26 julho, 2009

G-8 (de Brasília) e diploma


No mês de junho, oito ministros do STF, acabaram com a obrigatoriedade do diploma para o exercício da atividade jornalistica. Isso significa na prática, que qualquer um pode chegar e trabalhar num orgão de comunicação. Basta se achar jornalista e encarar o desafio. Conheço pessoas que mesmo sem diploma dignificaram a profissão de jornalista. Esses no entanto, são raríssimos. Por outro lado, conheci uma legião de indivíduos que se intitulavam jornalistas e se serviam disso para manter um laço de puxa-saquismo com autoridades e obter benefícios próprios, além de procurarem aparecer em fotos.

Com a decisão dos ministros é inevitável que exista uma queda de qualidade. Patrões -sempre preocupados em economizar com salários- serão os únicos responsáveios por contratar "jornalistas", sem se importar com a formação. Se escrever bonitinho e aceitar um "estágio", ganhando uma porcaria, estará empregado. E quem sairá perdendo? Mais uma vez é a população.

Os orgãos de imprensa são responsáveis pela informação e também pela formação. Quando manipulados, podem causar estragos irremediáveis numa sociedade. Estou, agora, com dois exemplares de revistas semanais sobre a mesa: uma conhecida e bajulada; outra nem tanto famosa, mas que informa muito mais que a famosa, além de ser crítica e fazer pensar. Não darei nomes para não dizerem que se trata de propaganda ideológica; não é difícil descobrir. Existem ainda os que acreditam que qualquer um podendo se intitular jornalista, haverá mais liberdade de opnião. Ledo engano. Evidentemente sou contra a decisão daquele G-8. Recentemente comentei em um blog o assunto:

Essa decisão do G 8 é no mínimo absurda: a cúpula da justiça brasileira! Imaginem, oito ministros enterram a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para uma profissão que informa e forma opniões. Qualquer um agora pode chegar lá e ser contratado. A revista Veja, -que nada informa, mas deforma- já aplaudiu a decisão do G 8, exemplo que espero, não seja seguido por outros orgãos, sérios, de comunicação.

Quando fui fazer o vestibular na PUCC, fui lá e cravei seco em primeira opção: Jornalismo. Era isso que eu queria, me interessava por isso. E foi esse curso que fiz. Depois vieram outros, por necessidade, mas por escolha mesmo foi o de jornalismo.
Com a desculpa de que a obrigatoriedade é uma herança da ditadura militar, chegam e liberam tudo para quem quiser entrar. Liberô geral.

Proponho ao grupo dos 8, senhores ministros, que acabem com a obrigatoriedade do diploma também para outras profissões, comecem pelo curso de direito, senhores magistrados. Bastaria os senhores decorarem os códigos civis, penais, aprederem meia dúzia de palavras difíceis e estariam aptos a julgar. Ah... mas se o cara for bom em matemática, que seja engenheiro; e se gostar de cortar carne, seja médico cirurgião... tudo sem diploma, apenas com o esforço e a boa intenção. Mas não posso deixar de lembrar que de boa intenção o inferno está cheio.

Meritíssimos, cursos para quê? Tudo já virou mesmo um meretrício!

21 julho, 2009

SSS... [silêncio?]

Baía de São Marcos em São Luís
Independentemente de qualquer outra questão, admiro quem sabe escrever... Entretanto, sei que quem sabe escrever está longe..., muito longe de saber tudo e de ter sempre razão. O SER LETRADO sempre estará abaixo do SER... SEMPRE! Deixo aqui, portanto, uma homenagem a minha avó - que feneceu aos noventa e seis anos -"analfabeta e pouco letrada". Uma das mulheres mais inteligentes, sábias e honradas que conheci. Minha fascinação por ela se dá por um único e especial motivo: ela me ensinou - sem dizer nada - a, de fato, fazer o bem sem olhar a quem [não digo que aprendi, longe disso!!! Preciso - sempre - voltar às "lições de casa"]. Esforçada, eu sou!... Bem, se o leitor amigo acha que isso nada tem a ver com política, se engana!! É tudo o que falta!! Falta fazer o bem [comum] sem olhar a quem [não apenas aos amigos e parentes; tampouco a si próprio!]. Ah... eu amo e odeio política!!! Amo e odeio o discurso!! Amo e odeio a palavra [humana] escrita ou falada!! Posto ser arma perigosa - pode levar a óbito por assassinato ou suicídio...
Ah, Sêneca... Ah, Senado... Ah, Sarney...
O post abaixo é uma reedição.
Taninha Nascimento
Olá, amigos... Crise é uma assunto "velho" e o artigo do início do ano, mas achei que Sarney se colocou de maneira poética e trouxe informações interessantes que passam despercebidas. Por isso , a postagem. Beijos e, aproveito para agradecer aos amigos as palavras de conforto e carinho. Eu estou "bem"... "Bem..."
Muito obrigada.
Taninha
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A crise na janela - José Sarney
Ano novo, dores de cabeça novas. Vim passar o Natal e o fim de ano em São Luís. Minha casa tem uma vista para o mar, de frente para a baía de São Marcos, onde ficam fundeados os navios que vão para o porto da Madeira, da Vale do Rio Doce, ou Itaqui, terminal de carga geral. Um dos meus hábitos, ao levantar, sempre foi contar os navios fundeados. Chegaram a mais de 30, e nos davam euforia pelo desenvolvimento do Estado. São Luís é hoje o segundo porto do Brasil, pois, com sua posição estratégica e profundidade, pode receber navios de qualquer tonelagem. Agora, abro a janela e vejo, em vez dos 30 navios, apenas um solitário barco envolto na bruma de sal que levantam do mar os ventos alísios ainda presentes neste dezembro sem chuvas. Meu neto, vendo-me com os cotovelos na janela, olhar distante, me perguntou o que observava. Respondi: “Uma coisa de que muito se fala, mas nunca tinha visto: a crise.” Ela fez o porto parar e os navios desaparecerem. Pelo Maranhão, exportamos mais de 110 milhões de toneladas de minério de ferro in natura e em pelotas, alumina e alumínio, além de soja, milho, óleos vegetais refinados, arroz e babaçu. É o terceiro saldo de exportação da região, a contribuir para os bons números de nossa balança comercial. Para que esse volume seja movimentado, há um apoio logístico de estradas de ferro, dezenas de comboios imensos de 200 vagões rodando dia e noite, milhares de operários, lavra, energia e estradas.O Estado do Maranhão tem hoje a melhor infraestrutura da Região Nordeste, com a maior fábrica de alumínio do mundo, da Alcoa, e três importantes estradas de ferro: a de São Luís a Teresina, no Piauí, de 450km; a que vai a Carajás, no Pará, de 860km; e a Norte-Sul, que atravessa todo o Maranhão e passa para o Estado do Tocantins, até Araguaína. Foi preciso vir aqui para ver pela janela aquilo que os economistas viram: a crise. Devemos vigiá-los e fiscalizar os remédios que eles prescrevem. Se falharem, eles que treinem o corpo para ter agilidade parecida com a do Bush, a esquivar-se dos sapatos no Iraque.Melhor Cinderela com seu sapatinho encantado. O príncipe, todos acham que se chama Barack Obama. Ah! Meus navios, quando voltarão?
Jornal do Brasil (RJ) 02/01/2009
Fonte: Academia Brasileira de Letras
Postado por Taninha Nascimento às Sábado, Janeiro 31, 2009

15 julho, 2009

Um caso de corrupção na universidade - Urariano Mota




O professor, de quem copio as palavras a seguir, não quer nem pode ser identificado. Adianto apenas que ele é Doutor em importante universidade brasileira.





"Eu fui nomeado para ser relator de uma dissertação de mestrado. Nada de mais, isso faz parte do meu trabalho. Por experiência eu sei que não devo esperar teses que revolucionem o mundo da ciência. Para dizer a verdade, eu não devo esperar a mínima contribuição para qualquer coisa, a mínima que seja. Com franqueza, eu lhe digo que se este fosse o critério, eu próprio não estaria no lugar onde estou. Pois bem.



Quando eu havia corrigido cerca de 2/3 da tese, umas 60 páginas, eu tinha computado cerca de 150 erros de português. Eu não sou exatamente um cultor do português, a minha especialidade é outra. Mas havia erros crassos, clamorosos, gritantes até para um indivíduo como eu. O que o trabalho não sabia de português, melhor ainda não sabia da ciência biológica. Que maravilhosa coerência, não é? Havia antagonismos, buracos, hiatos, saltos... O que faço então? Chamei o aluno à minha presença, contei-lhe o estado deplorável da sua tese.



O aluno, um jovem astuto, muito vivo, me respondeu então, na minha cara, pois a que cara ele haveria de falar, não é?... na minha cara ele me disse que não teria tempo de fazer as correções antes da defesa, e que viria um outro doutor de Brasília para a banca examinadora, etc, etc. Então eu disse a ele: 'Escute, você me fez perder um tempo grande nesta correção. Mas, se a data da defesa já está marcada e seu orientador acha que o seu trabalho está apresentável, eu não vou criar problemas. Agora, tem uma coisa: Retire o meu nome na qualidade de relator, está certo assim?'




Não sei por que cargas d'água o novo cientista achou que a comissão examinadora
poderia criar problemas se ele não recebesse 'o apto a ser julgado' do relator, no caso, eu. Por conta dessa dúvida, ele apareceu lá em minha casa, acompanhado dos seguintes fundamentos teóricos e experiências de laboratório: o seu poderoso e importante pai, com mostras de riqueza nas roupas, nos sapatos, a mencionar de passagem o carro importado, e mais importantes citações científicas, todas de nomes de políticos e de pessoas influentes da sociedade. Claro, como a visita era de amizade, como era uma política de boa vizinhança, eles vieram, a título de apresentação, com um lítro de uísque antigo, cujo preço é o meu salário.... É claro, eu não só dispensei o 'presente' como voltei a explicar tudo de novo: 'O problema é seu e de seu orientador. O que vocês acordarem, para mim estará ótimo. Agora, não coloque o meu nome nessa história. Só isso.'




Bem, o jovem cientista defendeu o indefensável, não fez as modificações sugeridas nem
por mim nem pela banca examinadora, e quando imprimiu os seis exemplares da dissertação colocou o meu nome como relator. Eu fiquei furioso, e só não chamei o cara de santo. Então, fiz uma reclamação por escrito ao coordenador da Pós-graduação e lhe disse que já era a segunda vez que me faziam de palhaço. Por fim, e numa atitude radical, consegui apagar com corretivo o meu nome em quatro dos seis exemplares impressos. O pai do aluno, quando soube dessa minha atitude, que fez? Imagine, o pai do farsante me ameaçou com um processo. Eu era o delinquente! Ainda bem que para a minha felicidade, para que o pai indignado não levasse adiante o processo, não havia prova de que eu fosse o executor de haver borrado o meu próprio nome. E para maior prova de minha boa vontade, ainda havia dois exemplares com o nome legível do relator: o meu.




Agora, vem a melhor parte: contando isso aos colegas professores em uma reunião do Departamento de Biologia, em vez de receber apoio integral pela minha atitude, eu
fui acusado de estar com excesso de 'preciosismo' nas minhas correções. Os professores mais corruptos disseram que eu havia sido imbecil, idiota, metido a Robespierre em não ter aceitado o litro de uísque do cara. Em nome até da presente marcha de valores, eu nada respondi a quem me chamou de Robespierre barato. Minha cabeça poderia ir para a guilhotina.




Para encerrar, eu lhe peço que não mencione o meu nome, pelo amor de Deus. Pelo amor da ciência, eu preciso deste meu emprego para viver".