Tomas More (1478-1535), mais conhecido pelo nome latino Thomas Morus, nasceu em Londres, quando já predominava o Renascimento nos países desenvolvidos da Europa. Com o retorno da cultura clássica, as ideias de Platão e Aristóteles passaram a dominar. Na Idade Média, os religiosos, principalmente Santo Agostinho (mais platônico) e São Tomás de Aquino (mais aristotélico) já haviam fundido o pensamento desses dois filósofos numa espécie de síntese filosófica e pedagógica, a Escolástica. Assim, o caminho se encontrava aplainado para que o pensamento dos dois filósofos pagãos fosse absorvido pela Igreja Católica.
Thomas More estudou latim, grego, lógica, astronomia, medicina, matemática e teologia. Frequentou as principais escolas da Inglaterra, inclusive Oxford, que era a mais avançada das universidades da época. De espírito religioso, vivia em orações e, inclusive pensou ingressar no sacerdócio. Frequentou algumas ordens religiosas, mas, ao final, decidiu-se por continuar a serviço da Igreja como leigo.
Recebeu o título de Sir e exerceu cargos na Corte de Henrique VIII. Conviveu com grandes pensadores, principalmente com Erasmo de Roterdam, autor de Elogio da Loucura. More, Maquiavel e Erasmo têm sido considerados os pioneiros da Filosofia Política.
Entrou em desgraça por não haver concordado com o divórcio de Henrique III. Foi preso e torturado. Morreu como mártir da Igreja e, mais tarde, em 1935, foi canonizado. É o santo padroeiro dos políticos e governantes, festejado no dia 22 de junho.
2. A obra
Thomas Morus escreveu prosa e poesia, em inglês e em latim. É autor de uma série de poemas - os English Poems; de obras históricas - História do rei Ricardo III; de textos religiosos - Diálogo do conforto na tribulação. Fez traduções, inclusive uma com Erasmo, Diálogos de Luciano. Foi, porém, no campo da Filosofia que produziu a sua obra-prima, a Utopia. Planejada em 1511, aos 32 anos de idade, só foi iniciada no ano de 1514, quando Morus esteve ausente de Londres. No ano seguinte, 1515, já em Londres, é que concluiu a obra que viria torná-lo famoso como filósofo, humanista e literato. Foi publicada em 1516.
3. A Utopia
O nome completo em latim é De optimo statu reipublicae deque nova insula Utopia (Sobre o melhor estado de uma república e sobre a nova ilha Utopia). Nela, Thomas Morus descreve uma ilha imaginária com base em histórias sobre os novos mundos que vinham sendo descobertos. A fonte principal foi o relato que lhe fez um viajante português, Rafael Hitlodeu. Nessa época, pelas muitas navegações empreendidas, eram comuns as narrativas de viagem, geralmente cheias de aventuras fantasiosas.
Thomas Morus, pelo contrário, procurou deixar bem claro que o que escreve é imaginário. Para tanto, emprega o recurso conhecido por ouvre à clef, obra em que as palavras são como chave para o entendimento do texto. Assim, o nome do narrador é Hitlodeu, algo como língua solta. A palavra utopia tem origem no grego (ou, não; topos, lugar, portanto, o não-lugar). Amaurota, o nome da capital, provém do latim Amaurotum, miragem. O rio que a banha é Anidra, o sem água. Os cidadãos da Ilha são chamados alopolitas, cidadãos sem cidade. Um dos príncipes é Ademos, aquele sem povo. Há, ainda, outras palavras que indicam esse caráter de não-existência.
Estruturalmente, Morus empregou o recurso do diálogo, muito comum na época do Renascimento. Dividiu a obra em duas partes, às quais denominou Livro I e Livro II. No primeiro, narra como, em Antuérpia, encontrou Pedro Gil, morador da cidade, pessoa muito afável. Foi ele que um dia lhe apresentou um velho viajante português da esquadra de Américo Vespúcio, que havia permanecido no Novo Mundo. Ali, conhecera muitos lugares e muitos povos. Dentre esses lugares, estava a ilha de Utopia. No segundo. o autor passa a narrativa para o próprio Rafael Hitlodeu. Transferindo a um outro a responsabilidade da narrativa, Morus, como pensador, fica livre para emitir opiniões sobre o relato, principalmente quando discorda de algumas coisas narradas.
4. A ilha da Utopia - cidades e população
Ao iniciar a sua narrativa, Hitlodeu descreve a dimensão e o formato da ilha. Avisa que a entrada do porto é muito perigosa, porque há abrolhos e bancos de areia. No meio da ilha, há um grande rochedo que pode ser avistado de longe. Por tal descrição, muitos aproximam a Utopia à ilha principal do arquipélago de Fernando de Noronha. Era por aí que os navegadores portugueses e espanhóis passavam ao se dirigirem para o Novo Mundo.
A Ilha foi descoberta e conquistada por Utopos, que humanizou os silvícolas e deu-lhes uma educação capaz de torná-la o lugar mais civilizado de todos. Os indígenas, devidamente motivados, tinham orgulho de participar da obra de construção de um novo país.
A ilha de Utopia tem cinquenta e quatro cidades. Cada uma delas está dividida em 4 quarteirões, uma espécie dos quartiers parisienses. Cada quarteirão tem um representante junto à administração central da cidade.
Nos arredores de cada cidade, localizam-se quatro hospitais, um para cada quarteirão. Encontram-se afastados para que seja mais fácil o atendimento a todos. São limpos, bem organizados e espaçosos o suficiente para o atendimento de todos que possam necessitar de cuidados médicos ou mesmo de isolamento.
A capital é Amaurota, não por ser a mais importante, mas porque se situa ao centro da Ilha e, portanto, mais fácil ao acesso para os representantes das demais cidades. São espaçosas e muito bem construídas com praças e jardins bem localizados. As casas são edifícios elegantes de três andares, com paredes externas de pedra ou de tijolo, e as internas de estuque. As janelas estão vedadas por vidros e por cortinas de fina seda. As casas estão sempre muito bem conservadas por quem habita nelas. Na Utopia, os moradores são apenas usuários e não proprietários.
Todas as cidades possuem os mesmos edifícios públicos, construídos de forma a melhor se adaptar ao local. Têm mais ou menos a mesma população, porque há um sistema de migração que supre aquelas, que, por qualquer motivo, estejam perdendo habitantes. As cidadessão médias, com 6.000 famílias cada.
5. A organização social da Ilha
Socialmente, a Ilha é muito bem organizada. A população é especialmente ordeira e trabalhadora. Como são estimuladas todas as profissões, os utopianos praticam aquela para a qual demonstram mais aptidão. Há, porém, prioridade para a agricultura, por ser ela a fonte de alimentação de um povo. Assim, todos os habitantes da Ilha têm de exercer essa atividade por algum tempo.
A agricultura da ilha é a mais desenvolvida de todas as regiões conhecidas. Os habitantes plantam de tudo, cereais, frutas. Criam as aves e os animais domésticos. Transformam os cereais em alimento; as frutas, em bebidas; tecem a lã e tiram o maior proveito possível da produção de ovos e de pintos. Eles chocam os ovos por um meio de calefação artificial. Quando os pintainhos rompem a casca são os homens que cuidam deles. Assim, as galinhas se tornam mais produtivas.
Os habitantes só são agricultores eventualmente, embora toda a população receba lições de agricultura. De tempo em tempo, os agricultores temporários são substituídos por outros que virão das cidades. Só permanecem aqueles que pedirem, por que gostaram da profissão e preferem viver no campo.
Aqueles que são intelectualmente afeito aos estudos, não são enviados para o campo. Ficarão estudando nas cidades, a não ser que queiram também participar, simultaneamente, das duas atividades. E aqueles do campo que se destacarem nos estudos poderão ser levados de volta à cidade, para aí continuarem os estudos.
Pelo fato de que todos trabalham, produzem sempre o necessário para todos os habitantes. Eles, porém, continuam a produzir bens para repassar aos que necessitem, ou mesmo a outros povos. Como não há moeda, o comércio é feito à base de trocas.
Os utopianos dividem muito bem o tempo de trabalho. As 24 horas do dia se repartem em seis horas para o trabalho utilitário, três horas antes e três depois do almoço; duas horas para descanso depois do almoço; e à noite, depois do jantar, ocupam o tempo com conversas sobre temas importantes e educativos. Reservam nove horas para um sono reparador. É assegurada a todas as pessoas uma justa distribuição de trabalho, para que o esforço não se torne estafante. Se tal acontecesse, seria uma forma de escravidão. Assim como deve haver tempo para os trabalhos materiais, deve haver também para as ocupações do espírito.
Os habitantes não se apegam aos bens materiais. O ouro e a prata se tornam materiais para ferramentas e outros objetos úteis, como argolas para prender os prisioneiros. As pedras preciosas não possuem valor, porque, argumentam eles, se é necessário consultar um especialista para saber se uma pedra é verdadeira ou falsa, tanto faz ser um diamante, como um pedaço de vidro. Esses materiais, porém, são guardados como tesouro para reserva em caso de necessidade. Em tempo de guerra, são empregados para contratar mercenários, ou então para subornar o inimigo.
A religião é livre na Ilha, mas grande parte aderiu ao Cristianismo. Buscam o batismo e os outros sacramentos. Ninguém, porém, pode ser castigado ou discriminado por motivo de credo religioso. Os padres da Utopia são de uma perfeita santidade. Em caso de guerra, sete deles acompanham os exércitos. Para substituí-los são nomeados outros sete. Os padres se casam e, para tanto, escolhem suas esposas entre as moças mais prendadas da população. As mulheres também podem exercer o sacerdócio, desde que viúvas e idosas.
Sobre a educação, ela é pública e totalmente gratuita. Os cursos começam a funcionar antes de o sol nascer, e é grande o número dos que frequentam, mesmo sendo obrigatórios apenas àqueles que se dedicam às letras. As aulas são dadas na língua do próprio povo, que é muito rica, harmoniosa e elegante. É bastante parecida com o grego, mas também com o persa.
Os habitantes da Ilha estão dentre os mais cultos. Mesmo sem conhecer os grandes filósofos gregos, chegaram aos mesmos resultados. São inventivos e criam máquinas capazes de facilitar a vida e defendê-los do inimigo. Ironicamente, o narrador comenta que, quanto ao conceito de homem geral e universal, um dos temas preferidos da gíria metafísica, ninguém na Utopia pôde ainda perceber.
Como a Utopia tem seus fundamentos em filósofos adotados pela Igreja Católica - Platão principalmente -, o sexo só é permitido após o casamento. O adultério é punido com a servidão e se houver reincidência, a punição é a morte.
Os utopianos quando necessitam viajar, justificam os motivos e solicitam uma licença ao príncipe, que emite um documento no qual se estipula o tempo da viagem e o dia de regresso. Antecipavam-se assim aos atuais passaportes.
6 . A organização política da Ilha
A organização política da Utopia é mais simples e racional possível. As leis são poucas e muito claras. Tanto assim que não existem advogados. São os próprios interessados que se apresentam diante do juiz e sem rodeios apresentam sua defesa. Dessa forma, tornam-se críveis e honestos, o que facilita a decisão judicial.
Para reger politicamente a Ilha, todos os anos, cada cidade nomeia três velhos experientes e capazes – honestos todos são - como seus deputados. Eles se deslocarão para Amaurota, onde irão tratar dos assuntos de interesse de suas cidades e de todo o país.
Para os habitantes do campo também há uma forma de representação. As famílias agrícolas, que se compõem de pelo menos 40 pessoas, homens, mulheres e dois escravos, são governadas por um dos pais, geralmente o mais idoso. Trinta famílias formam uma unidade, que é dirigida por um filarca (grego filos, aquele que ama). Esses filarcas, também chamados sifograntes, são os magistrados. Dez sifograntes e as trezentas famílias por ele representadas obedecem a um protofilarca.
São os 1.200 sifograntes que, após um juramento no qual se comprometem a dar o voto ao mais capaz e mais virtuoso, escolhem por voto secreto o príncipe. A indicação inicial parte da própria população, que envia à corte uma lista com quatro nomes. O principado é vitalício, a não ser que o príncipe tente tornar-se um tirano.
Os príncipes sempre procuram pautar-se pela mais completa honestidade. Cada vez mais se preparam para melhor exercer a mais alta e a mais digna das funções do estado. Procuram seguir o que Platão disse: “A humanidade será feliz um dia, quando os filósofos forem reis, ou quando os reis forem filósofos” (p. 191).
Os protofilarcas são eleitos todos os anos, mas, a não ser que haja motivo justo, eles são reconduzidos. Dificilmente há mudança. São eles que se reúnem três dias por semana com o príncipe para tratarem dos assuntos de estado e para despacharem com a maior brevidade os pleitos apresentados. Os processos são raros, considerando-se que todos vivem em paz e harmonia.
Os sifograntes, como alguns outros, são isentos por lei do trabalho pesado. Porém, para darem o exemplo, eles preferem engajar-se em toda forma de serviço executado pelos demais trabalhadores. São dispensados do trabalho também aqueles estudantes aptos às atividades intelectuais e que estão dedicados apenas ao estudo por indicação de padres e dos sifograntes. Se algum deles, porém, não fizer bom uso do tempo e iludir a esperança do povo e de quem o indicou, será imediatamente transferido para a classe dos operários.
Os governantes são todos bem intencionados a ponto de preferirem ser como aquele general romano, Fabrício, que morreu tão pobre, que o estado teve de providenciar o seu funeral. Dizia ele: “prefiro governar ricos a eu mesmo ser rico” (p. 198). Considerando também que os habitantes da Ilha são todos politicamente educados, a Utopia pode desenvolver-se sempre em paz.
7. O destino da obra
A obra, produto do pensamento renascentista e, portanto, com fundo altamente humanístico, retrata o pensamento expresso por grandes pensadores que influenciaram a época. De modo geral, a filosofia é a de Platão, mas há também muito de Epicuro e de outros neo-platônicos. O pensamento religioso de Santo Agostinho (A Cidade de Deus) também se faz presente. Por outro lado, as idéias de como se deve governar têm muito do pensamento do contemporâneo Maquiavel.
Quando a obra de Morus surgiu, imediatamente alcançou enorme sucesso. Foi traduzida para as várias línguas culturais de então. Foi lida e comentada por todos. Ao lado de O Elogio da Loucura, de Erasmo, e de O Príncipe, de Maquiavel, a Utopia desfila entre as grandes obras do Renascimento europeu.
Teve, dentre outros, o mérito de exercer influência em várias obras, principalmente A Cidade do Sol de Dominico Campanella, publicada em 1602. Influenciou também muitas das doutrinas socialistas dos séculos seguintes.
Pode-se concluir, que, seja uma obra de crítica aos costumes de países desenvolvidos, principalmente Itália, Inglaterra e França. Pode também ser vista como uma obra de pensamento elevado. O certo é que Utopia não é uma simples obra, mas, uma tomada de posição diante dos acontecimentos políticos e sociais da época.
A obra trouxe um repensar sobre temas, como trabalho, honestidade, pureza de espírito, o que sem dúvida passou a exercer influência sobre os costumes e sobre organização social e política dos diferentes povos. Esse tem sido o destino de Utopia, de Thomas Morus.
6 comentários:
Taninha,
Há poucos filósofos. E eles não serão reis.
O Imperador romano Marco Aurélio, filósofo estóico,teve nas mãos o poder. Pode-se confrontar a Utopia de Thomas Morus com tal mandato, considerando-se as conjunturas histórico-sociais. Mas tratava-se de um império, com regras sucessórias imperiais.
Questões: Quando um filósofo quererá o poder?! Quando a população enxergará a pertinência de um filósofo no poder?! E por fim: o espectro da filosofia, hoje, é amplo o bastante para não identificarmos mais do que uma suposta filiação comum a uni-los, pela raiz etimológica da palavra: "a busca da verdade" (ou "ser amigo da verdade"). Hoje a verdade está hiper-fragmentada, e os filósofos têm seu escopo de pensamento mais e mais reduzido. Saberão "pensar uma nação"? Platão, mesmo, sabia pensar muita coisa, mas não governos e governanças. Fernando Henrique era sociólogo e, uma vez no governo, disse: "Esqueçam o que eu escrevi" (no que diz respeito a cobrarem do rapaz uma convergência de noções sociológicas e práticas políticas). Os Fundamentalistas não procuram a verdade, mas empunham uma Revelação. O que a história já mostrou não dar certo, se aplicado politicamente. A questão de Thomas Morus deve, de fato, ficar "um patamar acima" e alguns degraus adiante: acima do topo, ou em topos/ lugar algum. Há, primeiro, que se prezar honestidade, ausência de mentira e outros valores básicos que qualquer um conhece, mas que nem todos apreciam. Qualquer um sabe o que significa superfaturar, nota fria, assinatura falsa, etc e tal. Nem disso abdicam. Que venha primeiro o governante ético. Nem precisa ser tão sábio.
Beijos,
Marcelo.
Prezado Marcelo,
Obrigado pelas considerações sobre o texto que preparei e que a Taninha teve a bondade de inserir em um dos blogs que ela mantém.
Hoje, de fato os filósofos, e eu acrescento os sábios, são poucos. E nem uns, nem outros assumirão o poder. Uns por não quererem, outros porque não os deixariam. O poder estará sempre na mão dos mais espertos.
Erasmo de Rotterdam, embora na voz da personagem Loucura, era incrédulo quanto às possibilidades de filósofos e de sábios no poder. Diz ele (ou ela) que os filósofos não estariam preparados para governar e inclusive para as coisas mais simples da vida: “Isso não seria nada se esses filósofos só fossem incapazes de exercer os cargos e empregos públicos; o pior, porém, é que estão longe de ser melhores para as funções e os deveres da vida”.
Reafirma essa posição, quando declara: “Assim, o filósofo não é bom, nem para si, nem para o seu país, nem para os seus. Mostrando-se sempre novo no mundo, em oposição às opiniões e aos costumes da universalidade dos cidadãos, atrai o ódio de todos com sua diferença de sentimentos e de maneiras”.
Por sua vez, os sábios, por não serem práticos, nada realizam e ainda causam estragos às nações. Demonstra com Demóstenes, na Grécia, e Cícero, em Roma. Teriam esses sábios causado mais prejuízos do que um governante louco: “ Se a prudência consiste no uso comedido das coisas, eu desejaria saber qual dos dois merece mais ser honrado com o título de prudente: o sábio que, parte por modéstia, parte por medo, nada realiza, ou o louco, que nem o pudor (pois não o conhece) nem o perigo (porque não o vê) podem demover de qualquer empreendimento”.
No seu comentário, o amigo cita o o Imperador Marco Aurélio, filósofo estóico, e, portanto, dos mais abnegados e devotados ao dever, embora, segundo a Loucura (ou Erasmo), os estóicos sejam frios, não cultores da amizade e convencidos de só eles entendem de tudo.
Por esses ou por outros motivos, Marco Aurélio não conseguiu ser bem sucedido, embora tenha se mostrado um reinante dedicado e justo. No período em que governou, Roma enfrentou duras guerras e aí foi o prenúncio da derrocada do Império Romano.
O início da derrocada do Império Romano, primeiramente frente aos Germânicos, é atribuído a outro erro de Marco Aurélio, o de ter indicado para suceder-lhe o seu próprio filho, que não se encontrava preparado para o poder.
Para avivar mais o debate, vamos concluir com esta questão levantada pela Loucura (ou por Erasmo?): “Dizei-me se houve uma única cidade que tenha adotado as leis de Platão e de Aristóteles, ou as máximas de Sócrates”.
Um grande abraço,
Jayme
Prof. Jayme,
O ideário estóico está acima dos costumes médios. Mas, veja o senhor, Marco Aurélio não foi lá muito bem sucedido, como se sabe. O que não significa que prefiramos Nero ou Calígula... No que diz respeito à crucial pergunta de Erasmo: "Não, caro Erasmo, nenhuma cidade aplicou as máximas de Sócrates, nem a filosofia de Platão ou Aristóteles". Quanto à não-adequação dos filósofos (no sentido da "velha e boa adaptação social"), é notório esse descompasso. Até porque, pensam em profundidade. E isso costuma causar vertigens metafísicas. E, em hipótese mais benigna, dores de barriga nervosas, por indigestas que soam as idéias que, meramente, pretendem uma aproximação da Profundidade. Platão, imaginando a República comandada por um Rei-Filósofo, só reafirmou seu Idealismo. E Thomas Morus reeditou a fábula, em seus próprios matizes.
Um grande abraço,
Marcelo.
Prezado Marcelo,
Como sabes não sou filósofo. Sou professor de literatura. Talvez, por isso, eu vá mais pela fábula do que pela essência filosófica.
Porém, ler filósofos - que são um tanto poetas - causa-me muito prazer. Daí as minhas incursões por esse vasto campo do saber. Por esse motivo, sempre procuro relacionar a filosofia à poesia e, assim, dar um tom literário, poético.
Os grandes poetas são aqueles mais ligados à filosofia: Camões, Antero, Fernando Pessoa, Carlos Drummond, para ficar apenas na literatura portuguesa e brasileira.
Obrigado por contribuir sempre com suas observações pertinentes.
Um grande abraço, Jayme
Professor Jayme e Novaes,
que diálogo maravilhoso!
Fico super feliz com a qualidade do que postamos aqui. Tomara que saibam compreender que, resumindo, é tudo em favor da Educação.
Bjs e obrigada.
Taninha
Taninha,
No contexto da proposta deste blog, não há por que temer que se dissocie a discussão em pauta como, em última instância, referente (e referida) à Educação. Educação esta entendida em sentido amplo, mais do que de mera "grade curricular" das escolas.
Tranquilize-se, pois.
;)
Beijos,
Marcelo.
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