29 dezembro, 2008

A crise na educação - Arnaldo Niskier




Temos 14 milhões de analfabetos e uma pós-graduação de Primeiro Mundo. O ensino fundamental foi praticamente universalizado, mas a qualidade deixa muito a desejar. A educação profissional e o ensino médio ainda não encontraram o caminho certo. Os cursos de formação de professores são lamentáveis, como são lamentáveis os salários pagos aos quadros do magistério.
Faculdades de Pedagogia entregam ao mercado de trabalho docentes incapazes de assumir uma sala de aula. Por quê? Porque muitos desses professores trazem limitações oriundas de uma educação básica falha. Cometem erros crassos de ortografia, têm dificuldade na compreensão de textos e total desconhecimento de conceitos científicos imprescindíveis. Saem do curso de Pedagogia sem se livrar dessas dificuldades.
A mentalidade que reina no mundo acadêmico supervaloriza a teoria e menospreza a prática. O trabalho concreto em sala de aula é colocado no segundo plano.Briga-se para pagar o piso de 400 dólares mensais aos professores de ensino fundamental, por 40 horas semanais, quando o Japão paga 2.000 dólares aos seus mestres. Cinco vezes mais!
Veja-se o sistema de cotas. A reserva de 50% de vagas, nas universidades federais, para alunos egressos das escolas públicas onde tenham estudado todo o ensino médio, apresenta preferências étnicas que são rigorosamente inconstitucionais. Vagas serão preenchidas por descendentes de negros, pardos, indígenas, na proporção da população de cada Estado. Cotas raciais não têm amparo legal e, na verdade, camuflam a leniência oficial em relação à qualidade do ensino público, este sim a merecer toda espécie inadiável de apoio. E tem mais: é uma agressão à autonomia universitária. Haverá ainda a reserva de metade das vagas para os estudantes de famílias com renda igual ou inferior a um salário mínimo e meio per capita.
Se a Carta Magna proíbe a discriminação por motivo de raça, não é defensável o argumento de que se deve impor o movimento contrário. Vivemos um tempo difícil, em nosso País, fruto também da desordem econômica mundial. Temos hoje cerca de 20 mil cursos superiores e a maioria deles se ressente da necessária excelência. Para complicar as coisas, os jovens desconhecem a chamadas “profissões do futuro”, aquelas ligadas à alta tecnologia, genética e meio ambiente. Preferem os cursos tradicionais, desconhecendo a saturação que ocorre, sobretudo nos grandes centros urbanos, em profissões como Medicina e Direito (são dados do vestibular de 2008 da Fuvest).
Há uma sedução pelas profissões midiáticas, como publicidade e propaganda, jornalismo, audiovisual e artes cênicas, que estão entre as dez mais procuradas, com um pormenor essencial: são aquelas onde ocorre maior índice de desistências, pois o mercado de trabalho é bastante restrito. A geração nascida entre 1980 e 1995 é vítima desse equívoco. A era da interatividade não tem ajudado na escolha profissional adequada. É um panorama altamente preocupante.

3 comentários:

Tania Anjos disse...

Eu assisti a um debate na TV Senado com Juiz Federal William Douglas (branco) e o advogado José Roberto Militão (negro)
falando sobre as cotas nas Universidades Federais.

O advogado José Roberto Militão - Advogado integrante da OAB-SP - dizia que o regime de cotas reforça a questão da raça. Onde há uma raça superior e uma inferior [negros]. Enfatizava que o estado não deve reafirmar a questão racial e sim a questão humana.
Concordo com ele.

Pois, de fato, "tira-se a vaga de brancos e pobres para pretos e pobres. E o investimento do Estado?" Questionava o advogado.

O Juiz Federal, professor e escritor Willian Douglas, contra-argumentou que 50% da população é negra e 50% da população é branca. Dizia também, que o negro sempre tem um salário inferior.Esclarecia e e defendia que a cota racial é para compensar a discriminação que existe hoje, não a que havia no passado.

Bem... Eu acho que a questão é que se houvesse, de fato, investimento na Educação de qualidade, privilegiando não apenas as teorias, mas principalmente a prática, que é onde tudo acontece. Se na Educação não se poupassem esforços e nem dinheiro - para recursos humanos principalmente -, a situação seria bem outra.

Há pouco tempo ouvi um debate que focava a questão dos gastos com os presos.Para manter apenas um, gasta-se mais que o dobro do que se gasta com um aluno para mantê-lo na escola.Onde, resumindo:

o Fundamental não trabalha o fundamental; o Nível Médio se perde na mediação e as Universidades soltam profissionais altamente desqualificados com um diploma ou diplomas que não generalizando, claro, me remete a Brás Cubas quando diz:" A universidade me atestou, em pergaminho, uma ciência que eu estou longe de trazer arraigada em meu cérebro."

É isso... Como já disse o Ministro da Educação, não há uma bala de prata para resolver tudo. Mas começando a investir DINHEIRO na Educação como prioridade, fico esperançosa e otimista.


Bjs, Taninha

Unknown disse...

Infelizmente o Brasil não leva a EDUCAÇÃO à sério. E um país só depende da EDUCAÇÃO. Junto a ela, e interligadas, estão a SAÚDE, Alimentação etc... Discute-se muito e faz-se quase nada. A questão de cotas, é ao meu ver um modo a mais de discriminar quem quer que seja.
Ao meu ver enquanto se discute este tipo de problema, nenhuma atitude séria é tomada a favor da EDUCAÇÃO como mola mestra de um País.

Mirze

Tania Anjos disse...

É sim, Mirze.

O problema é "mais embaixo". Eu fiz um comentário por aqui, onde coloquei a respeito da lentidão no avanço das ações educativas. Veja: só em 1961 – estabeleceram quatro anos de escolaridade obrigatória... Imagine a quantidade de crianças que estiveram fora da escola antes dessa data.

Em minha opinião, o investimento na educação sempre foi mínimo e colocado em segundo ou terceiro plano. O Brasil é enorme e o que vemos no Rio ou São Paulo, por exemplo, não nos dá nem a vaga idéia do que ocorre no país como um todo.

A questão é muito séria.

Bjs.