Alexandre Spinelli,
é um escritor de Porto Alegre - RS , 38 anos, que pode se autodefinir assim: "A vida, sem nome, sem memória, estava sozinha. Tinha mãos, mas não tinha em quem tocar. Tinha boca, mas não tinha com quem falar. A vida era uma, e sendo uma era nenhuma.Então o desejo disparou sua flecha. E a flecha do desejo partiu a vida pela metade, e a vida tornou-se duas.As duas metades se encontraram e riram. Ao se ver, riam; e, ao se tocar, também." Eduardo Galeano[1]. Em seu trabalho de escritor, escreve poesias, contos, crônicas e textos teatrais[2]. Uma de suas crônicas me ecantou. Sua sensibilidade achou em minha subjetividade uma espécie de catarse. E, também, uma chamada de atenção aos educadores para que, além de proporem a arte, proponham também o respeito a esta tão importante forma de linguagem que sai do cerne daquele que se propõe a fazê-la com seriedade. Vaias e risos cruéis só desestimulam a criatividade. Na infância é algo muito comum. Mas, pode acarretar danos psicológicos para uma vida inteira. Nós mesmo - adultos - nos ressentimos dos comentários irônicos e maldosos... E, principalmente, da arrogâcia dos que se acham muito melhores e nos ignoram. Inclusive, falo dos famosos. Pois, há na internet talentos a olhos vistos que são desconsiderados por pessoas que têm poder na mídia de trazerem tais artistas ao mundo aqui fora. Porém, não o fazem... Enfim... Passemos à belíssima e poética crônica de Alexandre Spinelli.
O Palhaço Nu
O palhaço perdeu o nariz e se sentiu nu. Estava ali, sozinho, no centro do palco, luzes nele, quando se viu assim: nu, sem o nariz. Nunca a platéia fora tão grande, nunca tantos olhares se dirigiram para ele. E ele ali, nu, e a platéia e as luzes e o palco enorme à sua volta. E ele, centro da vergonha. E riam e todos riam e riam muito. E ele não achava graça alguma. Só vergonha e constrangimento. E riam às gargalhadas dele. Quanto maior seu constrangimento, quando maior sua vergonha, mais riam. Ele só fazia esconder seu nariz com as mãos, como Adão. E se sentia tão nu, ali no centro, mãos cruzadas sobre o nariz, que se viu trançando as pernas, encolhido: algo além do sexo estava exposto. Estava ali, totalmente desnudo e, em troca, recebia risos, os risos que ele nunca quisera. Já sem saber como sair daquela situação, viu uma criança escapar da platéia, correr ao seu encontro e lhe pular nos braços. E foi obrigado a tirar as mãos do rosto, para que a menina não caísse e, assim, lhe pegou no colo. Ela o olhou bem dentro dos olhos e sorriu: - Sr. Palhaço, o senhor não precisa ter vergonha. Nós te amamos além do nariz. Não é ele que te faz palhaço. Ele sorriu, meio desapontado, constrangido, sorriu. Ela subiu as mãozinhas até seu nariz, para lhe tapar. Suas mãos formaram uma conchinha sobre ele. Bem redondinha. Depois lhe olhou novamente e sorriu. Suas mãos eras vermelhas, brilhantes, seus olhos também. - Palhaço, vai, ria, faça com que riam contigo, da tua arte e nunca mais de ti, da tua vergonha. E, enquanto falava, ela foi sumindo. Restaram suas mãozinhas vermelhas, restaram seus olhinhos, sempre à sua frente. Sempre que hesitava, os olhinhos da menina anjo estavam ali, sorrindo, incentivando, lembrando que ele devia seguir adiante. E o palhaço sorriu e riu e gargalhou. E foi tanta alegria, que toda platéia chorou.
http://escritosporescrever.blogspot.com/ Alexandre Spinelli visite o site
[1] Texto que consta em seu perfil do Orkut.
[2]Material que consta no site do escritor.
Agradeço a Alexandre a autorização da postagem em meu blog. E, convido-os a visitarem o site do escritor.