Prof. Jayme Ferreira Bueno
Como docente em cursos de Letras, tive a oportunidade de acompanhar em sala de aula a produção de texto, desde os mais simples aos mais complexos. O que se observa é a extrema dificuldade que todos nós, alunos e professores, temos quando nos propomos a redigir um texto.
Esta dificuldade, ao menos em parte, deve-se principalmente à ausência de tradição no ensino do país de práticas docentes que levem a essa produção de textos. Só atualmente, por iniciativa de alguns professores isoladamente ou na proposta de alguns cursos específicos procura-se romper essa situação e suprir tal deficiência.
A escola não tendo oferecido aos estudantes dos níveis anteriores ao ensino superior as técnicas e a oportunidade de produzir textos, não proporciona as condições necessárias de conhecimento e de incentivo para uma prática que deveria ser comum na vida universitária, a produção de um texto de relativa qualidade. Entende-se por texto com razoável qualidade aquele que se apresenta com as características de legibilidade fluente e atrativa e de entendimento claro. A coesão e a coerência são fundamentais para a organização de um bom texto.
Uma proposta de trabalho pode ser analisar textos produzidos inicialmente sem orientação do professor Numa segunda fase, esses textos seriam refeitos pelo aluno após a intervenção docente. Assim, poderia conseguir-se um texto que apresentasse evolução qualitativa quanto à estruturação.
Proposta como a apresentada poderá mostrar que o aluno que redige com conhecimento teórico dos principais elementos da lingüística textual e que recebe o acompanhamento de um docente especializado na teoria e na prática da produção de textos, poderá produzir um texto com melhor qualidade, aquele que se torna de leitura fluente e compreensível.
O texto que se busca com ações docentes como a relatada deve ser um texto que se diferencie daquele texto desestruturado que o estudante geralmente apresenta antes de ingressar no ensino superior. Geralmente os alunos redigem um texto ilegível e ilógico por completa falta de coesão e de coerência, como se lê em muitas redações dos vestibulares. Esse texto, por não apresentar coesão e coerência, não consegue sustentar-se como estrutura lingüística capaz de transmitir alguma informação ao leitor.
Textos assim estruturados geralmente reproduzem chavões, fórmulas feitas, um discurso preestabelecido. Nesse caso, pelo fato de o aluno não dominar as técnicas de produção de texto e de não ter informação sobre o que está redigindo, o texto soa falso e desligado da realidade.
Escrever é uma prática que depende de outra, que é ler. A leitura e a escrita se complementam numa relação de interdependência. Uma necessita da outra, apóia-se na outra. Na prática textual escolar, a partir, ao menos do ensino médio, o exercício de produção de texto devia sempre vir antecedido da leitura de bons textos. Só se pode comunicar aquilo que, primeiro, sabemos ou que passamos a saber por fontes de informação, como, por exemplo, com a leitura de bons textos.
Conclui-se, portanto, que a leitura e a escrita deveriam constituir práticas privilegiadas na escola do ensino médio e continuar a ser no ensino universitário, em especial nos cursos da área humanística. Portanto, a busca por bons textos na escola deve ser tarefa permanente.
7 comentários:
Olá, Prof. Jayme!
Muito obrigada pela colaboração.
Desculpe não ter publicado seu texto de pronto, mas estou com meu pai enfermo e tenho entrado raramente na internet.
Gostei muito. Toda questão colocada, realmente é fato.
Só gostaria de sinalizar a questão já na pré-escola; onde "tudo começa". Está entre aspas, porque na verdade tudo começa quando a criança aprende a falar, a se comunicar através da linguagem - que é elemento fundamental para a boa alfabetização e para o aprendizado de modo geral. Aprendemos quando nos comunicamos.
Chegando na escola a linguagem precisa ser explorada para que o ler e o escrever tenha sentido. Para que ela - a criança - perceba que a leitura e escrita são formas de comunicação e, daí em diante, caberá ao professor envolvê-la no mundo letrado onde ela perceberá que também a arte é uma forma de linguagem e etc.
O professor precisa ser competente para mediar o processo e fazer do aluno um bom leitor - capaz de fazer a leitura não só de livros, mas do mundo que o cerca -, e consequentemente um bom escritor.
Sei que nada do que disse é simples. Não é mesmo. É profundamente complexo e envolve outras e outras questões. Mas é a única solução para que o aluno possa sair do Ensino Fundamental levando , de fato, o que é fundamental e possa fazer um bom Nível Médio e Superior.
Se no Ensino Fundamental o aluno não se apropriar das ferramentas da leitura e escrita, fica muito difícil e custoso - tanto para o aluno quanto para o professor -prosseguir com sucesso...
Oportunamente acrescentarei outros comentários ao seu maravilhoso texto.
Muito obrigada e um forte abraço.
Taninha
Olá Taninha! Muito boa a explanação do Professor Jayme.
Concordo em tudo, para uma boa técnica na escrita, é necessário o hábito da leitura, a começar pelo exemplo dos pais. Em segundo lugar, no caso de crianças pedir que relatem o texto.No caso de jovens, que interpretem.
Muito bom esse post para todos os níveis.
Parabéns, amiga!
Um forte abraço
Mirse
Oi, Mirze!
Você disse algo muito importante: exemplo dos pais.
A Escola precisa da parceria da família; principalmente nas séries iniciais.
Obrigada pelo comentário.
Beijos,
Taninha
Olá, Taninha
Que bom que o texto foi bem aceito.
Concordo plenamente com o que você diz sobre a Pré-Escola. Não entrei nesse campo, porque não entendo nada desse nível escolar. Então, não me aventurei. Sei que é um dos momentos mais importantes da formação de uma criança, de um futuro leitor e de um possível produtor de bons textos. Felizmente as crianças de hoje são muito vivas, receptivas e inteligentes, além de serem extremamente criativas. Há que se explorar todo esse potencial.
Excelente artigo, Taninha. Parabéns pela postagem!
Precisamos de mais espaços que proponha discussões interessantes sobre a educação, especialmente a leitura.
Muito embora, eu creia que só iremos formar um país de leitores realmente qdo o professor - sobretudo o da educação fundamental -, se tornar leitor. Nas escolas onde trabalho são poucos os que leem de fato. Isso é vergonhoso! Como posso despertar o gosto pela leitura nos alunos se eu mesma não leio??? Isso é básico!!!
Deixo essa questão polêmica no ar...
Bem, poetisa... vim lhe oferecer tb um mimo para o "No rastro da educação". Já vinha visitando este seu espaço e gosto muito!
Passa lá no blog para receber, acho até sabe do que se trata...
Parabéns ao prof. Jayme pela bela explanação do tema e a vc por tê-la postado.
Abraço,
Maria Clara.
Maria Clara, minha querida!
Estive no "olho do furacão" chamado FURACÃO DESÂNIMO e, só agora, com a ajuda de Deus e de amigos especiais estou voltanto.
Fico muito honrada por receber de você o Toféu do Amigo, pois suas considerações a respeito do meu trabalho amador sempre me encorajaram muito.
Muitíssimo obrigada, querida.
Eu, na verdade, só vi agora, posto que aquele blog não precisa de moderação e, estive afastada. Hoje, relendo tudo, me deparei com o seu comment e da Mirze. Eu adorei, acho que precisamos travar esse tipo de diálogo que vc sugere sim. É fundamental! O Professor é exemplo para as crianças!!
Grande e afetuoso abraço, vou colocar meu troféu lá agorinha mesmo e, cheia de orgulho pela sua amizade sincera.
Um beijo e abraço afetuoso, querida.
Taninha
Correção: O da Mirze já havia lido.
E "aquele blog" é este aqui.
rsss.
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