01 novembro, 2010

Solilóquio sem fim e rio revolto - Jorge de Lima


Solilóquio sem fim e rio revolto -


mas em voz alta, e sempre os lábios duros

ruminando as palavras, e escutando

o que é consciência, lógica ou absurdo.



A memória em vigília alcança o solto

perpassar de episódios, uns futuros

e outros passados, vagos, ondulando

num implacável estribilho surdo.



E tudo num refrão atormentado:

memória, raciocínio, descalabro...

Há também a janela da amplidão;



e depois da janela esse esperado

postigo, esse último portão que eu abro

para a fuga completa da razão.



Jorge de Lima

(1893-1953)



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