28 fevereiro, 2009

Alexandre Spinelli


Alexandre Spinelli,
é um escritor de Porto Alegre - RS , 38 anos, que pode se autodefinir assim: "A vida, sem nome, sem memória, estava sozinha. Tinha mãos, mas não tinha em quem tocar. Tinha boca, mas não tinha com quem falar. A vida era uma, e sendo uma era nenhuma.Então o desejo disparou sua flecha. E a flecha do desejo partiu a vida pela metade, e a vida tornou-se duas.As duas metades se encontraram e riram. Ao se ver, riam; e, ao se tocar, também." Eduardo Galeano[1]. Em seu trabalho de escritor, escreve poesias, contos, crônicas e textos teatrais[2]. Uma de suas crônicas me ecantou. Sua sensibilidade achou em minha subjetividade uma espécie de catarse. E, também, uma chamada de atenção aos educadores para que, além de proporem a arte, proponham também o respeito a esta tão importante forma de linguagem que sai do cerne daquele que se propõe a fazê-la com seriedade. Vaias e risos cruéis só desestimulam a criatividade. Na infância é algo muito comum. Mas, pode acarretar danos psicológicos para uma vida inteira. Nós mesmo - adultos - nos ressentimos dos comentários irônicos e maldosos... E, principalmente, da arrogâcia dos que se acham muito melhores e nos ignoram. Inclusive, falo dos famosos. Pois, há na internet talentos a olhos vistos que são desconsiderados por pessoas que têm poder na mídia de trazerem tais artistas ao mundo aqui fora. Porém, não o fazem... Enfim... Passemos à belíssima e poética crônica de Alexandre Spinelli.
O Palhaço Nu




O palhaço perdeu o nariz e se sentiu nu. Estava ali, sozinho, no centro do palco, luzes nele, quando se viu assim: nu, sem o nariz. Nunca a platéia fora tão grande, nunca tantos olhares se dirigiram para ele. E ele ali, nu, e a platéia e as luzes e o palco enorme à sua volta. E ele, centro da vergonha. E riam e todos riam e riam muito. E ele não achava graça alguma. Só vergonha e constrangimento. E riam às gargalhadas dele. Quanto maior seu constrangimento, quando maior sua vergonha, mais riam. Ele só fazia esconder seu nariz com as mãos, como Adão. E se sentia tão nu, ali no centro, mãos cruzadas sobre o nariz, que se viu trançando as pernas, encolhido: algo além do sexo estava exposto. Estava ali, totalmente desnudo e, em troca, recebia risos, os risos que ele nunca quisera. Já sem saber como sair daquela situação, viu uma criança escapar da platéia, correr ao seu encontro e lhe pular nos braços. E foi obrigado a tirar as mãos do rosto, para que a menina não caísse e, assim, lhe pegou no colo. Ela o olhou bem dentro dos olhos e sorriu: - Sr. Palhaço, o senhor não precisa ter vergonha. Nós te amamos além do nariz. Não é ele que te faz palhaço. Ele sorriu, meio desapontado, constrangido, sorriu. Ela subiu as mãozinhas até seu nariz, para lhe tapar. Suas mãos formaram uma conchinha sobre ele. Bem redondinha. Depois lhe olhou novamente e sorriu. Suas mãos eras vermelhas, brilhantes, seus olhos também. - Palhaço, vai, ria, faça com que riam contigo, da tua arte e nunca mais de ti, da tua vergonha. E, enquanto falava, ela foi sumindo. Restaram suas mãozinhas vermelhas, restaram seus olhinhos, sempre à sua frente. Sempre que hesitava, os olhinhos da menina anjo estavam ali, sorrindo, incentivando, lembrando que ele devia seguir adiante. E o palhaço sorriu e riu e gargalhou. E foi tanta alegria, que toda platéia chorou.
http://escritosporescrever.blogspot.com/ Alexandre Spinelli visite o site

[1] Texto que consta em seu perfil do Orkut.
[2]Material que consta no site do escritor.
Agradeço a Alexandre a autorização da postagem em meu blog. E, convido-os a visitarem o site do escritor.

20 fevereiro, 2009

Leitura e Pobreza



Sou leitora assídua do cronista Antonio Caetano. Antonio mantém seu blog há 10 anos, o Café Impresso. Hoje li este texto e achei interessante postá-lo aqui, pois - de fato - trata-se de uma verdade... Porém, observações podem e devem ser feitas.


Leitura e pobreza


Antonio Caetano


Uma das maiores tolices sobre o baixo índice de leitura dos brasileiros ouvi agora na TV, num documentário da TVE sobre a biblioteca de José Mindlin, foi dita por Antonio Candido. Segundo ele, o brasileiro lê pouco porque o país é economicamente injusto.
Depois até gostaria de pensar mais longamente sobre as causas da aversão à leitura dos brasileiros, mas a falta de dinheiro é a menor delas. Cito a mim como exemplo: há anos que só compro livros em sebo. Raramente gasto mais do que 20 reais em um livro, preço pago por uma edição em capa dura de Os Lusíadas, publicada como parte das comemorações do sesquicentenário da Independência. Mas [...]



Você poderá continuar a leitura no blog "Cafe Impresso" do cronista Antonio Caetano:



http://cafeimpresso.blogspot.com/2009/02/leitura-e-pobreza.html

13 fevereiro, 2009

HF nas "Cordas de Correspondência (releitura)"


Hercília Fernandes
.



Autora de versos, imagens e canções. Professora no curso de Pedagogia (CERES / UFRN); Mestra em Educação (PPGED / UFRN) e Especialista em Ed. Infantil (UFRN).
É, resumindo, uma grande educadora e poetisa desse Brasilzão de meu Deus. De Caicó – RN . Cidade onde nasceu e passou sua infância, adolescência e mocidade; lugar onde vive.
Hercília é uma dessas gratas surpresas que a internet nos reserva. Somos amigas. Aprendo muito com ela sobre Literatura, Poesia e Educação. Nunca nos encontramos pessoalmente, mas nutrimos um carinho enorme, uma pela outra, como se fôssemos duas irmãs. Carinho e respeito.
Sou fã de carteirinha de HF e tenho todos os seus livros já publicados e ainda um CD com seus poemas traduzidos em canções. Lindo demais! Poemas em canções que falam com delicadeza e beleza das coisas do nosso lindo Nordeste.
Esta breve Biografia é para falar de sua postagem “Cordas de Correspondência (releitura); que se encontra em seu blog HF diante do espelho.
Em conversa informal, Hercília fala que o poema discute "paradigmas e liberdade de expressão na criação", através de uma abordagem histórica e da adoção de uma linguagem poética, cujo objetivo é levar o leitor à reflexão dos consensos e preconceitos existentes nos valores dos escritores. Já a linguagem, no poema, busca unir formalidade e ruptura a qual - exatamente - pretende acentuar que ambas não são divergentes, porém os valores sobre como se pensam os padrões de criação é que precisam e devem ser repensados; como, por exemplo, no tocante à formalidade da linguagem e à métrica, no uso de rimas e à valorização da oralidade. A ruptura, por sua vez, acontece na irregularidade dos versos, na ausência de vírgulas, letras maiúsculas, etc... Sobretudo na apresentação de um flexível olhar sob o processo criativo aliado a antigas fórmulas de composição, como o uso de aliterações que causa movimento, ritmo e leveza lúdica ao poema.
Na exposição poética do tema, o canal de comunicação é o próprio fazer metalinguístico, já que os versos pontuam, historicamente, os valores inerentes à criação literária, estabelecendo analogias com algumas características existentes nas correntes literárias brasileiras.
Convém ressaltar que essas cordas de correspondência é uma síntese de diálogos travados com Fernando Cisco Zappa - no blog Novidades & Velharias. Zappa é formado em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, reside em Belo Horizonte, e difunde sua prosa e poesia no blog Cisco Zappa. Passemos ao poema:

Cordas de Correspondência (releitura)
(Para todos os leitores e poetas que por essas águas repousam os olhos).
nessas cordas de correspondência
fervilha formalidade em padrões de literariedade
seja de ruptura ou de tradição
desde que não se reprimam possibilidades
e se afirmem ditaduras com normas obscuras
de uma entulhada convenção


o que se busca é a existência da palavra
com letras alvas / obtusas ou à bastão
na voz do lírico / do filósofo / do telúrico /
do profeta ou do pagão


pois que venham os aluísios / os machados / os fabrícios
e os freis da santa rita durão

os simbolistas com chumaços de fumaça / de sumos /
de uma amálgama ou dulcíssima digestão

os modernistas / os regionalistas / com seus travos e desagravos
nas espingardas / nas alpargatas da Revolução

e os neoconcretistas com ausência de verso / de metro
e anuência de berro de significação


pois que nessas cordas de correspondência...
só se nega a linearidade
da opressão!

(Hercília Fernandes)








Bem, eu enquanto educadora, fiquei maravilhada com essa "prosa" entre os dois poetas e, comentei o seguinte:

"Oi, amiga Hercília. Diante de um texto assim, só me resta aplaudir e, de pé... Você simplesmente conseguiu reunir num só poema tantos e tantos temas e conceitos acerca da LINGUAGEM que, um bom seminário, em um só dia, não daria conta. É um hipertexto sem links. Uma associação de idéias e analogias em versos. Transmitir conhecimento usando a poesia é espetacular. O texto é riquíssimo. Brilhante, amiga. Dá orgulho ser Educadora e saber que no Brasil há profissionais assim. Parabéns! Grande abraço, Taninha."


Não posso deixar de parabenizar também o poeta Fernando Cisco Zappa pela visão de linguagem e ludicidade de seus poemas.


Abraços fraternos a ambos,
Taninha Nascimento.

11 fevereiro, 2009

Senhor das letras

Dedico este texto aos , também mestres, Hercília Fernandes e Jayme Bueno e ao amigo Sidney por terem me incentivado a continuar com os meus blogs.

É o primeiro texto que posto desde o falecimento de meu pai. Fato que me deixou profundamente abatida e sem ânimo para fazer este trabalho - que apesar de amador - despende tempo e dedicação.
Não me considero nem poetisa nem escritora, mas tudo que escrevi até hoje foi com amor e sinceridade. Meus amigos me mostraram que é isso que importa. Então, estou recomeçando pelo blog No Rastro da Educação que, na verdade, tem mais textos escritos por amigos colaboradores e, textos que leio e acho que serão do interesse dos da área [e simpatizantes, rs].

Não tenho muitos amigos, mas os que tenho me são caros e raros. Obrigada a estes citados e aos demais que , de alguma forma, tentaram me consolar dessa dor terrível que é a da perda de um ente tão amado e querido.

Taninha
Senhor das letras
Evanildo Bechara tinha 11 anos quando cometeu seu primeiro erro de tradução. Viajando de Pernambuco para o Rio de Janeiro, de navio, o garoto que se tornaria um dos gramáticos mais famosos do Brasil fez uma parada em Salvador.
Entrou num restaurante e pediu um vatapá. O garçom perguntou como ele queria o prato. Bechara respondeu: "bem quentinho", como era costume fazer-se em sua terra para determinar a temperatura da comida. Acabou tendo de engolir um bocado com muita pimenta. Foi então que as lágrimas brotaram de seus olhos.
"Aprendi na pele que "bem quentinho", na Bahia, era "bem apimentado". Por conta desse episódio e de outros que vivi quando minha família me mandou para o Rio para estudar, passei a me interessar pelas diferenças que a língua portuguesa tem em diferentes lugares. Aí virei professor, viajei, dei aulas no exterior, lancei meus livros e cheguei aqui", resume.
Bechara, 80, hoje ocupa a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 2000, e tem uma dura tarefa pela frente. A partir de 1º de janeiro, quando as regras do Novo Acordo Ortográfico entrarem em vigor em oito nações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, será ele a autoridade máxima no Brasil para decidir as possíveis querelas e pendências com relação ao modo como os brasileiros terão de passar a escrever.
"Não me sinto confortável nessa posição. É muito incômodo. E é claro que a interpretação que fiz está sujeita a erros. Só não erra quem não faz", disse em entrevista à Folha, na sede da instituição, no Rio.As regras têm como objetivo unificar as diferentes grafias que o português tem nos países em que é língua oficial.
Elas começarão a ser aplicadas em janeiro de 2009, mas as atuais continuarão sendo aceitas até dezembro de 2012.
No caso brasileiro, as principais mudanças serão a eliminação de alguns acentos e do trema e a adoção de outras regras para a hifenização (leia ao lado). "Tem gente fazendo tempestade em copo d’água. Já passamos por cinco reformas e nunca houve um grande trauma. E mais, o Brasil sempre foi quem mais cedeu até hoje. Nesta reforma, está acontecendo o contrário, os outros países, Portugal principalmente, é que estão cedendo mais", diz.
De todas as mudanças, as que regulam o uso do hífen têm causado mais polêmica. Bechara explica que a idéia, de um modo geral, foi a de "suavizar" sua utilização. "Como um homem comum, que não é um gramático nem tem formação técnica sobre a língua, pode saber, por exemplo, que uma expressão é um substantivo que em outros casos pode ter outra função? Ao tirarmos os hífens, estamos facilitando a sua vida."
Contexto
O gramático explica que o espírito das novas regras é deixar que o contexto explique aquilo que a ortografia não alcança.
É o caso, por exemplo, da contestada retirada de acento de "pára", do verbo "parar".Como diferenciá-lo da preposição "para"? "Bem, quando se diz "manifestação para avenida", fica bastante claro que se trata do verbo, porque os outros elementos na frase levam a essa dedução", diz.
O caso dos ditongos que perdem o acento, como "idéia", também causaram estranhamento. "Não é possível termos duas grafias diferentes para o mesmo tipo de formação. Por que "aldeia" não tem e "idéia", sim?" Bechara acha que a retirada do acento não vai confundir, por exemplo, crianças em processo de alfabetização. "O primeiro aprendizado de uma pessoa é sempre imitativo. Depois vem a reflexão. Quando ela for aprender a escrever, já saberá a diferença de pronúncia das duas palavras sem que seja necessário usar um sinal gráfico."
Para Bechara, a reforma ortográfica é necessária para defender a língua portuguesa. Trata-se do único idioma falado por um grupo majoritário -mais de 230 milhões de pessoas- no mundo a ter duas grafias diferentes. "É essencial que o português se apresente internacionalmente com uma única vestimenta gráfica. Para manter o prestígio e para que seja melhor ensinado e compreendido por todos", conclui.



Folha de S. Paulo (SP) 29/12/2008