Maicon celebra primeiro gol do Brasil na Copa do Mundo 2010 - foto: Reuters
Sempre que eu escrevo aqui sobre futebol, tem umas senhoras que reclamam.
Acontece que, em primeiro lugar, eu adoro futebol. Em segundo, minha cara, se o Roberto DaMatta escreveu, se o Verissimo escreveu, se o Ubaldo escreveu e o pau não comeu, por que não eu? Viram?, estou até rimando.
É que eu tenho uma teoria sobre o nosso futebol paraguaio. Não sou homem de muitas teorias, sempre fui um prático. Mas há 30 anos, exatamente desde a Copa de 70, venho acompanhando a queda do nosso futebol. De lá para cá - exceção da seleção de 82 -, é sempre um sufoco assistir aos jogos da nossa seleção. Até contra o Panamá, país onde passa um canal no meio do campo, a gente ficou na agonia durante exatamente 61 minutos.
A minha teoria é a seguinte. Até 70, não havia substituições no jogo.
Machucou, saía e continuava com dez. Ali começou o imbróglio. Com as três substiuições, veio o banco de reservas. E com o banco, ele, o técnico. Deus.
Era aqui que eu queria chegar. Depois deixaram o Deus ficar de pé. E gritar.
Gritar palavrão, dar ordens, xingar, ameaçar, mandar fazer isso ou aquilo.
Sendo dono da coisa, da cabeça e do talento dos nossos meninos.
Ou seja, o técnico quer que o jogador faça o que ele quer e não o que o jogador sabe. Fico a imaginar um técnico gritando com o Garrincha, que dribrava para trás. A pedir para o Pelé não entrar pela direita. Teve um até que chegou a dizer que o Pelé estava ficando cego. Céus.
O jogador brasileiro tem aquele nível cultural que você conhece. É tímido, envergonhado, semi-analfabeto. Hoje, erram uma jogada e olham para o banco.
Já reparou? E, quando acertam, vão lá beijar o dono deles, o pai deles, o homem que pensa por eles.
A minha idéia é acabar com esse negócio de substituição e deixar os onze craques lá dentro. E eles se virarem entre eles. Eles perceberem com o talento que o verdadeiro Deus lhes deu e se ajeitarem. Vai voltar a criatividade e a ginga dos moleques canarinhos.
Eu não sei qual é a sua profissão. Mas imagine você trabalhando e um sujeito (que se julga superior a você, mas nunca fez aquilo) martelando no seu ouvido.
Fico imaginando eu aqui, escrevendo e um sujeito gritando ao meu lado:
- Olha a vírgula, porra! Olha a vírgula!!!
Sem saber onde é que eu ia terminar a frase.
- O parágrafo tá ficando grande! Corta! Corta!
- Tá usando muita reticência... Assim o leitor não agüenta. Olha o trema do agüenta!!!
- Crase, não! Você não sabe colocar crase. Não inventa!!! Escreva o feijão-com-arroz.
E quando eu dou uma paradinha para pensar, lá vem ele de novo:
- Pára de valorizar a palavra. Vai logo para a linha final e cruza uma exclamação.
Eu olho para ele e já não sei o que era mesmo que eu pretendia com a linha de cima.
Mas ele, ali na beira da mesa, gritando comigo. Dizendo palavrões que eu não posso colocar aqui. Eu começo a pensar numa frase bonita para correr até ele e dar um beijo. Ajeito o título.
- Isso é título que se apresente, rapaz!!! Muda o título. Mude o tipo. Use corrier, arial não está com nada. Olha o espaço! Olha o espaço, porra! Assim não vai dar. Olha o tempo. O pessoal da redação está ligando. Pensa na ilustração.
Já estou pensando em ser substituído. Estou cansado.
- Vamos cara, falta só um parágrafo. Vai mais para a esquerda, o texto tá meio reacionário. Olha a revisão. Jeito não é com g!!! Cobre o espaço!
Já pensou? Os jogadores devem ficar lá dentro com a mesma aflição. Não existe mais jogador. Existe aquele homem ali, que entende de tudo, que se veste bonito, fala bonito e - geralmente - é um tremendo de um mau-caráter e seu vocabulário se resume a palavrões e chavões.
Tirem aquele homem de dentro do campo, pelo amor de Deus, pelo amor e talento aos nossos craques. Ninguém trabalha sob pressão, com palpites.
Bem fazia o Feola, campeão de 58, que dormia nos treinos e deixava a garotada trabalhar com prazer.
o estado de s. paulo
15/08/2001
Mário Prata
8 comentários:
Fantástico texto.
Infelizmente o futebol está infestado de "manager" que se dizem especialistas e que geralmente foram jogadores medíocres.
Vide sr.Luxemburgo, Muricy e cia..
Nem vamos entrar no mérito do salário,né ?
Perfeito.
Eu acho esse texto muito interessante. Remete a muitas questões que envolvem o aprendizado...
Obrigada por comentar.
Ah, que bom reler o texto e ver que ele ainda está valendo. Obrigado por postar.
Mario Prata
Mac.prata@terra.com.br
Claro!!
Esta crônica é atemporal! Maravilhosa!
Como eu disse, remete a muitos contextos pertinentes ao aprendizado - entre eles, o futebol!!
Adorei o site! Obrigada, digo eu!
Tania
BELEZA TANINHA, MARAVILHA. AMEI. TEU BLOG TÁ UMA DELÍCIA.
BJS.
Oi, Well!!
Saudade!!
Obrigada, bjs!
Olá Minina Taninha:
Somente agora, ainda no hotel, consegui entrar no blog. Ontem, quando estavamos em contato fiquei sem net. Como já mencionei, minha cidade é uma calamidade. Tem 3 usinas hidroelétricas e as quedas de energia são constantes. Não consegui ler ontem, pois viajei após o contato.
Agora, com mais calma, li e reli e também vibrei com o comentário do Prata. Valeu Minina. Valeuuuuuu mesmo. É muito importante saber que o Teu Blog consegue atingir os objetivos primeiros. Maravilha. Fiquei e Estou muitíssimo feliz. Desejo também que Você, mais que dileta Amiga:
"ESTEJA E SEJA E FIQUE FELIZ!"
Bjus
Luiz de Almeida & Blog Retalhos do Modernismo & No Rastro da Educação, Cultura e Política.
Obrigada, amigo querido!
Bjs!
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