Olavo de Carvalho [visite o site]
Diário do Comércio, 21 de outubro de 2010
Os signatários do recente manifesto de acadêmicos em favor da candidatura Dilma Rousseff apresentam-se, com modéstia exemplar, como "professores e pesquisadores de filosofia". Não ousam denominar-se filósofos porque no fundo sabem que não o são nem o serão jamais, mas também porque esperam que a mídia, por automatismo, lhes dê essa qualificação imerecida ao publicar a porcaria com o nome de "Manifesto dos Filósofos", conferindo-lhes o título honroso no mesmo ato em que os dispensa do vexame de atribuí-lo a si mesmos.
A filosofia surgiu na Grécia como um esforço de apreender e dizer o "ser" das coisas. A palavra "ser" implica o reconhecimento de uma realidade objetiva estruturada, inteligível, comunicável de homem a homem. O empreendimento filosófico voltava-se diretamente contra uma tradição de ensino para a qual o ser e a realidade objetiva não contavam, podendo ser livremente inventados pela força da palavra e da persuasão. Essa tradição denominava-se "sofística".
Decorridos vinte e cinco séculos, a denominação inverteu-se. O que se chama de filosofia em muitas universidades, especialmente no Brasil, é a convicção de que não existe realidade nenhuma e tudo é construído pela linguagem. Quem ouse praticar a filosofia no sentido que tinha em Sócrates, Platão e Aristóteles, é marginalizado como reacionário indigno de atenção. A sofística, com o nome de "desconstrucionismo", é o que hoje ostenta nos documentos oficiais o nome da sua velha inimiga, a filosofia.
Atribuindo psicoticamente à fala humana o poder criador do Logos divino, Martin Heidegger, militante nazista aposentado e um dos ídolos do establishment acadêmico, declara: "A linguagem é a morada do ser" – como se o ato de falar existisse fora e acima da realidade, e não dentro dela.
No mesmo espírito, Ernesto Laclau, no livro "Hegemonia e Estratégia Socialista" – talvez a proposta política mais influente nos meios esquerdistas das três últimas décadas – ensina que o partido revolucionário não precisa representar nenhum interesse social objetivo e nenhuma classe existente: pode criar esse interesse e essa classe retroativamente, pela força do discurso e da propaganda. O PT, que surgiu como partido de estudantes e socialites, gabando-se por isso de ser a voz das pessoas mais inteligentes (v. o estudo feito em 2000 pelo cientista político André Singer: http://epoca.globo.com/edic/20000717/brasil3a.htm), criou com dinheiro do governo a classe pobre que o apóia, e passou desde então a ser o partido dos desamparados e analfabetos, condenando os outros partidos como representantes da elite letrada. Na mesma lógica, a "democracia", segundo Laclau, é um "significante vazio", ao qual o partido revolucionário pode atribuir o sentido que bem lhe convenha. O PT designa com esse nome a aliança entre o governo e as massas alimentadas com dinheiro dos impostos, aliança montada em cima da destruição de todos os poderes intermediários, a começar pela mídia. Que essa aliança e essa destruição, historicamente, tenham sido a estratégia essencial de todos os regimes tirânicos do mundo (leiam Bertrand de Jouvenel, "Do Poder: História Natural do seu Crescimento"), é um detalhe irrisório: o "significante vazio" admite todos os conteúdos – com a vantagem adicional de que o eleitorado, ao ouvir a palavra "democracia" nas bocas dos próceres petistas, imagina que se trata de democracia no sentido tradicional do termo, porque não leu Ernesto Laclau e não sabe que eles a usam como palavra-código de duas caras, com um significado esotérico para os iniciados e outro, exotérico, para enganar os trouxas.
Não espanta que os servidores das duas maiores mentiras do século XX – o comunismo e o nazismo – tenham acabado por aderir maciçamente à teoria da onipotência criadora das palavras. Essas ideologias juravam basear-se numa descrição completa e objetiva da realidade, capaz de fundamentar a previsão acertada e científica do curso da História. Quando a História as desmentiu da maneira mais acachapante, os adeptos de ambas as correntes, em vez de penitenciar-se de seus erros e crimes, preferiram redobrar o blefe: apelaram ao desconstrucionismo e proclamaram que a realidade não existia mesmo, que tudo era uma questão do jeito de falar.
Também não espanta que, nessas condições, os inimigos de ontem se tornassem amigos, unidos no mesmo projeto sublime de trocar os fatos por uma ficção verbal eficiente. É por isso que tantos comunistas e socialistas amam de paixão os nazistas Martin Heidegger e Paul de Man. Nada une as pessoas mais apaixonadamente do que um projeto solidário de ludibriar todas as outras.
O Manifesto, por exemplo, declara que "Dilma Rousseff tem sido alvo de campanha difamatória baseada em ilações sobre suas convicções espirituais e na deliberada distorção das posições do atual governo sobre o aborto."
Em que consiste a "campanha difamatória"? Em dizer que a candidata petista defende a liberação do aborto. E a "deliberada distorção das posições do atual governo sobre o aborto"? Consiste em dizer que o governo quer liberar o aborto.
Desde quando publicar verdades bem documentadas é "campanha difamatória"? A lógica dessa rotulação é a mesma que o conhecido "professor e pesquisador de filosofia", João Carlos Quartim de Moraes, seguiu quando se gabou de ter cumprido pena de prisão pelo assassinato do capitão americano Charles Chandler e em seguida saiu posando de difamado ao ver que, iludido por essa declaração, da qual não tinha motivos para duvidar, eu o qualificava de assassino político condenado pela Justiça. Segundo Quartim de Moraes, acreditar em Quartim de Moraes é crime. Mudar de significado no dia seguinte é um dos mais deliciosos privilégios da mentira.
Do mesmo modo, quem assista ao vídeo http://www.youtube.com/watch?v=TdjN9Lk67Io, e ali veja e ouça Dilma Rousseff expressando seu apoio irrestrito à liberação do aborto, se tornará automaticamente um difamador se acreditar que ela disse o que disse.
No mesmo espírito do manifesto, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos jura: "O PNDH-3 não trata da legalização do aborto. Sua redação sobre o tema é: 'Considerar o aborto como tema de saúde pública, com garantia do acesso aos serviços de saúde'."
Todo leitor no pleno uso de suas faculdades mentais compreende imediatamente que "garantir o acesso ao serviço de saúde" é até mais do que legalizar o aborto: é sustentá-lo com dinheiro público. Mas compreender o sentido originário do texto é crime, porque, segundo a escola de pensamento dominante, nenhum texto tem sentido originário nenhum: o que vale é o sentido retroativo que a parte interessada lhe atribui quando vê nisso alguma vantagem. Os signatários do Manifesto foram educados na mentalidade "desconstrucionista" que apaga a realidade e o sentido para lhes substituir a "vontade de poder" (além de Heidegger, eles adoram Nietzsche) e a estratégia da tagarelice onipotente. É compreensível que, nessas condições, desejem ardentemente passar por filósofos, mas, no íntimo, se sintam um pouco inibidos de declarar que o são.
23 outubro, 2010
15 outubro, 2010
"Aos mestres, com carinho..."
Professor
Carlos Drummond de Andrade
O professor disserta
Sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
Cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudi-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz
Com medo de acordá-lo.
Professores: eternos injustiçados
Ninguém entende o papel do professor, ele é um eterno injustiçado, prosseguiu o jornalista. Ele lembrou que a educação passa por três níveis: família, escola e comunidade, sendo que a parte da escola e do professor, representa apenas 30% desse conjunto. Entretanto as pessoas acreditam que os professores tem poder e condições para resolver e desenvolver toda a educação dos jovens.
"Não é possível melhorar a escola sem melhorar a saúde, e esse não é um problema do professor", disse. Ele lembrou que a questão das drogas não é um problema, mas sim o que está por detrás dele, porque um jovem que segue esse caminho, invariavelmente tem baixa estima, falta de perspectivas, acreditando que o futuro não será melhor que o presente, que geralmente é muito violento.
Dimestein disse que nada é mais importante que o conhecimento, revelando que a leitura sempre lhe trouxe enormes benefícios, sendo que isso é comum na sua religião, a judaica, pois desde criança, são obrigados a lêr, defendendo a educação e informação. Para o jornalista deve haver envolvimento entre a comunidade e a escola, falando de um projeto desenvolvido no bairro onde mora em São Paulo, Vila Madalena. Ele mostrou que uma escola estava para ser fechada, pois o local tido como boêmio, é também considerado violento. Através do envolvimento com diversos setores da comunidade a escola foi restaurada, elevando a auto-estima de alunos e professores, sendo que hoje é uma nova escola, sendo muito procurada, afirmando que deve ser sempre procurado esse envolvimento, finalizou.
07 outubro, 2010
Oito anos depois de Lula, mercados veem 2º turno com cautela
Rafael Spuldar
Da BBC Brasil em São Paulo
Os mercados, que se agitaram em 2002 com a possível eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a sucessão de Fernando Henrique Cardoso, agora veem com cautela o segundo turno da disputa presidencial entre José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), segundo analistas entrevistados pela BBC Brasil.
Oito anos atrás, diante da provável vitória de Lula, o dólar subia, as avaliações das agências de risco pioravam e até o megainvestidor George Soros dizia que o Brasil daria um calote na dívida.
O então candidato do PT teve que vir a público para garantir a manutenção dos compromissos com credores, restaurar a tranquilidade no sistema financeiro e abrir caminho para a oposição da época chegar ao Planalto.
Agora, com a retomada do crescimento e o clima de otimismo na economia brasileira, Lula é governo, faz campanha por Dilma e é o tucano Serra – justamente o candidato derrotado em 2002 - quem tem de convencer o eleitor a apostar em uma mudança no Planalto.
Para o diretor da consultoria Prospectiva, Ricardo Sennes, "temor" é uma palavra muito forte para avaliar a reação do mercado a uma possível vitória de Serra. Ele diz, no entanto, que diversos setores consideram o tucano um interlocutor mais difícil de negociar do que Dilma.
"Serra tem convicções fortes em alguns temas, o que não o torna muito palatável para ouvir certas sugestões", afirmou Sennes à BBC Brasil.
Já o professor de Ambiente Econômico Global do Insper, Otto Nogami, vê no mercado uma "certa desconfiança" quanto a Serra, mas acrescenta que um governo do PSDB seria mais favorável ao setor privado por, supostamente, favorecer um crescimento mais "estruturado", a partir de uma política fiscal mais conservadora.
"Muita gente diz que a continuidade do governo (do PT) seria melhor para ganhar dinheiro, mas não necessariamente para criar uma situação sólida para a economia", avalia Nogami.
Política monetária
Os dois especialistas concordam ao afirmar que sinais dados por Serra de possíveis mudanças na política monetária e cambial, incluindo ajustes na governança do Banco Central e na cotação do real, por exemplo, podem gerar incerteza e estimular cautela no mercado, mas sem consequências mais graves.
"Interferências nas leis de mercado, seja de câmbio ou juros, não são muito bem vistas, surge certa preocupação", diz Nogami. Ele acrescenta, entretanto, que qualquer instabilidade que possa ocorrer na bolsa de valores será pontual.
Sennes também admite que "a forma e o conteúdo" das possíveis intervenções de Serra podem gerar expectativa, mas lembra que o tucano tem uma relação muito boa com o setor financeiro desde a criação, em 1995, do Proer - programa que possibilitou a reestruturação dos bancos brasileiros durante a sua gestão como ministro do Planejamento (1995-1996).
O sócio-diretor da LCA Consultoria, Fernando Sampaio, vê no Congresso um maior potencial gerador de incerteza quanto a um governo de Serra. Para ele, dificuldades na montagem de uma base parlamentar preocupariam mais o mercado de ações do que a incerteza nas diretrizes econômicas.
Tanto Sampaio como Sennes veem o setor empresarial dividido quanto a apoiar um ou outro candidato no segundo turno. Segundo o diretor da LCA, os interesses específicos setoriais causam uma "dispersão de posicionamentos".
Já o diretor da Prospectiva diz ser "curioso" que o setor privado se divida entre Dilma e Serra. "Em geral, supõe-se que um candidato de centro teria mais apoio do empresariado, mas o governo Lula e a Dilma conseguem ter um relacionamento positivo com vários setores", afirma.
Reação em Wall Street
Atento ao resultado da eleição no Brasil, o mercado americano parecia já contar com uma vitória de Dilma no primeiro turno. O diretor do Eurasia Group, Christopher Garman, diz que seus clientes em Wall Street "não queriam mais nem updates (novidades)" sobre as eleições.
Segundo Garman, a única dúvida era sobre quem seriam os ministros no governo de Dilma. "Agora, acho que os investidores vão começar a olhar a eleição com um pouco mais de atenção", afirma.
"A política americana não é guiada apenas pela economia", diz o codiretor do Center for Economic and Policy Research, Mark Weisbrot. "Se fosse assim, haveria um empate entre os que preferem Dilma e os que preferem Serra."
"Grande parte dos empresários prefere a Dilma", acrescenta. "Ainda lembram do que Serra fez quando era ministro."
Em 2001, à frente da pasta da Saúde, Serra ameaçou quebrar a patente de medicamentos utilizados no "coquetel" para o tratamento do vírus HIV, como o Nelfinavir (fabricado pelo laboratório Roche) e o Efavirenz (do Merck Sharpe & Dohme), alegando alto custo para a compra dos remédios.
Com a ameaça, os laboratórios reduziram os preços, e as patentes foram mantidas. No entanto, em 2007, o presidente Lula determinou a quebra da patente do Efavirenz.
Sennes e Nogami concordam que o setor de saúde poderia ter uma resistência maior a uma eleição de Serra. Por outro lado, Nogami avalia que os setores voltados à infraestrutura veriam a vitória de Serra com bons olhos, por ter um perfil voltado ao setor produtivo.
O diretor da Prospectiva acrescenta que o tucano, considerando as suas declarações e a sua biografia, pode dar um "choque de competitividade" em diversas áreas como a de autopeças.
"Para Serra, um mercado bem regulado e com forte concorrência funciona melhor do que uma situação em que uma estatal esteja como linha dominante", afirma Sennes.
* Colaborou Alessandra Correa, da BBC Brasil em Washington
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http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/10/101006_serra_mercados_rp.shtml
Leia também: Porque um, porque outro
Da BBC Brasil em São Paulo
Os mercados, que se agitaram em 2002 com a possível eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a sucessão de Fernando Henrique Cardoso, agora veem com cautela o segundo turno da disputa presidencial entre José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), segundo analistas entrevistados pela BBC Brasil.
Oito anos atrás, diante da provável vitória de Lula, o dólar subia, as avaliações das agências de risco pioravam e até o megainvestidor George Soros dizia que o Brasil daria um calote na dívida.
O então candidato do PT teve que vir a público para garantir a manutenção dos compromissos com credores, restaurar a tranquilidade no sistema financeiro e abrir caminho para a oposição da época chegar ao Planalto.
Agora, com a retomada do crescimento e o clima de otimismo na economia brasileira, Lula é governo, faz campanha por Dilma e é o tucano Serra – justamente o candidato derrotado em 2002 - quem tem de convencer o eleitor a apostar em uma mudança no Planalto.
Para o diretor da consultoria Prospectiva, Ricardo Sennes, "temor" é uma palavra muito forte para avaliar a reação do mercado a uma possível vitória de Serra. Ele diz, no entanto, que diversos setores consideram o tucano um interlocutor mais difícil de negociar do que Dilma.
"Serra tem convicções fortes em alguns temas, o que não o torna muito palatável para ouvir certas sugestões", afirmou Sennes à BBC Brasil.
Já o professor de Ambiente Econômico Global do Insper, Otto Nogami, vê no mercado uma "certa desconfiança" quanto a Serra, mas acrescenta que um governo do PSDB seria mais favorável ao setor privado por, supostamente, favorecer um crescimento mais "estruturado", a partir de uma política fiscal mais conservadora.
"Muita gente diz que a continuidade do governo (do PT) seria melhor para ganhar dinheiro, mas não necessariamente para criar uma situação sólida para a economia", avalia Nogami.
Política monetária
Os dois especialistas concordam ao afirmar que sinais dados por Serra de possíveis mudanças na política monetária e cambial, incluindo ajustes na governança do Banco Central e na cotação do real, por exemplo, podem gerar incerteza e estimular cautela no mercado, mas sem consequências mais graves.
"Interferências nas leis de mercado, seja de câmbio ou juros, não são muito bem vistas, surge certa preocupação", diz Nogami. Ele acrescenta, entretanto, que qualquer instabilidade que possa ocorrer na bolsa de valores será pontual.
Sennes também admite que "a forma e o conteúdo" das possíveis intervenções de Serra podem gerar expectativa, mas lembra que o tucano tem uma relação muito boa com o setor financeiro desde a criação, em 1995, do Proer - programa que possibilitou a reestruturação dos bancos brasileiros durante a sua gestão como ministro do Planejamento (1995-1996).
O sócio-diretor da LCA Consultoria, Fernando Sampaio, vê no Congresso um maior potencial gerador de incerteza quanto a um governo de Serra. Para ele, dificuldades na montagem de uma base parlamentar preocupariam mais o mercado de ações do que a incerteza nas diretrizes econômicas.
Tanto Sampaio como Sennes veem o setor empresarial dividido quanto a apoiar um ou outro candidato no segundo turno. Segundo o diretor da LCA, os interesses específicos setoriais causam uma "dispersão de posicionamentos".
Já o diretor da Prospectiva diz ser "curioso" que o setor privado se divida entre Dilma e Serra. "Em geral, supõe-se que um candidato de centro teria mais apoio do empresariado, mas o governo Lula e a Dilma conseguem ter um relacionamento positivo com vários setores", afirma.
Reação em Wall Street
Atento ao resultado da eleição no Brasil, o mercado americano parecia já contar com uma vitória de Dilma no primeiro turno. O diretor do Eurasia Group, Christopher Garman, diz que seus clientes em Wall Street "não queriam mais nem updates (novidades)" sobre as eleições.
Segundo Garman, a única dúvida era sobre quem seriam os ministros no governo de Dilma. "Agora, acho que os investidores vão começar a olhar a eleição com um pouco mais de atenção", afirma.
"A política americana não é guiada apenas pela economia", diz o codiretor do Center for Economic and Policy Research, Mark Weisbrot. "Se fosse assim, haveria um empate entre os que preferem Dilma e os que preferem Serra."
"Grande parte dos empresários prefere a Dilma", acrescenta. "Ainda lembram do que Serra fez quando era ministro."
Em 2001, à frente da pasta da Saúde, Serra ameaçou quebrar a patente de medicamentos utilizados no "coquetel" para o tratamento do vírus HIV, como o Nelfinavir (fabricado pelo laboratório Roche) e o Efavirenz (do Merck Sharpe & Dohme), alegando alto custo para a compra dos remédios.
Com a ameaça, os laboratórios reduziram os preços, e as patentes foram mantidas. No entanto, em 2007, o presidente Lula determinou a quebra da patente do Efavirenz.
Sennes e Nogami concordam que o setor de saúde poderia ter uma resistência maior a uma eleição de Serra. Por outro lado, Nogami avalia que os setores voltados à infraestrutura veriam a vitória de Serra com bons olhos, por ter um perfil voltado ao setor produtivo.
O diretor da Prospectiva acrescenta que o tucano, considerando as suas declarações e a sua biografia, pode dar um "choque de competitividade" em diversas áreas como a de autopeças.
"Para Serra, um mercado bem regulado e com forte concorrência funciona melhor do que uma situação em que uma estatal esteja como linha dominante", afirma Sennes.
* Colaborou Alessandra Correa, da BBC Brasil em Washington
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http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/10/101006_serra_mercados_rp.shtml
Leia também: Porque um, porque outro
Entenda por que as eleições no Brasil importam no cenário internacional - BBC Brasil
Índice de atualidades
Uma democracia gigante, com 135 milhões de eleitores, e com um sistema de votação elogiado internacionalmente, o Brasil atraiu a atenção mundial durante a escolha de seu próximo presidente, no último dia 3 de outubro.
O interesse pelo pleito, no entanto, vai além de uma simples curiosidade pelo processo eleitoral do país: o mundo quer saber quem governará uma nação de economia ascendente e com um papel geopolítico cada vez mais forte.
Por outro lado, a maior projeção do país também chama a atenção internacional para questões internas – e muitas vezes nem tão positivas, como a violência e a pobreza.
As preparações para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016, além da exploração das reservas do pré-sal, completam o quadro de um país que tende a estar com sua imagem cada vez mais exposta à comunidade internacional.
Veja os principais motivos que levam as eleições brasileiras a serem alvo de atenção internacional.
Economia
Poucos países deixaram a crise financeira internacional para trás de forma tão rápida quanto o Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer perto de 7,5% este ano, após uma retração de 0,2% em 2009 – resultado que, apesar de negativo, ficou acima da média, considerando as principais economias do mundo.
Mas não é só a rápida recuperação que vem animando investidores estrangeiros. Com um crescimento médio de 4,8% de 2002 a 2008, o Brasil tem conseguido aliar expansão econômica com inflação sob controle.
O resultado é uma crescente classe média com apetite para o consumo, que tem sido o principal motor da economia do país. Somente no 1º semestre deste ano, a demanda interna cresceu 8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Mas o próximo governo também terá desafios: a taxa de juros do país, descontada a inflação, é uma das maiores do mundo. A carga tributária chega a 36% do PIB, a maior da América Latina, e o país investe pouco, o equivalente a 17,9% do PIB – quando na China e na Índia chega-se a 43% e 34%, respectivamente.
Mas o ambiente macroeconômico favorável, somado a projetos vultosos (dentre eles a exploração de petróleo em camadas profundas e a realização da Copa do Mundo em 2014) deixam os investidores otimistas quanto ao Brasil. Muitos deles, inclusive, já veem o país entre as cinco maiores economias do mundo em um prazo de 15 anos.
Papel geopolítico crescente
Os defensores da diplomacia brasileira costumam dizer que o Brasil “mudou seu patamar” nas relações internacionais e que não existe mais “mesa” em que o país não esteja representado.
Ainda que essa maior participação seja motivo de controvérsia entre os especialistas, o fato é o que o Brasil vem se tornando cada vez mais atuante em determinados fóruns internacionais, sobretudo quando o assunto é economia e meio ambiente.
Um exemplo desse novo papel geopolítico está na participação do país no G20 financeiro, que ganhou destaque em função da crise internacional de 2008.
O Brasil tem sido uma das principais vozes dentre os emergentes em busca de uma nova ordem econômica mundial, com maior peso para esses países em organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Dono da maior floresta tropical do mundo e grande usuário de energia limpa, o Brasil também se tornou presença constante nas discussões sobre mudança do clima no âmbito das Nações Unidas.
Em novembro do ano passado, o país figurou, ao lado de Estados Unidos, União Europeia, China, Índia e África do Sul, entre os principais negociadores da reunião de Copenhague sobre mudanças climáticas.
Os mais críticos, no entanto, argumentam que, apesar dessa maior participação, o país está longe de alcançar resultados concretos, já que o sistema internacional continua sendo conduzido pelas grandes potências.
Política externa mais agressiva
Não é apenas nos fóruns internacionais que o Brasil tem tido papel mais agressivo: a política externa bilateral também se acentuou nos últimos anos, com maior destaque para as relações Sul-Sul.
De olho em uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, o país vem buscando um maior alinhamento com governos de regiões até então pouco exploradas pelo Itamaraty, caso da África e do Oriente Médio.
Recentemente, o Brasil atraiu os holofotes internacionais ao intermediar, junto com a Turquia, um acordo nuclear com o Irã, gerando certa insatisfação no governo americano.
Ao mesmo tempo em que é saudada pela diplomacia brasileira, a aproximação com o governo de Mahmoud Ahmadinejad tem gerado uma série de críticas a Brasília, que não estaria usando sua influência junto ao país persa para tentar atenuar supostos abusos em direitos humanos.
O aprofundamento das relações com países africanos também tem sido uma importante marca da diplomacia brasileira, interessada não apenas em ampliar seu leque de aliados políticos, mas também diversificar suas opções de investimento no exterior.
Por outro lado, alguns analistas costumam apontar um certo “excesso” nas pretensões brasileiras. O argumento é de que a diplomacia brasileira estaria colocando a ideologia política à frente dos interesses econômicos e comerciais do país.
População
Com uma população de 191 milhões de pessoas, o Brasil é o quinto maior do mundo nessa categoria, atrás apenas de China, Índia, Estados Unidos e Indonésia.
Considerando a taxa média de fecundidade entre 2002 e 2006, que foi de 1,5 filho por mulher, o Brasil chegará ao ano de 2020 com uma população de 207 milhões de pessoas, segundo estimativas.
Apesar da tendência de queda, a parcela dos jovens no país ainda é expressiva: cerca de 32,8% da população é formada por pessoas com até 19 anos de idade. Há dez anos, porém, essa mesma parcela era de 40%.
Esse crescimento impõe uma série de desafios ao país, dentre eles uma melhor estrutura em transporte e moradia. De acordo com a ONU, o Brasil tem 55 milhões de pessoas vivendo em favelas ou em outros tipos de moradias inadequadas.
Agricultura e pecuária
Se por um lado o Brasil ainda deixa a desejar quando o assunto é a produtividade na indústria, o mesmo não se pode dizer do campo: o país é um dos maior produtores de alimentos do mundo e ainda tem um alto potencial de expansão.
Nos últimos dez anos, a produção total de alimentos saiu de 80 milhões de toneladas para quase 150 milhões – um crescimento de 87%. O país é o maior exportador mundial de suco de laranja, açúcar, frango, carne bovina e café, além de ser o segundo maior em soja.
Diante do crescimento da população mundial e da necessidade de abastecer um maior número de pessoas com uma dieta cada vez mais diferenciada, alguns especialistas têm apontado o Brasil como “celeiro” do mundo.
O apelido leva em consideração não apenas o que o país produz e exporta atualmente, mas principalmente seu potencial de expansão: segundo as Nações Unidas, o Brasil tem 50 milhões de hectares de terra sob cultivo e outros 300 milhões de hectares aráveis, mais do que qualquer outro país.
Mas apesar do espaço “de sobra”, a expansão do cultivo deverá esbarrar em alguns desafios, como a qualidade de vida no campo e a pressão sobre áreas protegidas.
Para muitos ambientalistas, uma possível alta nos preços das commodities, somada a uma fiscalização ineficiente, podem colocar em risco os biomas da Amazônia e do Cerrado.
Desafios sociais
O Brasil vem conseguindo melhorar seus principais indicadores sociais nos últimos anos, muitas vezes em consequência do crescimento econômico e de uma inflação sob controle.
De 2003 a 2008, cerca de 32 milhões de brasileiros deixaram as classes D e E, ingressando nas classes A, B e C, segundo estimativas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
No que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que considera riqueza, educação e expectativa de vida ao nascer, o país tem melhorado seu desempenho a cada ano, mas ainda está na 75ª posição dentre 115 países – praticamente o mesmo patamar verificado em 2002.
Quando a desigualdade de renda é contabilizada, o país tem um desempenho pior do que a média da América Latina, segundo a ONU.
As diferenças regionais também constituem um dos principais desafios do país nos próximos anos. Um levantamento recente do IBGE mostra que 99,8% das cidades do Estado de São Paulo eram servidas com rede de esgoto em 2008, enquanto no Piauí apenas 4,5% dos municípios eram atendidos.
Outro tema que costuma atrair a atenção internacional para o Brasil, a violência ainda tem indicadores que colocam o Brasil no topo dos rankings mundiais.
Ainda que o indicador tenha melhorado nas capitais, a taxa média de homicídios ainda é alta: 25,2 para cada grupo de 100 mil habitantes.
Créditos: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/09/100928_entenda_elecoes_fp_rc.shtml
Uma democracia gigante, com 135 milhões de eleitores, e com um sistema de votação elogiado internacionalmente, o Brasil atraiu a atenção mundial durante a escolha de seu próximo presidente, no último dia 3 de outubro.
O interesse pelo pleito, no entanto, vai além de uma simples curiosidade pelo processo eleitoral do país: o mundo quer saber quem governará uma nação de economia ascendente e com um papel geopolítico cada vez mais forte.
Por outro lado, a maior projeção do país também chama a atenção internacional para questões internas – e muitas vezes nem tão positivas, como a violência e a pobreza.
As preparações para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016, além da exploração das reservas do pré-sal, completam o quadro de um país que tende a estar com sua imagem cada vez mais exposta à comunidade internacional.
Veja os principais motivos que levam as eleições brasileiras a serem alvo de atenção internacional.
Economia
Poucos países deixaram a crise financeira internacional para trás de forma tão rápida quanto o Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer perto de 7,5% este ano, após uma retração de 0,2% em 2009 – resultado que, apesar de negativo, ficou acima da média, considerando as principais economias do mundo.
Mas não é só a rápida recuperação que vem animando investidores estrangeiros. Com um crescimento médio de 4,8% de 2002 a 2008, o Brasil tem conseguido aliar expansão econômica com inflação sob controle.
O resultado é uma crescente classe média com apetite para o consumo, que tem sido o principal motor da economia do país. Somente no 1º semestre deste ano, a demanda interna cresceu 8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Mas o próximo governo também terá desafios: a taxa de juros do país, descontada a inflação, é uma das maiores do mundo. A carga tributária chega a 36% do PIB, a maior da América Latina, e o país investe pouco, o equivalente a 17,9% do PIB – quando na China e na Índia chega-se a 43% e 34%, respectivamente.
Mas o ambiente macroeconômico favorável, somado a projetos vultosos (dentre eles a exploração de petróleo em camadas profundas e a realização da Copa do Mundo em 2014) deixam os investidores otimistas quanto ao Brasil. Muitos deles, inclusive, já veem o país entre as cinco maiores economias do mundo em um prazo de 15 anos.
Papel geopolítico crescente
Os defensores da diplomacia brasileira costumam dizer que o Brasil “mudou seu patamar” nas relações internacionais e que não existe mais “mesa” em que o país não esteja representado.
Ainda que essa maior participação seja motivo de controvérsia entre os especialistas, o fato é o que o Brasil vem se tornando cada vez mais atuante em determinados fóruns internacionais, sobretudo quando o assunto é economia e meio ambiente.
Um exemplo desse novo papel geopolítico está na participação do país no G20 financeiro, que ganhou destaque em função da crise internacional de 2008.
O Brasil tem sido uma das principais vozes dentre os emergentes em busca de uma nova ordem econômica mundial, com maior peso para esses países em organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Dono da maior floresta tropical do mundo e grande usuário de energia limpa, o Brasil também se tornou presença constante nas discussões sobre mudança do clima no âmbito das Nações Unidas.
Em novembro do ano passado, o país figurou, ao lado de Estados Unidos, União Europeia, China, Índia e África do Sul, entre os principais negociadores da reunião de Copenhague sobre mudanças climáticas.
Os mais críticos, no entanto, argumentam que, apesar dessa maior participação, o país está longe de alcançar resultados concretos, já que o sistema internacional continua sendo conduzido pelas grandes potências.
Política externa mais agressiva
Não é apenas nos fóruns internacionais que o Brasil tem tido papel mais agressivo: a política externa bilateral também se acentuou nos últimos anos, com maior destaque para as relações Sul-Sul.
De olho em uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, o país vem buscando um maior alinhamento com governos de regiões até então pouco exploradas pelo Itamaraty, caso da África e do Oriente Médio.
Recentemente, o Brasil atraiu os holofotes internacionais ao intermediar, junto com a Turquia, um acordo nuclear com o Irã, gerando certa insatisfação no governo americano.
Ao mesmo tempo em que é saudada pela diplomacia brasileira, a aproximação com o governo de Mahmoud Ahmadinejad tem gerado uma série de críticas a Brasília, que não estaria usando sua influência junto ao país persa para tentar atenuar supostos abusos em direitos humanos.
O aprofundamento das relações com países africanos também tem sido uma importante marca da diplomacia brasileira, interessada não apenas em ampliar seu leque de aliados políticos, mas também diversificar suas opções de investimento no exterior.
Por outro lado, alguns analistas costumam apontar um certo “excesso” nas pretensões brasileiras. O argumento é de que a diplomacia brasileira estaria colocando a ideologia política à frente dos interesses econômicos e comerciais do país.
População
Com uma população de 191 milhões de pessoas, o Brasil é o quinto maior do mundo nessa categoria, atrás apenas de China, Índia, Estados Unidos e Indonésia.
Considerando a taxa média de fecundidade entre 2002 e 2006, que foi de 1,5 filho por mulher, o Brasil chegará ao ano de 2020 com uma população de 207 milhões de pessoas, segundo estimativas.
Apesar da tendência de queda, a parcela dos jovens no país ainda é expressiva: cerca de 32,8% da população é formada por pessoas com até 19 anos de idade. Há dez anos, porém, essa mesma parcela era de 40%.
Esse crescimento impõe uma série de desafios ao país, dentre eles uma melhor estrutura em transporte e moradia. De acordo com a ONU, o Brasil tem 55 milhões de pessoas vivendo em favelas ou em outros tipos de moradias inadequadas.
Agricultura e pecuária
Se por um lado o Brasil ainda deixa a desejar quando o assunto é a produtividade na indústria, o mesmo não se pode dizer do campo: o país é um dos maior produtores de alimentos do mundo e ainda tem um alto potencial de expansão.
Nos últimos dez anos, a produção total de alimentos saiu de 80 milhões de toneladas para quase 150 milhões – um crescimento de 87%. O país é o maior exportador mundial de suco de laranja, açúcar, frango, carne bovina e café, além de ser o segundo maior em soja.
Diante do crescimento da população mundial e da necessidade de abastecer um maior número de pessoas com uma dieta cada vez mais diferenciada, alguns especialistas têm apontado o Brasil como “celeiro” do mundo.
O apelido leva em consideração não apenas o que o país produz e exporta atualmente, mas principalmente seu potencial de expansão: segundo as Nações Unidas, o Brasil tem 50 milhões de hectares de terra sob cultivo e outros 300 milhões de hectares aráveis, mais do que qualquer outro país.
Mas apesar do espaço “de sobra”, a expansão do cultivo deverá esbarrar em alguns desafios, como a qualidade de vida no campo e a pressão sobre áreas protegidas.
Para muitos ambientalistas, uma possível alta nos preços das commodities, somada a uma fiscalização ineficiente, podem colocar em risco os biomas da Amazônia e do Cerrado.
Desafios sociais
O Brasil vem conseguindo melhorar seus principais indicadores sociais nos últimos anos, muitas vezes em consequência do crescimento econômico e de uma inflação sob controle.
De 2003 a 2008, cerca de 32 milhões de brasileiros deixaram as classes D e E, ingressando nas classes A, B e C, segundo estimativas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
No que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que considera riqueza, educação e expectativa de vida ao nascer, o país tem melhorado seu desempenho a cada ano, mas ainda está na 75ª posição dentre 115 países – praticamente o mesmo patamar verificado em 2002.
Quando a desigualdade de renda é contabilizada, o país tem um desempenho pior do que a média da América Latina, segundo a ONU.
As diferenças regionais também constituem um dos principais desafios do país nos próximos anos. Um levantamento recente do IBGE mostra que 99,8% das cidades do Estado de São Paulo eram servidas com rede de esgoto em 2008, enquanto no Piauí apenas 4,5% dos municípios eram atendidos.
Outro tema que costuma atrair a atenção internacional para o Brasil, a violência ainda tem indicadores que colocam o Brasil no topo dos rankings mundiais.
Ainda que o indicador tenha melhorado nas capitais, a taxa média de homicídios ainda é alta: 25,2 para cada grupo de 100 mil habitantes.
Créditos: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/09/100928_entenda_elecoes_fp_rc.shtml
04 outubro, 2010
ZELIG À BRASILEIRA - Cristóvão Tezza
Lula me lembra Zelig, o hilariante personagem do filme homônimo de Woody Allen, que vai se transformando fisicamente diante dos outros, para ficar parecido com eles. Como no “documentário” sobre Zelig, o tempo todo vemos nosso herói sorrindo com Obama na Casa Branca, falando sério em Copenhague, altissonante no Mercosul, companheiro na Bolívia, nobre em Buckingham, comunista em Cuba, católico no Vaticano e por aí vai. Segundo a tradição miscigenante da cultura brasileira, Lula, como Zelig, transforma-se camaleônico no que for preciso de modo a ficar sempre no mesmo lugar – é uma “metamorfose ambulante”, como ele mesmo se definiu. Na lógica astuta do país, tudo se rege por um senso perpétuo de amortecimento de conflitos e adequação biológica ao meio ambiente.
Seu governo é a expressão de nada; o herói carismático vê-se carregado nos ombros da mais azeitada e obediente máquina partidária do Brasil moderno, que funde um projeto messiânico-revolucionário com a burocracia democrática colocada a seu serviço, a cada dia mais esvaziada politicamente. A única ideologia que resta é uma política externa esfarrapada que dá tapinhas nas costas de Ahmadinejad e ruge furioso contra a eleição de Honduras, que poderia, pela simples força do bom-senso, recolocá-la nos trilhos; que devolve em poucas horas à ditadura cubana dois atletas fugitivos e resiste tenazmente a extraditar para a Itália alguém condenado por crimes comuns num Estado de Direito.
Fala em “pragmatismo” e perde todas as eleições em que se mete nos fóruns internacionais, enquanto ri na fotografia.
O imenso Brasil popular que veio à tona por força do Plano Real e do otimismo econômico dos anos 90 parece ter encontrado em Zelig o seu mantra político-religioso.
O que fazer com o povo brasileiro que, súbito, está nas ruas, de celular na mão direita e tacape na esquerda? Nada a estranhar nos maços de dinheiro enfiados em cuecas e bolsos do DEM e do PT, abençoados por rezas compungidas de ladrões sinceros – como Lula se apressou a dizer, são cenas “que não falam por si”. Afinal, o país de maior mobilidade social do mundo é também o único em que um deputado fraudando um painel de um Congresso Nacional vai se tornar em pouco tempo, inocente, governador do Distrito Federal.
Nada melhorou em nenhuma área. A educação básica patina nos seus piores índices de sempre – enquanto abrem-se dezenas de universidades federais prontas a ocupar o rabagésimo lugar de relevância sob qualquer critério. A lógica que nos arrasta é a da mendicância e a do pátio dos milagres – empresários mendigos, políticos mendigos e povo mendigo, esperando de boca aberta e mão espalmada o sorriso de Silvio Santos a jogar dinheiro na plateia. Faltava um bom ator para o papel – o próprio Silvio Santos até que tentou, mas levou uma rasteira jurídica mais esperta ainda na alvorada de Collor.
Agora, Lula é o cara.
Seu governo é a expressão de nada; o herói carismático vê-se carregado nos ombros da mais azeitada e obediente máquina partidária do Brasil moderno, que funde um projeto messiânico-revolucionário com a burocracia democrática colocada a seu serviço, a cada dia mais esvaziada politicamente. A única ideologia que resta é uma política externa esfarrapada que dá tapinhas nas costas de Ahmadinejad e ruge furioso contra a eleição de Honduras, que poderia, pela simples força do bom-senso, recolocá-la nos trilhos; que devolve em poucas horas à ditadura cubana dois atletas fugitivos e resiste tenazmente a extraditar para a Itália alguém condenado por crimes comuns num Estado de Direito.
Fala em “pragmatismo” e perde todas as eleições em que se mete nos fóruns internacionais, enquanto ri na fotografia.
O imenso Brasil popular que veio à tona por força do Plano Real e do otimismo econômico dos anos 90 parece ter encontrado em Zelig o seu mantra político-religioso.
O que fazer com o povo brasileiro que, súbito, está nas ruas, de celular na mão direita e tacape na esquerda? Nada a estranhar nos maços de dinheiro enfiados em cuecas e bolsos do DEM e do PT, abençoados por rezas compungidas de ladrões sinceros – como Lula se apressou a dizer, são cenas “que não falam por si”. Afinal, o país de maior mobilidade social do mundo é também o único em que um deputado fraudando um painel de um Congresso Nacional vai se tornar em pouco tempo, inocente, governador do Distrito Federal.
Nada melhorou em nenhuma área. A educação básica patina nos seus piores índices de sempre – enquanto abrem-se dezenas de universidades federais prontas a ocupar o rabagésimo lugar de relevância sob qualquer critério. A lógica que nos arrasta é a da mendicância e a do pátio dos milagres – empresários mendigos, políticos mendigos e povo mendigo, esperando de boca aberta e mão espalmada o sorriso de Silvio Santos a jogar dinheiro na plateia. Faltava um bom ator para o papel – o próprio Silvio Santos até que tentou, mas levou uma rasteira jurídica mais esperta ainda na alvorada de Collor.
Agora, Lula é o cara.
.(Gazeta do Povo, 15/12/09, p. 3)
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