Candido Mendes de Almeida
O Programa da Aliança das Civilizações depara uma circunstância nova no seu horizonte imediato. Ou seja, a do advento do governo Obama, que afasta o recrudescimento da pespectiva americana num fundamentalismo ameaçador em defesa do Ocidente, no seu impacto sobre a "guerra das religiões".
Avança também o reconhecimento dos limites do terrorismo intenacional, a partir de um enfoque realista, que debata a visão crítica da hegemonia, tal como avançada na última década.
Importa, e já, num quadro dos Direitos Humanos, salientar a garantia crucial das diferenças de identidade, nas culturas ameaçadas pela terraplanagem de um progressismo, vivido como um álibe das relações de dependência entre centro e periferia, passadas à globalização. O essencial é superar a síndrome do 11 de setembro, que nos levou à coexistência com o permanente medo, a ponto de comprometermos a visão da alteridade social, e do respeito às subjetividades coletivas, fora dos simulacros em que as pode reconstruir uma razão universal, desatenta ao concreto do processo histórico.
O avanço do terrorismo específico do século XX é da negação do respeito a essa identidade, violentada pelo colonialismo dos últimos séculos, nascidos do monopólio civilizatório de que se investiu o Ocidente. O trabalho à nossa frente vai além dos mea culpa, tal como do arrependimento europeu, frente à escravidão ou à vitimização das culturas que viveram esta dominação chegada à sua visão de mundo e seu estilo de vida.
No quadro, hoje, do respeito às autonomias culturais, inclusive dentro do próprio Ocidente, organizações como a Academia da Latinidade querem frisar, tal como no mundo islâmico, as diferenças internas dessas dominantes de identidade. E por aí mesmo dissociar o "vis-à-vis" de nosso tempo de determinates geopolíticas históricas, e entender, por exemplo, a estratégia de um mundo mediterrâneo, que permita o enlace com a Turquia e o Oriente Médio, ou compreenda, numa legítima helenística, o que seja hoje o mundo Atlântico e a América Latina, passando ao Mar Aberto.
E é esse mundo das diferenças, no ganho de sua voz, que permitirá ao mundo do pós 11 de setembro sair das polaridades sem remédio em que possamos repetir a Guerra Fria em contrapontos estéries como o do centro e periferia. A pressão desde agora pela diferenciação ocidental dissociada, pela latinidade, do universo saxônico cria cabeças de ponto para o futuro pluralismo de encontro, fora da convensão do que seja o outro e os fatos consumados de um confronto.
No empenho de uma globalização liberada da hegemonia, a afirmação das identidades coletivas contemporâneas calça-se também sobre o patrimônio pré-ocidental da América Latina, nos reclamos da interculturalidade aymara ou quetchua nos países andinos.
Da mesma forma, o clamor pelos direitos humanos se torna a primeira plataforma para o universal do diálogo na atualidade, permitindo um consenso crescente quanto aos crimes contra a humanidade, do genocídio à tortura.
Não é sem razão que o potencial de uma iniciativa como a da Aliança das Civilizações tenha a Espanha ou a Turquia como fiadoras desses desbalizamentos dos universos de poder em que atravessamos o século. Seu enfoque e iniciativa assentam a ótica por onde pode começar o novo de uam visão realmente prospectiva, e dialética dos macroconflitos de nosso tempo.
Jornal do Commercio (RJ), 3/4/2009
3 comentários:
Pois é... O Mundo quer e precisa dialogar...
Tudo a nossa volta é temor e espanto. E, temor, muito mais que o espanto parece começar a alavancar os líderes mundiais a reconhecerem o terror que as sociedades –principalmente no olho do furacão dessa crise econômica mundial – podem, por manifestações de descontentamentos , gerar.
As pessoas estão desempregadas, as pessoas estão desesperadas, as pessoas estão com raiva. E, essa massa em ebulição é como um vulcão prestes a entrar em erupção.
Então, vamos falar de respeito às diferenças, vamos falar de equilíbrio, vamos ser parceiros... Pois é...
[De fato, como ouvi de um Pastor amigo, a palavra chave da Humanidade é RELACIONAMENTO. E, é do que a Bíblia trata o tempo todo.]
O Fórum da Aliança de Civilizações - em Istambul, Turquia - abriu nesta segunda-feira, dia 6, sua 2ª edição com essa esperança: “de criar um mundo mais pacífico”.
“O Objetivo desse fórum é promover o diálogo entre o Ocidente e o Mundo Islâmico, combater os extremismos e o terrorismo.”
O interessante é que ainda está na 2ª edição... Ano que vem, será aqui no Brasil.
Poxa vida... Só quando o medo da “revolta mundial” alcança todos os Líderes Mundiais que se começa a pensar, efetivamente, nessa possibilidade de diálogo e respeito.
Será que se não houvesse crise e todos estivessem interessados só em “olhar o próprio umbigo”, sem dó nem piedade dos mais “fracos ou menos importantes”- em termos de países e sociedades - também seria assim?
Bem... Eu oro para que haja realmente vontade de mudar “as coisas” e que haja tempo...
Taninha
Muito ba sua postagem, Taninha!
Talvez por ter mais experiência de vida, eu não tenha muita esperança. O 11 de setembro foi um capítulo à parte na História americana.
Os homens do poder, querem muito mais aparecer, e para isso inovam em idéias fabulosas como esta que se apresenta, mas um terceiro fator não deixa que se cumpra o prometido.
Hoje temos também a guerra da comunicação, onde existem os AEs , que impedem e desviam montanhas de dinheiro especificamente para armas.
Que Deus ouça sua prece e a de muitos.
O primeiro passo foi dado.
Vamos aguardar com fé, que tudo se realize para uma pacificação maior.
Beijos
Mirse
Querida Taninha,
Ontem visitei um dos seus blogs e hoje estou por aqui.
Quero compartilhar com você um grupo que eu participo chamado Blogs Educativos. É um espaço para educadores dividirem as suas experiências e se ajudarem mutuamente.
Se você clicar no selinho do grupo que está no meu blog NA DANÇA DAS PALAVRAS, poderá fazer a sua inscrição e participar também.
Grande abraço!
Com carinho,
Leonor Cordeiro
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