase.

- O parágrafo tá ficando grande! Corta! Corta!

- Tá usando muita reticência... Assim o leitor não agüenta. Olha o trema do agüenta!!!

- Crase, não! Você não sabe colocar crase. Não inventa!!! Escreva o feijão-com-arroz.

E quando eu dou uma paradinha para pensar, lá vem ele de novo:

- Pára de valorizar a palavra. Vai logo para a linha final e cruza uma exclamação.

Eu olho para ele e já não sei o que era mesmo que eu pretendia com a linha de cima.

Mas ele, ali na beira da mesa, gritando comigo. Dizendo palavrões que eu não posso colocar aqui. Eu começo a pensar numa frase bonita para correr até ele e dar um beijo. Ajeito o título.

- Isso é título que se apresente, rapaz!!! Muda o título. Mude o tipo. Use corrier, arial não está com nada. Olha o espaço! Olha o espaço, porra! Assim não vai dar. Olha o tempo. O pessoal da redação está ligando. Pensa na ilustração.

Já estou pensando em ser substituído. Estou cansado.

- Vamos cara, falta só um parágrafo. Vai mais para a esquerda, o texto tá meio reacionário. Olha a revisão. Jeito não é com g!!! Cobre o espaço!

Já pensou? Os jogadores devem ficar lá dentro com a mesma aflição. Não existe mais jogador. Existe aquele homem ali, que entende de tudo, que se veste bonito, fala bonito e - geralmente - é um tremendo de um mau-caráter e seu vocabulário se resume a palavrões e chavões.

Tirem aquele homem de dentro do campo, pelo amor de Deus, pelo amor e talento aos nossos craques. Ninguém trabalha sob pressão, com palpites.

Bem fazia o Feola, campeão de 58, que dormia nos treinos e deixava a garotada trabalhar com prazer.


o estado de s. paulo

15/08/2001

Mário Prata

04 junho, 2010

SOCIEDADE É INFORMAL. POR QUE USAR MESÓCLISES?

Sírio Possenti, professor associado do Departamento de Lingüística da Unicamp é colunista do “TERRA MAGAZINE” (http://terramagazine.terra.com.br/), do Bob Fernandes. Dia 27 de maio pp., escreveu interessante texto, que achei mais interessante ainda postar neste blog, pois parece-me bem pertinente. E sem mais detalhes, segue o texto na íntegra:

SOCIEDADE É INFORMAL.

POR QUE USAR MESÓCLISES?

Sírio Possenti
Este texto não tem nada, mas também tem tudo a ver com sugestão de traduzir "Call me" por "Me chame". Nada, porque não trata de tradução; tudo, porque comenta a incorporação de construções menos formais à linguagem literária. No caso do romance, lugar da encenação do plurilinguismo (coisa que todos poderiam ter visto, e que Bakhtin tematizou explicitamente), a coisa é mais tranquila. Mas há casos também na poesia.
Drummond de Andrade desafiou o cânone gramatical com seu "Tinha uma pedra no meio do caminho" e João Cabral fez o mesmo com "Joga-se os grãos na água do alguidar". Cabral aceitou "corrigir" a construção, que substituiu por "jogam-se" na edição da Aguilar (deve ter achado que "joga-se" era uma pedra no feijão...). No Google, as duas construções convivem. É impossível saber se são cópias ou "edições".
Esta nota tem a ver com uma notícia de jornal (espero que esta esteja correta!): lendo reportagem sobre o lançamento de edição especial de Alguma poesia, descobre-se (repito, se a informação for verdadeira) que Mário de Andrade, em carta, comentou elogiosamente a transgressão gramatical (sic!) no verso "O poeta chega na estação". Drummond respondeu que foi um cochilo, que ia corrigir. "Ainda não posso compreender os seus curiosos excessos. Aceitar tudo que vem do povo é uma tolice que nos leva ao regionalismo", escreveu a Mário não sei se Mário o aconselharia aceitar "tudo" o que vem do povo. Mário o convence a manter a regência como seguinte argumento: "Quem como você mostrou a coragem de reconhecer a evolução das artes até a atualização delas põe-se com isso em manifesta contradição consigo mesmo" (Folha de S. Paulo, 22/05/2010). Drummond, como se sabe, manteve a forma "popular". Que, aliás, não é regionalismo.
A única questão relevante, tanto no caso de Drummond quanto no de Cabral, é por que empregaram a forma "popular" e só se deram conta de que há um "erro" quando alguém fez a observação? Há uma só resposta, em termos de história da língua: é porque essas construções não são mais erros, já eram formas cultas naquele tempo, à luz da melhor e da mais rigorosa noção de padrão linguístico. Tanto não são erros - já não eram há quase cem anos - que dois escritores que não eram populares as empregaram. Achando que estavam escrevendo "certo".
Há um dado sociológico visível que poderia ser considerado para defender que nossa escrita seja menos arcaizante: a sociedade se tornou francamente informal. Quem espiar algum documentário que mostre o "maracanazo" verá a quantidade de homens de terno vendo um jogo de futebol. E não verá nenhuma mulher de calça comprida. Muito menos de bermuda. Hoje, elas vestem homens e mulheres. Ou todos usam jeans e camisetas.
Ninguém mais chama os pais de senhor e senhora. Por que temos que insistir em ênclises e em mesóclises?

Sírio Possenti é professor associado do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua, Os limites do discurso, Questões para analistas de discurso e Língua na Mídia.

FONTE:- http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4451566-EI8425,00.html
Autor da postagem:
Luiz de Almeida - Blog RETALHOS DO MODERNISMO