Ontem, há exatos vinte anos, em Pequim, um massacre bárbaro - chamado de "insidente político" ocorreu.
Sonhando e lutando corajosamente, a ponto de não temer pesado exército com armas e canhões, cerca de 400 a 2 mil estudantes entre outros manifestantes morreram. Era o fim de sete semanas de protestos - noite de 3 e madrugada de 4 duma primavera de junho.
Interessante também o nome exército: Exército de Libertação Popular. E, a ordem para promover o "insidente, veio do Governo chinês; especificamente das facções mais conservadoras.
Eu acho muito interessante - no pior sentido da palavra - tantos paradoxos em relação às verdades e aos termos empregados a elas, como também o esforço em apagá-las da memória do povo.
Naquela Praça da Paz Celestial o Exército de Libertação Popular em nome do governo da República Popular da China, promoveu um massacre a estudantes, trabalhadores e ainda, intelectuais - desarmados - que manifestavam seu protesto numa caminhada silenciosa e pacífica - num grito mudo de "guerra de bandeiras brancas" mantendo a "calma no desespero" -, dentro de uma sociedade liderada por um Partido Comunista que era perfeitamente entendido pelos manifestantes - mais ou menos cem mil - como repressivo em desasia e corrupto. Os trabalhadores ali, também lutavam contra a inflação e o desemprego, pois em suas lentas reformas econômicas, a China, não mudava em nada o quadro de vida do povo.
A morte de Hu Yaobang, fora o estopim para o início dos protestos.
Naquela Praça uma "estátua da liberdade", de gesso, foi erguida como tentativa de mostrar ao governo o desejo urgente do povo pela justiça social e democracia.
Na Praça da Paz Celestial, há muitos monumentos que contam a história da China através dos séculos, entretanto o sonho da democracia foi - mesmo - engessado ao derrubarem, imediatamente, a estátua erguida pelos manifestantes.
O povo chinês teve e tem ainda pouco conhecimento do que se deu. Tentaram - e ainda tentam - impedir a imprensa de divulgar a verdade dos acontecimentos daquela noite e madrugada. A comunidade internacional condenou a República Popular da China pela repressão do protesto. O que de nada, me parece, adiantou.
Após vinte anos, as coisas não mudaram muito por lá. O bloqueio ao acesso à internet que normalmente acontece foi ainda mais intensificado nesses últimos dias. Só em Hong Kong é permitido mencionar sobre o incidente de 1989, com manisfestações de apoio às vítimas, inclusive greves de fome e a tradicional vigília, pois lá as leis são diferentes do resto da China.
Então, a China, para mim, é absurdamente contraditória em suas falas e valores em prol de sua política interna e externa. Grande Potência que vem se destacando no cenário mundial como quem "ao longo de 30 anos de reforma e abertura, foi testemunha de um progresso econômico e social", segundo o porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores chinês, Qin Gang.
Acontece que ainda existem presos detidos por terem participado dos protestos de 1989. Muitos perderam também seus empregos e ficaram para sempre marcados.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, foi duramente criticada como quem lança "acusações sem fundamento" contra a China ao falar sobre esse assunto em comunicado. "Sem fundamento", é ótimo...
Torço para que a China realmente seja , um dia, o que nos pareceu ser na abertura das Olímpíadas de Pequim... Você lembra? Torço, principalmente, pela juventude de lá. Para que possam fazer valer os sonhos daqueles que foram mortos e torturados dentro de uma política que se diz comunista e, acaba por mostrar ao mundo o quanto não prima por seus valores mais genuínos que deveriam alicerçar sua prática e não distorcê-la numa tirania absurda e perigosa que vem sendo exercida no decorrer dos tempos.
Que aquele "rebelde desconhecido" - que muito provavelmente não só foi preso como também assassinado - seja sempre lembrado e que canhões ou armas quaisquer, não passem mais por cima de pessoas completamente desarmadas - que sonham e lutam por justiça social e prática da democracia -; nem na China e nem no resto do mundo. Que essa vergonha não se repita.
Ora, sonhar não é proibido...
Por Tania Nascimento
3 comentários:
Sonhar não é proibido Tânia. Mas se pudessem os ditadores até isso proibiam. Obrigada por nos lembrar "certa primavera, in-certa praça"...
Um beijo.
Sem dúvida alguma, Graça.
Penso que seja o ideal dos tiranos penetrar em nossos sonhos...
Beijo e obrigada pelo comment.
Taninha
Taninha,
Me lembro dessa cena na televisão...20 anos!!! Ela se mantém viva, foi muito importante no contexto geral da história, pois possibilitou a discussão sobre liberdade e regimes políticos. O interessante seria ouvir a pessoa que cometeu aquele ato "maluco", sem nem um pingo de prudência...com ousadia e sem se importar com as consequências.
Mas onde estará ele? O que estará fazendo?
Você acredita que ele esteja vivo, Taninha?
Grande abraço
Ótima noite!
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