31 julho, 2010

Como "se saíram" os alunos brasileiros em 2009





No dia 5 de Julho de 2010, o Jornal ESTADÃO publicou uma matéria sobre o desempenho dos alunos brasileiros em 2009 com os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que mostra o desempenho dos alunos do ensino básico. Segundo a matéria sobre os resultados do Ideb 2009, todos os Estados alcançaram a meta dos anos iniciais do ensino fundamental, levando-se em conta as taxas de aprovação, abandono escolar e desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e na Prova Brasil. A nota variou de 0 a 10.

Na região norte, três Estados obtiveram resultados aquém do projetado pelo MEC nos anos finais do ensino fundamental. Já o melhor resultado relativo foi do Mato Grosso. E, no ensino médio, Roraima, Piauí, Sergipe, Espírito Santo e Rio de Janeiro não alcançaram suas metas de 2009.


No dia 01 de julho de 2010, o mesmo jornal já havia publicado a matéria dizendo que o "País avança no ensino fundamental e estaciona no médio." Conforme o índice da educação básica que foi divulgado pelo MEC em Brasília.

Leia a notícia na íntregra aqui.

O que eu posso dizer enquanto Educadora é tudo muito pouco e que há muito que se fazer; sobretudo no que diz respeito a valorização do professor e condições de trabalho. Digo e repito sempre: há que se gastar dinheiro com a Educação - sem economia, sem desvios de verbas. Enquanto isto não for prioridade, estaremos num patamar muito baixo e as conquistas serão gotas num oceano de dificuldades. Gotas preciosas, claro! Há muita coisa boa acontecendo nas salas de aula por "obra e graça" do professor dedicado e que leva sua profissão a sério, se envolvendo em todo um processo pedagógico trabalhoso que começa com o planejamento de suas ações, traçando objetivos. Professor sério não "improvisa" uma aula. Ele se prepara para possíveis situações que possam surgir. E, são estes, os verdadeiros "heróis e heroínas" anônimos de nossa sociedade, que lidam com todo o reflexo desta em sua sala de aula e dão conta do recado.


13 julho, 2010

CECÍLIA MEIRELES – EDUCADORA

Este Blog geralmente apresenta-se com a imagem de um autor da nossa literatura. Tenho observado a presença frequente da poeta Cecília Meireles. Ela é digna merecedora dessa homenagem, por sua vida, sua poesia e também pela sua ação como educadora.
Por tudo isso, enfocaremos nesta postagem a Cecília Meireles Educadora, embora para tanto não possamos esquecer a grande poetisa que foi. Em suas obras há sempre uma preocupação de ensinar, de educar. É importante referir a obras como O Romanceiro da Inconfidência, escrito na década de 1940 e publicado em 1953; e aquela coletânea de poemas voltada mais diretamente para as crianças, Ou Isto ou Aquilo, de 1964.

1. Traços biográficos
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) nasceu no Rio de Janeiro. Órfã da mãe aos três anos. Seu pai havia falecido antes mesmo do nascimento de Cecília. Criou-se com sua avó. Sobre essas mortes, escreveria: acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno”. Aos 20 anos, Cecília publicou a sua primeira obra em poesia, Espectro. Aos 22, Casa-se com o pintor português Fernando Correia Dias, que se suicida em 1935. Casa-se então com o professor Heitor Vinícius da Silveira Grilo.
Eterna viajante, percorreu diversos destinos na América, Europa, Àsia e África. Em alguns desses locais, lecionou, ou fez conferências sobre literatura e teoria literária. Sobre suas viagens ficaram famosas as suas crônicas, publicadas em três volumes.
Cecília Meireles deixou também cinco volumes de crônicas sobre a Educação. A sua obra em prosa encontra-se publicada em seis volumes.
O seu livro de poemas Viagem, de 1939, recebeu da Academia Brasileira de Letras o Prêmio Olavo Bilac.

2. Cecília Meireles e a Escola Nova
Na ação educativa de Cecília está presente sem dúvida a influência da chamada Escola Nova, movimento pedagógico dos anos 30 e 60 no Brasil. Ela é uma das signatárias do Manifesto dos Pioneiros, de 1932. Juntamente com os líderes Fernando Azevedo, Lourenço Filho e Anísio Teixeira, Cecília empenhou-se na militância pela educação no Brasil.
A Escola Nova, um movimento de renovação do ensino que foi especialmente forte na Europa, na América e no Brasil, na primeira metade do século XX . Foi chamada também de Escola Ativa e Escola Progressiva. Os seus principais influenciadores foram: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), os pedagogos Heinrich Pestalozzi (1746-1827) e Freidrich Fröebel (1782-1852). Na Europa, foram importantes, o psicólogo Edouard Claparède (1873-1940) e o educador Adolphe Ferrière (1879-1960). Porém, é reconhecido como o principal filósofo, pedagogo e educador do movimento, sem dúvida, o norte-americano John Dewey (1859-1952).
No Brasil, talvez o primeiro a lutar pelas ideias da nova escola tenha sido Rui Barbosa (1849-1923). Na década de 1930, surge o grupo que assinou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, dos quais, como já ressaltamos, foram Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-1971), grandes humanistas, filósofos da educação e pedagogos entusiasmados. O pensamento de Dewey unia a todos, a escola deveria ser uma nova comunidade e a educação deveria voltar-se para as atividades próprias da vida. Vida e Educação é uma das principais obras desse autor norte-americano. Consta da coletânea Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 106-179.

3. Um depoimento:
No final dos anos 50 e início de 1960, a influência da Escola Nova ainda era grande nas Universidades brasileiras. Como aluno do curso de Didática, assim chamado na época, e que complementava o Bacharelado e atribuía ao formado o título de Licenciado, eu mesmo cheguei a redigir um trabalho baseado nessa obra, quando o saudoso professor Albano Wolski solicitou uma monografia sobre Educação e Trabalho. O livro de capa verde mantém-se até hoje em minha biblioteca.
4. A cronista Educadora
Como cronista da Educação,assinou colunas nos principais períódicos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Nessa função de jornalista teve de enfrentar as forças ideológica do então governo Getúlio Vargas, a quem ela chamou de Senhor Ditador. Publicou a Página de Educação de 1930 a 1933. Foram mais de mil artigos em que defendia mais liberdade na educação. Queria que as escolas fossem mistas com a presença de ambos os sexos e não aquela separação que existia. Lutava também pela escola pública e não aceitava que as escolas tivessem de ser todas religiosas, como era naquela época.
Cecília voltou mais tarde a atuar em outros órgãos, como A Nação, A Manhã. Em assuntos literários ainda atuou ainda no Diário de Notícias e na Folha de S. Paulo. Portanto, colaborou nos principais jornais da época e alguns deles ainda importantes em nossos dias.

5. Um segundo depoimento:
Sobre a frequencia de meninos e meninas em ambientes separados, aqui em Curitiba, permanece um retrato vivo da situação. É o prédio da Escola Xavier da Silva, na Av. Silva Jardim, no centro, que ainda funciona em um bonito edifício daqueles tempos de 1920 e 1930. Lá está gravado na própria construção em relevo um dos blocos: ALA MASCULINA; em outro, ALA FEMININA. Para os mais jovens, hoje isso soa totalmente inusitado e inverossímil.
Em textos sobre essa Escola, consta, por exemplo:
“Em 1903, o Grupo Escolar Dr. Xavier da Silva foi inaugurado. Com seis salas de aula, tinha por objetivo atender as quatro séries primárias, com seções separadas para meninos e meninas e, para isso, seriam três salas para cada sexo.”
(http://www.oei.es/pdf2/rbep_224_arquitetura_grupos_escolares.pdf. Acesso em 13.jul..2010)
e
"Estado do Paraná – 1914 - Grupos escolares: Função - Série
Grupo Escolar Xavier da Silva
Seção feminina
Maria Rosa G. do Nascimento - Diretora
Leonor Machado Busse - Professora da 1.ª série
Carolina Pinto Moreira - Professora da 2.ª série
Anna Pereira Marques - Professora da 2.ª série
Seção masculina
Verissimo Antonio de Sousa - Diretor
Lindolpho Pires da R. Pombo - Professor da 3.ª série
Brasilio Ovidio da Costa - Professor da 2.ª série
Aristeu Corrêa de Bittencourt - Professor da 1.ª série"
A educação naquele tempo era assim: perfeita separação dos alunos por sexo.

TEXTOS:
I – Fragmento de uma crônica
Mas, enquanto uma reforma do Ensino Primário, como a que nos deixou o governo findo, nos promete - embora da sombra e da frialdade a que a condenaram - uma era nova, e de real importância, para a nossa nacionalidade, o regime atual, que tanto tem invocado a Liberdade como sua padroeira, nos coloca nas velhas situações de rotina, de cativeiro e de atraso que aos olhos atônitos do mundo proclamarão, só por si, o formidável fracasso da nossa revolução... Veio o sr. Francisco Campos com o seu feixe de reformas na mão. E, em cada feixe, pontudos espinhos de taxas... E esperávamos uma reforma de finalidades, de ideologia, de democratização máxima do ensino, da escola única - todas essas coisas que a gente precisa conhecer antes de ser ministro da educação...Depois veio o decretozinho do ensino religioso. Um decretozinho provinciano, para agradar alguns curas, e atrair algumas ovelhas...decreto em que fermentam os mais nocivos efeitos para a nossa pátria e para a humanidade. Chama-se a isto ser liberal. Fala-se da religião como de um movimento de liberdade. Liberdade! Oh! mas, afinal, sejamos coerentes. Façamos o déspota. Façamos o vizir. Façamos, de certo modo, o César do século 20. Mas conservemos a significação dos nomes!

(MEIRELES,Cecília. Página de Educação, Diário de Notícias, 6. maio.1931 – Fragmento. http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/cec_esp2.htm - Acesso em 13 jul..2010)

II - Edmundo, o Céptico
Naquele tempo, nós não sabiamos o que fosse cepticismo. Mas Edmundo era céptico. As pessoas aborreciam-se e chamavam-no de teimoso. Era uma grande injustiça e uma definição errada.
Ele queria quebrar com os dentes os caroços de ameixa, para chupar um melzinho que há lá dentro. As pessoas diziam-lhe que os caroços eram mais duros que os seus dentes. Ele quebrou os dentes com a verificação. Mas verificou. E nós todos aprendemos à sua custa. (O cepticismo também tem o seu valor!)
Disseram-lhe que, mergulhando de cabeça na pipa d'água do quintal, podia morrer afogado. Não se assustou com a idéia da morte: queria saber é se lhe diziam a verdade. E só não morreu porque o jardineiro andava perto.
Na lição de catecismo, quando lhe disseram que os sábios desprezam os bens deste mundo, ele perguntou lá do fundo da sala: "E o rei Salomão?" Foi preciso a professora fazer uma conferência sobre o assunto; e ele não saiu convencido. Dizia: “Só vendo.” E em certas ocasiões, depois de lhe mostrarem tudo o que queria ver, ainda duvidava. “Talvez eu não tenha visto direito. Eles sempre atrapalham.” (Eles eram os adultos.)
Edmundo foi aluno muito difícil. Até os colegas perdiam a paciência com as suas dúvidas. Alguém devia ter tentado enganá-lo, um dia, para que ele assim desconfiasse de tudo e de todos. Mas de si, não; pois foi a primeira pessoa que me disse estar a ponto de inventar o moto contínuo, invenção que naquele tempo andava muito em moda, mais ou menos como, hoje, as aventuras espaciais.
Edmundo estava sempre em guarda contra os adultos: eram os nossos permanentes adversários. Só diziam mentiras. Tinham a força ao seu dispor (representada por várias formas de agressão, da palmada ao quarto escuro, passando por várias etapas muito variadas). Edmundo reconhecia a sua inutilidade de lutar; mas tinha o brio de não se deixar vencer facilmente.
Numa festa de aniversário, apareceu, entre números de piano e canto (ah! delícias dos saraus de outrora!), apareceu um mágico com a sua cartola, o seu lenço, bigodes retorcidos e flor na lapela. Nenhum de nós se importaria muito com a verdade: era tão engraçado ver saírem cinquenta fitas de dentro de uma só... e o copo d’água ficar cheio de vinho...
Edmundo resistiu um pouco. Depois, achou que todos estávamos ficando bobos demais. Disse: “Eu não acredito!”. Foi mexer no arsenal do mágico e não pudemos ver mais as moedas entrarem por um ouvido e saírem pelo outro, nem da cartola vazia debandar um pombo voando... (Edmundo estragava tudo. Edmundo não admitia a mentira. Edmundo morreu cedo. E quem sabe, meu Deus, com que verdades?).

(Publicado em Quadrante 2. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962, p. 122).

III – Ou Isto ou Aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!


Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.


É uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.


Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!


Não sei se brinque, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.


Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

CONCLUSÃO
Aí estão textos que falam por si e demonstram a atividade de Cecília Meireles como educadora. Educadora, sim, porém sem nunca ter abandonado o estilo e o espírito da grande poeta que sempre foi, lírica, sensível, atuante.