Hercília Fernandes.
Autora de versos, imagens e canções. Professora no curso de Pedagogia (CERES / UFRN); Mestra em Educação (PPGED / UFRN) e Especialista em Ed. Infantil (UFRN).
É, resumindo, uma grande educadora e poetisa desse Brasilzão de meu Deus. De Caicó – RN . Cidade onde nasceu e passou sua infância, adolescência e mocidade; lugar onde vive.
Hercília é uma dessas gratas surpresas que a internet nos reserva. Somos amigas. Aprendo muito com ela sobre Literatura, Poesia e Educação. Nunca nos encontramos pessoalmente, mas nutrimos um carinho enorme, uma pela outra, como se fôssemos duas irmãs. Carinho e respeito.
Sou fã de carteirinha de HF e tenho todos os seus livros já publicados e ainda um CD com seus poemas traduzidos em canções. Lindo demais! Poemas em canções que falam com delicadeza e beleza das coisas do nosso lindo Nordeste.
Esta breve Biografia é para falar de sua postagem “Cordas de Correspondência (releitura); que se encontra em seu blog HF diante do espelho.
Em conversa informal, Hercília fala que o poema discute "paradigmas e liberdade de expressão na criação", através de uma abordagem histórica e da adoção de uma linguagem poética, cujo objetivo é levar o leitor à reflexão dos consensos e preconceitos existentes nos valores dos escritores. Já a linguagem, no poema, busca unir formalidade e ruptura a qual - exatamente - pretende acentuar que ambas não são divergentes, porém os valores sobre como se pensam os padrões de criação é que precisam e devem ser repensados; como, por exemplo, no tocante à formalidade da linguagem e à métrica, no uso de rimas e à valorização da oralidade. A ruptura, por sua vez, acontece na irregularidade dos versos, na ausência de vírgulas, letras maiúsculas, etc... Sobretudo na apresentação de um flexível olhar sob o processo criativo aliado a antigas fórmulas de composição, como o uso de aliterações que causa movimento, ritmo e leveza lúdica ao poema.
Na exposição poética do tema, o canal de comunicação é o próprio fazer metalinguístico, já que os versos pontuam, historicamente, os valores inerentes à criação literária, estabelecendo analogias com algumas características existentes nas correntes literárias brasileiras.
Convém ressaltar que essas cordas de correspondência é uma síntese de diálogos travados com Fernando Cisco Zappa - no blog Novidades & Velharias. Zappa é formado em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, reside em Belo Horizonte, e difunde sua prosa e poesia no blog Cisco Zappa. Passemos ao poema:
(Para todos os leitores e poetas que por essas águas repousam os olhos).
Arte: Fá Duarte
nessas cordas de correspondência
fervilha formalidade em padrões de literariedade
seja de ruptura ou de tradição
desde que não se reprimam possibilidades
e se afirmem ditaduras com normas obscuras
de uma entulhada convenção
fervilha formalidade em padrões de literariedade
seja de ruptura ou de tradição
desde que não se reprimam possibilidades
e se afirmem ditaduras com normas obscuras
de uma entulhada convenção
o que se busca é a existência da palavra
com letras alvas / obtusas ou à bastão
na voz do lírico / do filósofo / do telúrico /
do profeta ou do pagão
com letras alvas / obtusas ou à bastão
na voz do lírico / do filósofo / do telúrico /
do profeta ou do pagão
pois que venham os aluísios / os machados / os fabrícios
e os freis da santa rita durão
e os freis da santa rita durão
os simbolistas com chumaços de fumaça / de sumos /
de uma amálgama ou dulcíssima digestão
de uma amálgama ou dulcíssima digestão
os modernistas / os regionalistas / com seus travos e desagravos
nas espingardas / nas alpargatas da Revolução
nas espingardas / nas alpargatas da Revolução
e os neoconcretistas com ausência de verso / de metro
e anuência de berro de significação
e anuência de berro de significação
pois que nessas cordas de correspondência...
só se nega a linearidade
da opressão!
só se nega a linearidade
da opressão!
(Hercília Fernandes)
Bem, eu enquanto educadora, fiquei maravilhada com essa "prosa" entre os dois poetas e, comentei o seguinte:
"Oi, amiga Hercília. Diante de um texto assim, só me resta aplaudir e, de pé... Você simplesmente conseguiu reunir num só poema tantos e tantos temas e conceitos acerca da LINGUAGEM que, um bom seminário, em um só dia, não daria conta. É um hipertexto sem links. Uma associação de idéias e analogias em versos. Transmitir conhecimento usando a poesia é espetacular. O texto é riquíssimo. Brilhante, amiga. Dá orgulho ser Educadora e saber que no Brasil há profissionais assim. Parabéns! Grande abraço, Taninha."
Não posso deixar de parabenizar também o poeta Fernando Cisco Zappa pela visão de linguagem e ludicidade de seus poemas.
Abraços fraternos a ambos,
Taninha Nascimento.
Taninha Nascimento.
10 comentários:
Realmente Taninha, Hercília é a amiga, irmã e exemplo de mulher que todos nós queremos ter sempre por perto. Por sua cultura e dedicação ao que faz, pela beleza de seus poemas e pela escolha de temas como este, que junto com Fernando Cisco Zappa, só enriquece a todos. Além da imagem de beleza e da simpatia, ela traz um aconchego e um encanto especial em cada palavra que colhe cuidadosamente, como se fossem flores de um jardim por ela mesma cultivado.
Aplaudo sua postagem! Aplaudo Hercília!
Que os valores aqui deixados, sejam reconhecidos por todos.
Um beijo carinhoso
Mirze
taninha:
li na hercília e venho aqui.
romério
Obrigada, Mirze!
É verdade... A Hercília é uma pessoa muito dedicada, estudiosa e séria em tudo que se propõe a fazer; além de tudo que já dissemos sobre ela.
Obrigada pela presença,
Beijo e abraço carinhoso.
Olá Prof. Romério Rômulo.
Obrigada pela visita. É um prazer conhecê-lo por aqui.
Este espaço também é seu. Fique à vontade para postar comentários. E, se quiser colaborar com textos, será uma honra para mim e grande oportunidade de aprendizado para todos os que se interessam pela Área da Educação, que envolve tantos e tantos saberes.
Forte abraço,
Taninha
Taninha, minha “Amiga”,
agradeço muitíssimo o seu belo gesto em difundir essas “Cordas de correspondência” n'Rastro da educação.
Precisamos, cada dia mais, aumentar possibilidades de entendimento de nossos valores, especificamente sobre os padrões de criação.
O grande instrumento e produto cultural humano é a linguagem. Linguagem que, segundo Vygotsky, se constrói em caráter de mediação entre os homens.
Por que, então, se perde tanto tempo tentando rotular o que é, ou não é literário? O que é digno ou não de apreciação? (Tenho refletido bastante...).
Em minhas experiências de leitura e estudos, tenho observado que aquilo que se nomeia como bom, útil ou digno de apreciação está inteiramente relacionado às expectativas e experiências de leitura de certos grupos de pessoas; que, evidentemente, possuem seus critérios de análise, de identificação.
Porém, será que esses valores devem ser extensivos a todos os grupos e subgrupos sociais? Será que são condizentes com as experiências de leitura e escrita de todos?
É preciso que se pense nisso... pois aquilo que nos parece bom, útil, formador... pode não representar nada para o nosso vizinho, pois não expressa a sua verdade. O perigo da imposição, como em outras áreas da vida humana, acaba provocando a formação de um discurso ideológico que, por sua vez, legitima os valores de um grupo privilegiado de pessoas. É nesse terreno que a “Educação”, como prática social intencionalizada, cada vez mais deve atuar; propondo estratégias que minimizem a formação de discursos lacunares e legitimadores que escondem, no próprio cerne, os reais motivos de sua existência.
Para mim, literatura é a palavra que se transfigura, que, portanto, consegue se desprender da lógica comum e sugerir outras realidades. Por isso, aprecio muito os simbolistas e todos aqueles que transfiguram a língua, recriando-a. Porém, esse é o meu conceito e gosto, é o meu ponto de partida. Mas é apenas “um” entre “tantos”, e, nesses tantos, como nos alerta o Cisco Zappa, pode haver ainda uma infinidade de possibilidades.
Por isso, acredito que formalidade e inovação podem caminhar juntas. Por que desperdiçar a herança cultural de nossos antepassados, se há na formalidade grande beleza poética? Por outro lado, por que não abrirmos portas para a reinvenção se a própria linguagem é algo vivo, cujo rio segue em fluxo contínuo?...
Bem, formalidade e inovação, ao meu modo de ver as coisas, não são antagônicas. O homem cria arte em poesia ao apresentar um novo olhar sobre as coisas, mesmo que utilize “ferramentas gastas”, isto é, velhos signos. O que muda é a sua compreensão, a visão de mundo que evolui e lhe permite perceber e explorar combinações que apontam à reinvenção.
Por isso, minha amiga, "que venham novos hálitos nos lábios dos Avulsos e más maneiras nos brados comprimidos encarcerados nos vãos do subterfúgio /
que venham lâminas para cortar nós!...”
E que, nesse corte, nos tornemos abertos, pois o que não se pode mais aceitar é “a linearidade da opressão”.
Forte abraço, Taninha.
Muito obrigada à Mirze e ao Romério pela visita e considerações.
Hercília Fernandes.
Amiga,
a gratidão é minha pela oportunidade de crescimento que você me proporciona através de seus escritos.
Sim, a linguagem gera conhecimento e, isso já apartir da mais tenra idade. A linha pedagógica histórico-sociocultural a que Vygostky nos remete, comprova a importância desse grande intrumento.
Eu penso que cada célula da sociedade tem suas caracteristicas e saberes próprios e, é a partir desses saberes que outros serão construídos. O indivíduo reelabora seus saberes a partir de suas experiência e leituras de mundo, citando Paulo Freire.Se não for dessa maneira, tudo perde o sentido, por mais maravilhoso que possa ser o "com-texto", por exemplo.
É a linguagem que pruduz conhecimento. Seja falada, escrita, gestual, artística, enfim...
Ou seja, a comunicação é fator preponderante para que haja conhecimento. E, leitura e escrita são as chaves para abrir os portais da cultura, do saber.
Por isso nosso País precisa avançar - e muito - para modificar esse quadro de analfabetismo.
Grande beijo, abraço.
Taninha
Nomear as coisas depende das palavras plantadas e colhidas em cada território.
Parabéns a todos.
gosto do pensamento aliado à arte. A escrita literária ligada à cura, ao aconchego do ser.
Obrigada pela visita.
Gostei imensamente de suas palavras:
"Nomear as coisas depende das palavras plantadas e colhidas em cada território."
Um abraço. Volte sempre.
Taninha
Taninha,
As suas trocas com Hercília também são bastante informativas e esclarecedoras. Ganham vocês, ganhamos nós, seus leitores.
Parabéns pela postagem!
Um abraço,
Lou
Oi, Lou!
Obrigada pela visita.
Tenho grande admiração por seu trabalho poético.
Foi um prazer conhecê-la.
Abraços,
Taninha.
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