31 março, 2009

A questão da observação.


Todas as pessoas sensíveis, não apenas os Educadores, sabem que a observação é a chave da "avaliação". Esta avaliação está entre aspas porque não diz respeito a uma avaliação crítica apenas. Mas a uma avaliação que busca conhecer, saber melhor dos detalhes, que fazem toda a diferença entre uma e outra criatura humana. Seja ela criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso.
A observação, especificamente das crianças, num momento de lazer; num momento lúdico - principalmente por serem crianças - as revelam tais como são, sem artifício algum; inibidas, desinibidas, arredias, sociaveis, com espírito de liderança, apáticas e, também, com suas genialidades que, sem uma observação atenta, tais peculiaridades passam desapercebidas ...
O autor da crônica que vou postar captou toda uma questão Educacional Pedagógica - importantíssima - sem nem se dar conta, pois sendo um cronista, seu olhar é observador por natureza.
Não existe ensino aprendizagem sem o recurso da observação. O professor pode errar feio em sua avaliação, planejamento e estratégias.
Tal assunto me remete ao texto de Mark Twain : "O camelo extraviado" - que postei no meu outro blog; No rastro da Poesia... http://norastrodapoesia.blogspot.com/2008/07/o-camelo-extraviado.html
Vamos, então, a Crônica da Semana do Café Impresso - do Cronista Antonio Caetano.
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Domingo, 29 de Março de 2009
O show do Artur
O Artur é uma figuraça! Deve ter uns três anos, mas o seu prazer não é andar nessas máquinas infantis que se espalham pelos shoppings. Não! Ele gosta é de vê-las funcionando. A mãe coloca a ficha e o Artur começa a correr em volta da máquina sob o olhar preocupado da mãe, temerosa que o menino acabe sofrendo um acidente. Mas ele parece atento aos riscos pois, ao mesmo tempo que se curva e agacha e espicha todo para acompanhar os detalhes do movimento da nave espacial que sobe e desce e vai e vem, esquerda e direita, para cima e pra baixo, olhando-a por todos os ângulos possíveis, o Artur também foge dela e se desvia e esquiva, enquanto comenta com a mãe numa linguagem muito expressiva, cheia de exclamações de surpresa e êxtase, mas que só eles dois entendem. Quem passa e calha de prestar atenção na cena ou não entende nada ou pára discretamente para assistir o show do Artur. Outro guri chega com o pai e os dois parecem dispostos a esperar pacientemente a sua vez, mas a mãe do Artur logo oferece: - Se você quiser, pode colocar o seu filho no brinquedo... O que o meu gosta mesmo é de ficar olhando... Penso sentir certo tom de resignada estranheza na voz da mãe de Artur, como se o gosto do menino fosse de uma bizarrice incompreensível... Talvez seja só um pouco de enfado por ter de novamente repetir a mesma oferta e a mesma explicação, o espírito já pronto para responder a alguma réplica cheia de ironia ou espanto. Mas o pai do outro menino simplesmente atende a sugestão da mãe do Artur e coloca o filho na cabine da nave - para alegria redobrada do Artur que agora também se dirige ao piloto em sua linguagem alienígena! O outro menino está visivelmente constrangido com a quebra da ordem previsível e olha para o pai com a expressão universal de quem não está entendendo nada. E eu, ali ao lado, tirando uma xerox, encantado por ter o privilégio de testemunhar os primeiros passos de um gênio. Porque [...]
Você pode continuar a leitura no Café Impresso :
Podem comentar aqui ou lá, tanto faz.
Para os educadores ou interessados no assunto, este texto dá um "bom caldo".
Grande beijo,
Taninha

28 março, 2009

Prisões especiais

Olá amigos!

Vocês acham que alguém que se iguala aos criminosos - como um criminoso - deve ter direitos especiais porque teve acesso à cultura, ou melhor, aos estudos e obteve um diploma de nível superior??

A Justiça é justa neste sentido?

Achei importante o artigo de Carlos Heitor Cony e trouxe o assusnto para provocar, quem sabe, um debate.

Abraços!!
Taninha


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Carlos Heitor Cony


Entrou em discussão o caso das prisões especiais. Pelas novas normas, elas serão extintas genericamente mas as exceções são tais e tantas que o privilégio continuará sendo adotado na prática. Resumindo: só serão encaminhados aos presídios e celas de delegacia aqueles que não têm costas quentes.
Apesar de minha ignorância em todas as matérias, amplio a ignorância pessoal metendo a colher em mingau que não pretendo comer. Dito isto, direi mais. Segundo recente decisão da Justiça, o réu só é considerado criminoso após o julgamento do último recurso a que terá direito. Acontece que o réu pode ser qualquer um, do presidente da República ao empurrador do carro alegórico da Beija Flor. Condenados em última instância, tanto a autoridade como o operário perdem o cargo respectivo, retornam à situação de cidadãos comuns, sujeitos a lei comum, que pune com prisão proporcional ao crime cometido.
Se um presidente da República matar ou roubar, uma vez condenado, perde a condição de autoridade, é destituído do cargo e como cidadão comum sujeito às mesmas penas e condições de qualquer outro criminoso. Quem irá para a cadeia não mais será um presidente da República, mas um criminoso comum.
O mesmo raciocínio se aplica aos ministros, que são cidadãos comuns exercendo provisoriamente um cargo público do qual podem ser destituídos por diversos motivos, inclusive por ter cometido crime comum.
A prisão especial estabelece na prática um privilégio que contraria o princípio básico de que todos são iguais perante a lei. Evidente que, em caso de prisão preventiva, o princípio da pena pode ser flexibilizado até que venha a sentença definitiva. Mas uma vez proferida por quem de direito, não dá motivo para a excessão.

Folha de S.Paulo (SP) 15/3/2009

14 março, 2009

Efeito Perverso


Arnaldo Niskier

Para muitos, o assistencialismo é uma prática diversionista, pois camufla as necessidades reais profundas da nossa sociedade. É sempre difícil ao observador criticar os seus efeitos imediatos. Veja-se o caso do Bolsa-Família, de que tanto se orgulha o governo Lula. Há mais gente se alimentando, sobretudo nos estamentos mais pobres da população – e isso para os pragmáticos é o que interessa. No entanto, isso tudo tem um caráter eminentemente efêmero. Pode acabar com uma penada oficial – e o que restará? Possivelmente, mais gente revoltada, dada a perversidade do sistema implantado nos últimos anos.
Há sintomas de que a evasão no ensino médio, especialmente no Norte e no Nordeste, pode estar associada a essa ilusão de atendimento. Famílias recebem R$ 130 e desestimulam os jovens em relação aos estudos, dando preferência ao trabalho precoce (quando existe) ou até mesmo demonstram leniência quanto ao afastamento da escola, sem compreender a sua importância para o futuro dessa geração de brasileiros. Pesquisas estão sendo feitas, mas ainda são incipientes.
A educação brasileira, universo de 60 milhões de pessoas, vive de espasmos. Tivemos a fase de crescimento do ensino fundamental. Agora, é a vez da "revolução" na educação média. Pelo menos, é o que anuncia o MEC.
Uma das inovações pretendidas é a introdução do módulo semipresencial, com o limite de 20% da carga horária total. A medida, para ser adotada nas redes pública e privada, precisa de amparo legal. Depende de autorização das respectivas Secretarias Estaduais de Educação, para a oferta de módulos complementares de estudos, com ênfase nas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC).
Na tarefa de reforço aos conhecimentos dos alunos, isso ainda não é uma garantia plena. Se as aulas forem mal dadas? Mas essa janela poderá significar um avanço apreciável, se bem conduzidas as novas tecnologias. Será uma sacudida nos currículos convencionais, o que advogamos há muito tempo. Aulas expositivas não são exemplo de mesmice? Fala-se também em exaustão do modelo.
Sabemos que no Brasil há 3,3 milhões de estudantes no ensino médio, com um dado trágico: a metade não conclui os estudos. Por quê? A escola não atrai?
Quando os olhos se voltam para a qualidade, temos outro dado aterrador: 50% dos matriculados, nesse nível, frequentam o ensino noturno, com a sua reconhecida precariedade. Se a Sociedade do Conhecimento exige 12 anos de boa escolaridade, temos muito o que se fazer. Há premente necessidade de valorização de professores e diretores, estes em geral entregues ao deus-dará. Quando o ensino é profissionalizante (só 8% das escolas de nível médio têm essa característica), os cuidados devem ser ainda mais especiais.
Aulas de redação e reforço são aconselháveis, aproveitando-se o avanço tecnológico assegurado pela internet rápida, presente em cerca de 10 mil escolas públicas. O emprego da educação à distância, permitido por lei, vale para casos emergenciais ou de complementação de estudos. Isso tudo merece muita reflexão.


Jornal do Commercio (PE) 13/3/2009