16 dezembro, 2010
Agência Senado - 16/12/2010 - Marina Silva avalia os últimos 16 anos de sua trajetória e despede-se do Senado
Agência Senado - 16/12/2010 - Marina Silva avalia os últimos 16 anos de sua trajetória e despede-se do Senado
Em longo e emocionado discurso na tarde desta quinta-feira (16), a senadora Marina Silva (PV-AC) fez um balanço dos últimos 16 anos de sua trajetória e despediu-se do Senado Federal recebendo elogios de seus pares. A senadora agradeceu a sua família, a toda a sua equipe e assessores do Senado e do Ministério do Ambiente, citou nominalmente senadores e deputados de diversos partidos e elogiou a dedicação dos servidores do Senado.
Em 1995, aos 36 anos, lembrou Marina Silva, ela chegava ao Senado para seu primeiro mandato como a mais jovem senadora. Ela recordou seu primeiro discurso da tribuna da Casa, quando registrou sua história política e pessoal, uma seringueira que só se alfabetizaria pelo Mobral aos 16 anos de idade e alcançou o Senado Federal.
- Tenho imensa gratidão pelo povo acreano. Não tenho nada a exigir, a cobrar do povo acreano. Só tenho que agradecer. Nada disso teria acontecido se não fosse pelas suas mãos - disse a senadora lembrando algumas frases de seu primeiro pronunciamento na Casa.
Marina Silva disse ter pautado sua atuação no Senado em três diretrizes básicas: opinião, proposição e articulação. Opinião baseada em princípios e valores, na ética e na moral. Articulação em busca de apoio e diálogo com os mais diversos partidos e setores sociais.
- No que concerne a ser um mandato de proposição, durante esses 16 anos, com um intervalo de 5 anos no Ministério do Meio Ambiente [2003-2007], foi apresentado um conjunto de projetos dos quais tenho muito orgulho. Foram 125 proposições, algumas delas transformadas em lei - explicou.
A senadora se disse de certa forma triste por não ter conseguido ver aprovado um de seus primeiros projetos de lei, o que instituiria a Lei de Acesso aos Recursos da Biodiversidade.
- Saio daqui com essa frustração. Saio daqui com essa falta, a falta de que o Brasil não tem uma lei para proteger e usar, com sabedoria, os 22% de espécies vivas que estão no nosso domínio territorial, só para citar um exemplo - acrescentou.
Lembrou ainda de várias conquistas pelas quais lutou para ver consolidadas: linha de crédito para extrativistas, subsídio para a borracha, Programa Amazônia Solidária, Comissão da Pobreza, luta contra mudanças no Código Florestal, novo modelo para o setor elétrico, diminuição do desmatamento da Amazônia, criação do Serviço Florestal Brasileiro e do Instituto Chico Mendes, Plano Nacional de Recursos Hídricos, Plano de Combate à Desertificação.
- No mandato, fiquei até 2002, quando tive a honra de ser convidada pelo Presidente Lula para ser sua Ministra do Meio Ambiente. E confesso aos senhores que me senti muito honrada com esse convite. Eu o aceitei como um desafio - disse, recordando ter estabelecido que sua gestão à frente do ministério orientaria a política nacional de meio ambiente pelo controle e pela participação da sociedade. E que o sistema nacional do meio ambiente deveria ser fortalecido, ao passo que o desenvolvimento brasileiro deveria ser sustentável e a política ambiental transversal, envolvendo diversos ministérios.
Marina disse ter ficado no Ministério do Meio Ambiente até o momento em que sentiu apoio para suas ações.
- Cerca de 24 milhões de hectares de unidades de conservação foram criados durante minha gestão. Essa é uma contribuição para a proteção permanente que a sociedade brasileira ajudou a estabelecer durante o governo do presidente Lula. Todos aqueles que trabalharam os mapas dos biomas, as áreas prioritárias para as unidades de conservação sabem que, com critério, criamos essas unidades de conservação - acrescentou a senadora, que também relembrou sua saída do PT, em 2009, onde militou por 30 anos, para o PV, um partido pequeno.
A senadora voltou a agradecer a todos os que confiaram a ela seu voto nas eleições de outubro.
Apartes
Em apartes, os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Pedro Simon (PMDB-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF), Marisa Serrano (PSDB-MS), Marco Maciel (DEM-PE), Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), Jefferson Praia (PDT-AM), Adelmir Santana (DEM-DF), Marconi Perillo (PSDB-GO) elogiaram a trajetória de Marina Silva como senadora, ministra, candidata presidencial e militante.
Suplicy declarou sua admiração e respeito pela colega e elogiou a campanha presidencial de Marina.
- Estaremos juntos até o resto de nossas vidas - afirmou Suplicy.
Simon disse que o Congresso ficará com um grande vazio sem Marina Silva, afirmou que a candidatura presidencial da colega - que alcançou quase 20% dos votos nas eleições - "foi muito significativa para a sociedade brasileira" e sugeriu que Marina, a partir de agora, percorra todo o Brasil para disseminar suas ideias e convicções.
- Vossa excelência tem de percorrer o Brasil. Tem de levar adiante a sua caminhada, as suas ideias, os seus princípios, os seus pensamentos, mulher de ideias fantásticas, de beleza, de amor, de fraternidade - declarou Simon.
Marco Maciel disse esperar que a colega permaneça na vida pública, "dando sua contribuição, que é muito importante nesse campo da biodiversidade, entre outros temas".
Cristovam se ofereceu para ajudar Marina na divulgação de suas ideias, opiniões e projetos.
- Conte comigo, como o seu seguidor aqui, para ler os seus discursos, para apresentar os seus projetos de lei, para continuar a sua luta, para que este país faça a inflexão que a gente vem querendo há dezesseis anos, e que o povo está cansando de esperar por governos que se sucedem com acertos, tímidos, com avanços, mas não com mudança. A senhora representava a mudança, e eu espero que continue na luta, e use a gente para essa sua luta - afirmou Cristovam.
Marisa Serrano disse que Marina Silva é um exemplo para todas as mulheres brasileiras. Garibaldi afirmou que a campanha presidencial de Marina foi vitoriosa por ter chamado a atenção de todo o Brasil para a importância das questões ambientais.
Jefferson Praia declarou que Marina é uma referência na luta pelas questões ambientais para o povo brasileiro. Adelmir Santana também ofereceu-se para ajudar a colega na disseminação das ideias em prol do da conservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável. Perillo afirmou que a colega é um patrimônio de todos os brasileiros.
Da Redação / Agência Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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Assuntos Relacionados: Biodiversidade, Congresso, Crédito, Eleições, Governo, Lula, Mandato, Meio Ambiente, Mulher, Oposição
08 dezembro, 2010
19 novembro, 2010
"Inexistência cigana"
Minha homenagem:
Audio
Senador Paulo Paim, para mim é uma honra sentar ao seu lado, pela pessoa digna que o senhor é. Tenho certeza de que Deus, Senador, continuará lhe abençoando e lhe protegendo, porque o senhor é um ser humano muito especial. (Palmas.)Eu quero apresentar a vocês um Brasil invisível, um Brasil que a maioria não conhece. Eu quero apresentar a vocês o Brasil cigano, de ciganos que sempre foram considerados intrusos. O dogma nazista para os ciganos era “vidas indignas de serem vividas”. Houve também o holocausto cigano, onde em torno de 600 mil roms foram exterminados.
Por toda a Europa havia a política anticigana. Os ciganos foram escravizados durante 600 anos na Moldávia e Valáquia, que eram principados feudais onde hoje é a Romênia, e vieram para o Brasil no degredo de Portugal, no ano de 1750. Eles só podiam descer no Maranhão, onde havia muitos índios e muito mato. Então, os ciganos tinham que disputar esse espaço com os índios e não tinham o direito sequer à moradia, a estudo, e hoje estamos no ano de 2010.
Falo dos ciganos kalons, porque sou kalin, que são os ciganos de acampamento. Em torno de 800 mil ciganos neste País não são cidadãos porque não têm direito sequer a uma certidão de nascimento. È um Brasil cigano invisível, que ninguém conhece, um povo que precisa de dignidade, respeito e esperança. (Palmas.)Então, Senador, quero lhe agradecer mais uma vez porque, há mais ou menos um ano, estive aqui e pedi ao senhor que ressaltasse que este País é composto por brancos, negros, índios e ciganos e o senhor, após um único contato que tive com o senhor, pelo que acompanho de seus discursos e seus trabalhos, nunca mais deixou de citar os ciganos. (Palmas.)No dia 26 de maio, o senhor nos deu a oportunidade de ter a primeira audiência pública e de eu poder falar em nome dos ciganos de acampamento deste País.
É uma realidade muito dura. Quando procuramos alguns políticos – informo que são em torno de 800 mil ciganos que não têm sequer certidão de nascimento –, a resposta que tenho é a seguinte: “ah, então vocês não votam”. Então nós não somos importantes.
Mas eu quero lhe pedir, Senador, que nos ouça e seja nossa voz, a voz desses ciganos que precisam ser cidadãos. Nós ainda não estamos sequer num estado de discriminação. Acho que vai um pouco além, vocês não acham? Nós sequer existimos, somos invisíveis, não fazemos parte da sociedade. Ninguém nos ouve. Muitos dizem que ciganos gostam de ser nômades. Não é essa a nossa realidade. Nós não temos oportunidade de ter onde morar. “Ciganos roubam”. Aonde chega um acampamento cigano...
Eu não vou longe, vou falar de Brasília. Aqui estão em torno de quatrocentas famílias, crianças que nunca foram à escola, a maioria sem certidão de nascimento. Hoje, estamos nos organizando. Fundamos essa associação, cuja sede é em minha casa. Não podemos acampar mais de quinze dias em nenhum local, porque chegam as autoridades policiais, queimam as barracas, batem nos ciganos e os expulsam.
Então, nós precisamos ser ouvidos quanto às nossas necessidades. Eu aqui quero deixar bem claro: não estou falando da elite cigana, mas dos ciganos de acampamento, dos ciganos que não têm direito a nada, não do folclore que se cria em torno dos ciganos. Nós acreditamos em Deus e é por Deus que nós ainda existimos. (Palmas.)Neste País, no sul de Minas, houve as correrias ciganas: era a luta para exterminar os ciganos. Os ciganos não foram aceitos na sociedade e tampouco no País.
Nós não vamos constar, em 2010, no Censo do IBGE, porque foi um recenseador em minha casa, e ele me perguntou: “Parda, branca ou índia?”. Eu disse: “Eu sou cigana”. “Mas nós não podemos colocar no Censo”. Portanto, nós não existimos. Então, eu não acredito que nós somos discriminados; nós somos simplesmente invisíveis e queremos, Senador, ter esperança de fazer parte desta Nação, ter orgulho de sermos cidadãos brasileiros, porque nós amamos este País.
Nós trabalhamos na construção deste País; nós transportamos mercadorias; nós fazíamos as vendas nas nossas tropas; nós fomos responsáveis por muitas entradas e bandeiras deste país. Portanto, nós temos o direito de existir.
E eu vos peço, Senador, que abrace nossa causa, porque eu não vejo... E eu falo em meu nome, em nome de todos os ciganos de acampamento deste País, porque eles acompanham o nosso trabalho aqui em Brasília. E eles estão na esperança de que, daqui, todos os ciganos possam ter dignidade e seus direitos.
Eu agradeço pela oportunidade de estar nesta Casa, no Senado da República, com uma pessoa tão digna quanto o senhor.
Que Deus abençoe a todos nós e a esse povo cigano! Opcha! (Palmas.)
01 novembro, 2010
Solilóquio sem fim e rio revolto - Jorge de Lima
mas em voz alta, e sempre os lábios duros
ruminando as palavras, e escutando
o que é consciência, lógica ou absurdo.
A memória em vigília alcança o solto
perpassar de episódios, uns futuros
e outros passados, vagos, ondulando
num implacável estribilho surdo.
E tudo num refrão atormentado:
memória, raciocínio, descalabro...
Há também a janela da amplidão;
e depois da janela esse esperado
postigo, esse último portão que eu abro
para a fuga completa da razão.
Jorge de Lima
(1893-1953)
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23 outubro, 2010
A onipotência da tagarelice
Diário do Comércio, 21 de outubro de 2010
Os signatários do recente manifesto de acadêmicos em favor da candidatura Dilma Rousseff apresentam-se, com modéstia exemplar, como "professores e pesquisadores de filosofia". Não ousam denominar-se filósofos porque no fundo sabem que não o são nem o serão jamais, mas também porque esperam que a mídia, por automatismo, lhes dê essa qualificação imerecida ao publicar a porcaria com o nome de "Manifesto dos Filósofos", conferindo-lhes o título honroso no mesmo ato em que os dispensa do vexame de atribuí-lo a si mesmos.
A filosofia surgiu na Grécia como um esforço de apreender e dizer o "ser" das coisas. A palavra "ser" implica o reconhecimento de uma realidade objetiva estruturada, inteligível, comunicável de homem a homem. O empreendimento filosófico voltava-se diretamente contra uma tradição de ensino para a qual o ser e a realidade objetiva não contavam, podendo ser livremente inventados pela força da palavra e da persuasão. Essa tradição denominava-se "sofística".
Decorridos vinte e cinco séculos, a denominação inverteu-se. O que se chama de filosofia em muitas universidades, especialmente no Brasil, é a convicção de que não existe realidade nenhuma e tudo é construído pela linguagem. Quem ouse praticar a filosofia no sentido que tinha em Sócrates, Platão e Aristóteles, é marginalizado como reacionário indigno de atenção. A sofística, com o nome de "desconstrucionismo", é o que hoje ostenta nos documentos oficiais o nome da sua velha inimiga, a filosofia.
Atribuindo psicoticamente à fala humana o poder criador do Logos divino, Martin Heidegger, militante nazista aposentado e um dos ídolos do establishment acadêmico, declara: "A linguagem é a morada do ser" – como se o ato de falar existisse fora e acima da realidade, e não dentro dela.
No mesmo espírito, Ernesto Laclau, no livro "Hegemonia e Estratégia Socialista" – talvez a proposta política mais influente nos meios esquerdistas das três últimas décadas – ensina que o partido revolucionário não precisa representar nenhum interesse social objetivo e nenhuma classe existente: pode criar esse interesse e essa classe retroativamente, pela força do discurso e da propaganda. O PT, que surgiu como partido de estudantes e socialites, gabando-se por isso de ser a voz das pessoas mais inteligentes (v. o estudo feito em 2000 pelo cientista político André Singer: http://epoca.globo.com/edic/20000717/brasil3a.htm), criou com dinheiro do governo a classe pobre que o apóia, e passou desde então a ser o partido dos desamparados e analfabetos, condenando os outros partidos como representantes da elite letrada. Na mesma lógica, a "democracia", segundo Laclau, é um "significante vazio", ao qual o partido revolucionário pode atribuir o sentido que bem lhe convenha. O PT designa com esse nome a aliança entre o governo e as massas alimentadas com dinheiro dos impostos, aliança montada em cima da destruição de todos os poderes intermediários, a começar pela mídia. Que essa aliança e essa destruição, historicamente, tenham sido a estratégia essencial de todos os regimes tirânicos do mundo (leiam Bertrand de Jouvenel, "Do Poder: História Natural do seu Crescimento"), é um detalhe irrisório: o "significante vazio" admite todos os conteúdos – com a vantagem adicional de que o eleitorado, ao ouvir a palavra "democracia" nas bocas dos próceres petistas, imagina que se trata de democracia no sentido tradicional do termo, porque não leu Ernesto Laclau e não sabe que eles a usam como palavra-código de duas caras, com um significado esotérico para os iniciados e outro, exotérico, para enganar os trouxas.
Não espanta que os servidores das duas maiores mentiras do século XX – o comunismo e o nazismo – tenham acabado por aderir maciçamente à teoria da onipotência criadora das palavras. Essas ideologias juravam basear-se numa descrição completa e objetiva da realidade, capaz de fundamentar a previsão acertada e científica do curso da História. Quando a História as desmentiu da maneira mais acachapante, os adeptos de ambas as correntes, em vez de penitenciar-se de seus erros e crimes, preferiram redobrar o blefe: apelaram ao desconstrucionismo e proclamaram que a realidade não existia mesmo, que tudo era uma questão do jeito de falar.
Também não espanta que, nessas condições, os inimigos de ontem se tornassem amigos, unidos no mesmo projeto sublime de trocar os fatos por uma ficção verbal eficiente. É por isso que tantos comunistas e socialistas amam de paixão os nazistas Martin Heidegger e Paul de Man. Nada une as pessoas mais apaixonadamente do que um projeto solidário de ludibriar todas as outras.
O Manifesto, por exemplo, declara que "Dilma Rousseff tem sido alvo de campanha difamatória baseada em ilações sobre suas convicções espirituais e na deliberada distorção das posições do atual governo sobre o aborto."
Em que consiste a "campanha difamatória"? Em dizer que a candidata petista defende a liberação do aborto. E a "deliberada distorção das posições do atual governo sobre o aborto"? Consiste em dizer que o governo quer liberar o aborto.
Desde quando publicar verdades bem documentadas é "campanha difamatória"? A lógica dessa rotulação é a mesma que o conhecido "professor e pesquisador de filosofia", João Carlos Quartim de Moraes, seguiu quando se gabou de ter cumprido pena de prisão pelo assassinato do capitão americano Charles Chandler e em seguida saiu posando de difamado ao ver que, iludido por essa declaração, da qual não tinha motivos para duvidar, eu o qualificava de assassino político condenado pela Justiça. Segundo Quartim de Moraes, acreditar em Quartim de Moraes é crime. Mudar de significado no dia seguinte é um dos mais deliciosos privilégios da mentira.
Do mesmo modo, quem assista ao vídeo http://www.youtube.com/watch?v=TdjN9Lk67Io, e ali veja e ouça Dilma Rousseff expressando seu apoio irrestrito à liberação do aborto, se tornará automaticamente um difamador se acreditar que ela disse o que disse.
No mesmo espírito do manifesto, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos jura: "O PNDH-3 não trata da legalização do aborto. Sua redação sobre o tema é: 'Considerar o aborto como tema de saúde pública, com garantia do acesso aos serviços de saúde'."
Todo leitor no pleno uso de suas faculdades mentais compreende imediatamente que "garantir o acesso ao serviço de saúde" é até mais do que legalizar o aborto: é sustentá-lo com dinheiro público. Mas compreender o sentido originário do texto é crime, porque, segundo a escola de pensamento dominante, nenhum texto tem sentido originário nenhum: o que vale é o sentido retroativo que a parte interessada lhe atribui quando vê nisso alguma vantagem. Os signatários do Manifesto foram educados na mentalidade "desconstrucionista" que apaga a realidade e o sentido para lhes substituir a "vontade de poder" (além de Heidegger, eles adoram Nietzsche) e a estratégia da tagarelice onipotente. É compreensível que, nessas condições, desejem ardentemente passar por filósofos, mas, no íntimo, se sintam um pouco inibidos de declarar que o são.
15 outubro, 2010
"Aos mestres, com carinho..."
Professor
Professores: eternos injustiçados
Ninguém entende o papel do professor, ele é um eterno injustiçado, prosseguiu o jornalista. Ele lembrou que a educação passa por três níveis: família, escola e comunidade, sendo que a parte da escola e do professor, representa apenas 30% desse conjunto. Entretanto as pessoas acreditam que os professores tem poder e condições para resolver e desenvolver toda a educação dos jovens.
"Não é possível melhorar a escola sem melhorar a saúde, e esse não é um problema do professor", disse. Ele lembrou que a questão das drogas não é um problema, mas sim o que está por detrás dele, porque um jovem que segue esse caminho, invariavelmente tem baixa estima, falta de perspectivas, acreditando que o futuro não será melhor que o presente, que geralmente é muito violento.
Dimestein disse que nada é mais importante que o conhecimento, revelando que a leitura sempre lhe trouxe enormes benefícios, sendo que isso é comum na sua religião, a judaica, pois desde criança, são obrigados a lêr, defendendo a educação e informação. Para o jornalista deve haver envolvimento entre a comunidade e a escola, falando de um projeto desenvolvido no bairro onde mora em São Paulo, Vila Madalena. Ele mostrou que uma escola estava para ser fechada, pois o local tido como boêmio, é também considerado violento. Através do envolvimento com diversos setores da comunidade a escola foi restaurada, elevando a auto-estima de alunos e professores, sendo que hoje é uma nova escola, sendo muito procurada, afirmando que deve ser sempre procurado esse envolvimento, finalizou.
07 outubro, 2010
Oito anos depois de Lula, mercados veem 2º turno com cautela
Da BBC Brasil em São Paulo
Os mercados, que se agitaram em 2002 com a possível eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a sucessão de Fernando Henrique Cardoso, agora veem com cautela o segundo turno da disputa presidencial entre José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), segundo analistas entrevistados pela BBC Brasil.
Oito anos atrás, diante da provável vitória de Lula, o dólar subia, as avaliações das agências de risco pioravam e até o megainvestidor George Soros dizia que o Brasil daria um calote na dívida.
O então candidato do PT teve que vir a público para garantir a manutenção dos compromissos com credores, restaurar a tranquilidade no sistema financeiro e abrir caminho para a oposição da época chegar ao Planalto.
Agora, com a retomada do crescimento e o clima de otimismo na economia brasileira, Lula é governo, faz campanha por Dilma e é o tucano Serra – justamente o candidato derrotado em 2002 - quem tem de convencer o eleitor a apostar em uma mudança no Planalto.
Para o diretor da consultoria Prospectiva, Ricardo Sennes, "temor" é uma palavra muito forte para avaliar a reação do mercado a uma possível vitória de Serra. Ele diz, no entanto, que diversos setores consideram o tucano um interlocutor mais difícil de negociar do que Dilma.
"Serra tem convicções fortes em alguns temas, o que não o torna muito palatável para ouvir certas sugestões", afirmou Sennes à BBC Brasil.
Já o professor de Ambiente Econômico Global do Insper, Otto Nogami, vê no mercado uma "certa desconfiança" quanto a Serra, mas acrescenta que um governo do PSDB seria mais favorável ao setor privado por, supostamente, favorecer um crescimento mais "estruturado", a partir de uma política fiscal mais conservadora.
"Muita gente diz que a continuidade do governo (do PT) seria melhor para ganhar dinheiro, mas não necessariamente para criar uma situação sólida para a economia", avalia Nogami.
Política monetária
Os dois especialistas concordam ao afirmar que sinais dados por Serra de possíveis mudanças na política monetária e cambial, incluindo ajustes na governança do Banco Central e na cotação do real, por exemplo, podem gerar incerteza e estimular cautela no mercado, mas sem consequências mais graves.
"Interferências nas leis de mercado, seja de câmbio ou juros, não são muito bem vistas, surge certa preocupação", diz Nogami. Ele acrescenta, entretanto, que qualquer instabilidade que possa ocorrer na bolsa de valores será pontual.
Sennes também admite que "a forma e o conteúdo" das possíveis intervenções de Serra podem gerar expectativa, mas lembra que o tucano tem uma relação muito boa com o setor financeiro desde a criação, em 1995, do Proer - programa que possibilitou a reestruturação dos bancos brasileiros durante a sua gestão como ministro do Planejamento (1995-1996).
O sócio-diretor da LCA Consultoria, Fernando Sampaio, vê no Congresso um maior potencial gerador de incerteza quanto a um governo de Serra. Para ele, dificuldades na montagem de uma base parlamentar preocupariam mais o mercado de ações do que a incerteza nas diretrizes econômicas.
Tanto Sampaio como Sennes veem o setor empresarial dividido quanto a apoiar um ou outro candidato no segundo turno. Segundo o diretor da LCA, os interesses específicos setoriais causam uma "dispersão de posicionamentos".
Já o diretor da Prospectiva diz ser "curioso" que o setor privado se divida entre Dilma e Serra. "Em geral, supõe-se que um candidato de centro teria mais apoio do empresariado, mas o governo Lula e a Dilma conseguem ter um relacionamento positivo com vários setores", afirma.
Reação em Wall Street
Atento ao resultado da eleição no Brasil, o mercado americano parecia já contar com uma vitória de Dilma no primeiro turno. O diretor do Eurasia Group, Christopher Garman, diz que seus clientes em Wall Street "não queriam mais nem updates (novidades)" sobre as eleições.
Segundo Garman, a única dúvida era sobre quem seriam os ministros no governo de Dilma. "Agora, acho que os investidores vão começar a olhar a eleição com um pouco mais de atenção", afirma.
"A política americana não é guiada apenas pela economia", diz o codiretor do Center for Economic and Policy Research, Mark Weisbrot. "Se fosse assim, haveria um empate entre os que preferem Dilma e os que preferem Serra."
"Grande parte dos empresários prefere a Dilma", acrescenta. "Ainda lembram do que Serra fez quando era ministro."
Em 2001, à frente da pasta da Saúde, Serra ameaçou quebrar a patente de medicamentos utilizados no "coquetel" para o tratamento do vírus HIV, como o Nelfinavir (fabricado pelo laboratório Roche) e o Efavirenz (do Merck Sharpe & Dohme), alegando alto custo para a compra dos remédios.
Com a ameaça, os laboratórios reduziram os preços, e as patentes foram mantidas. No entanto, em 2007, o presidente Lula determinou a quebra da patente do Efavirenz.
Sennes e Nogami concordam que o setor de saúde poderia ter uma resistência maior a uma eleição de Serra. Por outro lado, Nogami avalia que os setores voltados à infraestrutura veriam a vitória de Serra com bons olhos, por ter um perfil voltado ao setor produtivo.
O diretor da Prospectiva acrescenta que o tucano, considerando as suas declarações e a sua biografia, pode dar um "choque de competitividade" em diversas áreas como a de autopeças.
"Para Serra, um mercado bem regulado e com forte concorrência funciona melhor do que uma situação em que uma estatal esteja como linha dominante", afirma Sennes.
* Colaborou Alessandra Correa, da BBC Brasil em Washington
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http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/10/101006_serra_mercados_rp.shtml
Leia também: Porque um, porque outro
Entenda por que as eleições no Brasil importam no cenário internacional - BBC Brasil
Uma democracia gigante, com 135 milhões de eleitores, e com um sistema de votação elogiado internacionalmente, o Brasil atraiu a atenção mundial durante a escolha de seu próximo presidente, no último dia 3 de outubro.
O interesse pelo pleito, no entanto, vai além de uma simples curiosidade pelo processo eleitoral do país: o mundo quer saber quem governará uma nação de economia ascendente e com um papel geopolítico cada vez mais forte.
Por outro lado, a maior projeção do país também chama a atenção internacional para questões internas – e muitas vezes nem tão positivas, como a violência e a pobreza.
As preparações para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016, além da exploração das reservas do pré-sal, completam o quadro de um país que tende a estar com sua imagem cada vez mais exposta à comunidade internacional.
Veja os principais motivos que levam as eleições brasileiras a serem alvo de atenção internacional.
Economia
Poucos países deixaram a crise financeira internacional para trás de forma tão rápida quanto o Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer perto de 7,5% este ano, após uma retração de 0,2% em 2009 – resultado que, apesar de negativo, ficou acima da média, considerando as principais economias do mundo.
Mas não é só a rápida recuperação que vem animando investidores estrangeiros. Com um crescimento médio de 4,8% de 2002 a 2008, o Brasil tem conseguido aliar expansão econômica com inflação sob controle.
O resultado é uma crescente classe média com apetite para o consumo, que tem sido o principal motor da economia do país. Somente no 1º semestre deste ano, a demanda interna cresceu 8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Mas o próximo governo também terá desafios: a taxa de juros do país, descontada a inflação, é uma das maiores do mundo. A carga tributária chega a 36% do PIB, a maior da América Latina, e o país investe pouco, o equivalente a 17,9% do PIB – quando na China e na Índia chega-se a 43% e 34%, respectivamente.
Mas o ambiente macroeconômico favorável, somado a projetos vultosos (dentre eles a exploração de petróleo em camadas profundas e a realização da Copa do Mundo em 2014) deixam os investidores otimistas quanto ao Brasil. Muitos deles, inclusive, já veem o país entre as cinco maiores economias do mundo em um prazo de 15 anos.
Papel geopolítico crescente
Os defensores da diplomacia brasileira costumam dizer que o Brasil “mudou seu patamar” nas relações internacionais e que não existe mais “mesa” em que o país não esteja representado.
Ainda que essa maior participação seja motivo de controvérsia entre os especialistas, o fato é o que o Brasil vem se tornando cada vez mais atuante em determinados fóruns internacionais, sobretudo quando o assunto é economia e meio ambiente.
Um exemplo desse novo papel geopolítico está na participação do país no G20 financeiro, que ganhou destaque em função da crise internacional de 2008.
O Brasil tem sido uma das principais vozes dentre os emergentes em busca de uma nova ordem econômica mundial, com maior peso para esses países em organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Dono da maior floresta tropical do mundo e grande usuário de energia limpa, o Brasil também se tornou presença constante nas discussões sobre mudança do clima no âmbito das Nações Unidas.
Em novembro do ano passado, o país figurou, ao lado de Estados Unidos, União Europeia, China, Índia e África do Sul, entre os principais negociadores da reunião de Copenhague sobre mudanças climáticas.
Os mais críticos, no entanto, argumentam que, apesar dessa maior participação, o país está longe de alcançar resultados concretos, já que o sistema internacional continua sendo conduzido pelas grandes potências.
Política externa mais agressiva
Não é apenas nos fóruns internacionais que o Brasil tem tido papel mais agressivo: a política externa bilateral também se acentuou nos últimos anos, com maior destaque para as relações Sul-Sul.
De olho em uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, o país vem buscando um maior alinhamento com governos de regiões até então pouco exploradas pelo Itamaraty, caso da África e do Oriente Médio.
Recentemente, o Brasil atraiu os holofotes internacionais ao intermediar, junto com a Turquia, um acordo nuclear com o Irã, gerando certa insatisfação no governo americano.
Ao mesmo tempo em que é saudada pela diplomacia brasileira, a aproximação com o governo de Mahmoud Ahmadinejad tem gerado uma série de críticas a Brasília, que não estaria usando sua influência junto ao país persa para tentar atenuar supostos abusos em direitos humanos.
O aprofundamento das relações com países africanos também tem sido uma importante marca da diplomacia brasileira, interessada não apenas em ampliar seu leque de aliados políticos, mas também diversificar suas opções de investimento no exterior.
Por outro lado, alguns analistas costumam apontar um certo “excesso” nas pretensões brasileiras. O argumento é de que a diplomacia brasileira estaria colocando a ideologia política à frente dos interesses econômicos e comerciais do país.
População
Com uma população de 191 milhões de pessoas, o Brasil é o quinto maior do mundo nessa categoria, atrás apenas de China, Índia, Estados Unidos e Indonésia.
Considerando a taxa média de fecundidade entre 2002 e 2006, que foi de 1,5 filho por mulher, o Brasil chegará ao ano de 2020 com uma população de 207 milhões de pessoas, segundo estimativas.
Apesar da tendência de queda, a parcela dos jovens no país ainda é expressiva: cerca de 32,8% da população é formada por pessoas com até 19 anos de idade. Há dez anos, porém, essa mesma parcela era de 40%.
Esse crescimento impõe uma série de desafios ao país, dentre eles uma melhor estrutura em transporte e moradia. De acordo com a ONU, o Brasil tem 55 milhões de pessoas vivendo em favelas ou em outros tipos de moradias inadequadas.
Agricultura e pecuária
Se por um lado o Brasil ainda deixa a desejar quando o assunto é a produtividade na indústria, o mesmo não se pode dizer do campo: o país é um dos maior produtores de alimentos do mundo e ainda tem um alto potencial de expansão.
Nos últimos dez anos, a produção total de alimentos saiu de 80 milhões de toneladas para quase 150 milhões – um crescimento de 87%. O país é o maior exportador mundial de suco de laranja, açúcar, frango, carne bovina e café, além de ser o segundo maior em soja.
Diante do crescimento da população mundial e da necessidade de abastecer um maior número de pessoas com uma dieta cada vez mais diferenciada, alguns especialistas têm apontado o Brasil como “celeiro” do mundo.
O apelido leva em consideração não apenas o que o país produz e exporta atualmente, mas principalmente seu potencial de expansão: segundo as Nações Unidas, o Brasil tem 50 milhões de hectares de terra sob cultivo e outros 300 milhões de hectares aráveis, mais do que qualquer outro país.
Mas apesar do espaço “de sobra”, a expansão do cultivo deverá esbarrar em alguns desafios, como a qualidade de vida no campo e a pressão sobre áreas protegidas.
Para muitos ambientalistas, uma possível alta nos preços das commodities, somada a uma fiscalização ineficiente, podem colocar em risco os biomas da Amazônia e do Cerrado.
Desafios sociais
O Brasil vem conseguindo melhorar seus principais indicadores sociais nos últimos anos, muitas vezes em consequência do crescimento econômico e de uma inflação sob controle.
De 2003 a 2008, cerca de 32 milhões de brasileiros deixaram as classes D e E, ingressando nas classes A, B e C, segundo estimativas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
No que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que considera riqueza, educação e expectativa de vida ao nascer, o país tem melhorado seu desempenho a cada ano, mas ainda está na 75ª posição dentre 115 países – praticamente o mesmo patamar verificado em 2002.
Quando a desigualdade de renda é contabilizada, o país tem um desempenho pior do que a média da América Latina, segundo a ONU.
As diferenças regionais também constituem um dos principais desafios do país nos próximos anos. Um levantamento recente do IBGE mostra que 99,8% das cidades do Estado de São Paulo eram servidas com rede de esgoto em 2008, enquanto no Piauí apenas 4,5% dos municípios eram atendidos.
Outro tema que costuma atrair a atenção internacional para o Brasil, a violência ainda tem indicadores que colocam o Brasil no topo dos rankings mundiais.
Ainda que o indicador tenha melhorado nas capitais, a taxa média de homicídios ainda é alta: 25,2 para cada grupo de 100 mil habitantes.
Créditos: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/09/100928_entenda_elecoes_fp_rc.shtml
04 outubro, 2010
ZELIG À BRASILEIRA - Cristóvão Tezza
Seu governo é a expressão de nada; o herói carismático vê-se carregado nos ombros da mais azeitada e obediente máquina partidária do Brasil moderno, que funde um projeto messiânico-revolucionário com a burocracia democrática colocada a seu serviço, a cada dia mais esvaziada politicamente. A única ideologia que resta é uma política externa esfarrapada que dá tapinhas nas costas de Ahmadinejad e ruge furioso contra a eleição de Honduras, que poderia, pela simples força do bom-senso, recolocá-la nos trilhos; que devolve em poucas horas à ditadura cubana dois atletas fugitivos e resiste tenazmente a extraditar para a Itália alguém condenado por crimes comuns num Estado de Direito.
Fala em “pragmatismo” e perde todas as eleições em que se mete nos fóruns internacionais, enquanto ri na fotografia.
O imenso Brasil popular que veio à tona por força do Plano Real e do otimismo econômico dos anos 90 parece ter encontrado em Zelig o seu mantra político-religioso.
O que fazer com o povo brasileiro que, súbito, está nas ruas, de celular na mão direita e tacape na esquerda? Nada a estranhar nos maços de dinheiro enfiados em cuecas e bolsos do DEM e do PT, abençoados por rezas compungidas de ladrões sinceros – como Lula se apressou a dizer, são cenas “que não falam por si”. Afinal, o país de maior mobilidade social do mundo é também o único em que um deputado fraudando um painel de um Congresso Nacional vai se tornar em pouco tempo, inocente, governador do Distrito Federal.
Nada melhorou em nenhuma área. A educação básica patina nos seus piores índices de sempre – enquanto abrem-se dezenas de universidades federais prontas a ocupar o rabagésimo lugar de relevância sob qualquer critério. A lógica que nos arrasta é a da mendicância e a do pátio dos milagres – empresários mendigos, políticos mendigos e povo mendigo, esperando de boca aberta e mão espalmada o sorriso de Silvio Santos a jogar dinheiro na plateia. Faltava um bom ator para o papel – o próprio Silvio Santos até que tentou, mas levou uma rasteira jurídica mais esperta ainda na alvorada de Collor.
Agora, Lula é o cara.
26 setembro, 2010
100 anos de Lula Cardoso Ayres
Urariano Mota
Hoje faz 100 anos do nascimento de Lula Cardoso Ayres, artista múltiplo, recifense. Pintor grande em uma terra de grandes pintores como Cícero Dias e Vicente do Rego Monteiro, para somente falar de clássicos da moderna pintura brasileira, Lula achou pouco ser desenhista e pintor, e entrou pela fotografia, design, ilustração, pesquisador das gentes.
Em sua fase madura, aprendeu o povo sem apreendê-lo ou prendê-lo. Marcou para sempre as coisas da gente de Pernambuco, como se fosse um filtro humano, colorindo a a geometria. Ver, por exemplo, o que chamo "Cortadores de cana", http://www.bolsadearte.com/maio2000/maio2000lote39%20.jpg
Designer pioneiro no Brasil, desenhou marcas-símbolos-síntese para produtos que dão água na boca só em lembrá-los: lata da biscoitos Pilar, lata do azeite (que era óleo) Bem-te-vi.
Lula Cardoso Ayres se beneficiou do movimento dos comunistas, das esquerdas em geral, que puseram o povo como fonte e realização. (Ele pensava que havia captado isso com Gilberto Freyre, mas Freyre, na época, era reflexo desse movimento grande da esquerda no Brasil.)
Daí que há registros, registros, não, eternizações da cor e da cara da gente de Pernambuco. Tanto em pintura quanto em fotografia. Ver http://www.olhave.com.br/blog/wp-content/uploads/2010/06/Lula-Cardoso-Ayres-1.jpg Ele era um quase tarado pelas coisa de Pernambuco. Às vezes lírico, de um lirismo de arrepiar, como nessa aparição de mulher em um sobrado antigo, da série Assombrações do Recife, aqui http://www.bolsadearte.com/maio2001/imagem/086.jpg e aqui http://www.caiaffa.com/IMG/creditos/Opera/lulacardosoayres%28www.caiaffa.com%29.jpg
No parágrafo anterior, escrevi que Lula Cardoso Ayres era tarado pelas coisas de Pernambuco. Melhor dizendo, corrijo: pela amor e paixão pela terra, ele era antes um terrado. Universal por tara de sua terra.
25 setembro, 2010
O Fim: Venda o Seu Voto!
22 setembro, 2010
21 setembro, 2010
A Imprensa Golpista
Ola pessoal!
A grande impresa brasileira tem o péssimo costume de defender candidaturas sem assumir o que esta fazendo. Isso fica bem claro quando analisamos a conduta de jornais tradicionais como "O Estado de São Paulo" e "Folha de São Paulo", "revista Veja, e pela poderosa formadora de opinião, a "Rede Globo". Esses veículos não utilizam os editoriais para dizerem que são a favor de determinados candidatos. Fazem campanha descarada, disfarçada de noticiário. Isso é lamentável. Na grande imprensa, apenas a revista "Carta Capital", do jornalista Mino Carta, teve a coragem e a ousadia de declarar em editorial que: era a favor de tal candidatura, pois a considerava a melhor. Os outros veículos de comunicação, não. Hoje, "Carta Capital" é obrigatória para quem quer se informar bem.
O jornalista Paulo Henrique Amorim, a criou o termo "PIG" (Partido da Imprensa Golpista), para designar a ala dos veículos de comunicação que age como um verdadeiro partido político de direita. Em seu site "Conversa Afiada", (http://www.conversaafiada.com.br), Amorim nos dá ampla visão do que acontece na imprensa no dia a dia.
Nessa mesma linha de raciocínio, segue o jornalista Ricardo Kostcho, matéria publicada em seu blog "O Balaio do Kotscho" (http://colunistas.ig.com.br/ricardokotscho), na qual ele analisa a cobertura da grande imprensa.
Portanto, tenho grande respeito e admiração a esses três nomes: Mino Carta, Paulo Henrique Amorim e Ricardo Kotscho, que engrandecem o jornalismo. Vejam o artigo.
17/09/2010 - 11:55
Manchetes que viram propaganda eleitoral
Pelos comentários que leio diariamente aqui, os leitores estão cada vez mais indignados com o comportamento da grande imprensa brasileira na cobertura da campanha eleitoral de 2010. Um exemplo que resume a bronca da maioria é a mensagem enviada às 14h06 desta quinta-feira pelo leitor Eduardo Bonfim, pedindo que eu me manifeste sobre o assunto:
“Prezado Ricardo Kotscho
Sou fã do seu blog. Gostaria que você escrevesse um artigo sobre a propaganda que a Rede Globo vem fazendo no Jornal Nacional (JN no Ar) todos os dias, onde claramente só mostra a parte ruim do Brasil para que o povo vote no 45. Realmente, o casal do JN é 45. Isso é liberdade de imprensa?”
Sim, meu caro Eduardo, esta é a liberdade de imprensa que os oligopólios de mídia defendem. Ninguém pode contestá-los. Trata-se de um direito absoluto, sem limites. O citado JN no Ar, por exemplo, levanta todo dia a bola dos problemas das cidades brasileiras, onde falta de tudo e nada funciona. No mínimo, tem lugar onde falta homem e tem lugar onde falta mulher… Logo em seguida, entra o programa do candidato José Serra para apresentar as soluções.
Na outra metade do programa tucano, em tabelinha com os principais veículos de comunicação do país, são apresentadas as manchetes dos jornais e revistas com denúncias contra a candidata Dilma Rousseff, o governo Lula e o PT, numa sucessão de escândalos sem fim até o dia de disparar a tal “bala de prata”.
Já não dá mais para saber onde acaba o telejornal e onde começa o horário político eleitoral, o que é fato e o que é ilação, o que é notícia e o que é propaganda. A estratégia não chega a ser original. Mas, desde o segundo turno entre Collor e Lula, em 1989, eu não via uma cobertura tão descarada, um engajamento tão ostensivo da imprensa a favor de um candidato e contra o outro.
O esquema é sempre o mesmo: no sábado, a revista Veja lança uma nova denúncia, que repercute no JN de sábado e nos jornalões de domingo, avançando pelos dias seguintes. A partir daí, começa uma gincana para ver quem acrescenta novos ingredientes ao escândalo, não importa que os denunciantes tenham acabado de sair da cadeia ou fujam do país em seguida. Vale tudo.
Como apenas 1,5 milhão de brasileiros lê jornal diariamente, num universo de 135 milhões de eleitores, ou seja, o que é quase nada, e a maioria destes leitores já tem posição política firmada e candidato escolhido, reproduzir as manchetes e o noticiário dos impressos na televisão, seja no telejornal de maior audiência ou no horário de propaganda eleitoral, é fundamental para atingir o objetivo comum: levar o candidato da oposição ao segundo turno, como aconteceu em 2006.
À medida em que o tempo passa e nada se altera nas pesquisas, que indicam a vitória de Dilma no primeiro turno, o desespero e a radicalização aumentam. Engana-se, porém, quem pensar que o eleitorado não está sacando tudo. Basta ler os comentários publicados nos diferentes espaços da internet _ este novo meio que a população vem utilizando mais a cada dia, para deixar de ser um agente passivo no mundo da informação e poder formar a sua própria opinião.
Em tempo: não tem jeito. Quanto mais denunciam, atacam, escandalizam, mais aumenta a diferença de Dilma para Serra. No novo Ibope divulgado esta noite pelo Jornal Nacional, o abismo entre os dois candidatos abriu de 24 para 26 pontos (51 a 25). O casal JN estava todo vestido de preto. A estratégia kamikase só está fazendo o candidato da oposição cair mais ainda nas pesquisas. Como vai ficar a credibilidade da imprensa depois das eleições?
Autor: Ricardo Kotscho - Categoria(s): BlogCRISTOVÃO TEZZA - LULA E AS ABSTRAÇÕES
As explicações para essa ausência de ressonância são muitas – a principal delas, a satisfação de uma larga parcela do povo beneficiada pelo crescimento econômico brasileiro, para a qual o noticiário, em qualquer caso, é irrelevante. Para outra faixa, a “roubalheira” seria “a de sempre”, “política é assim mesmo”, esse pessoal “rouba mas faz”, e se repetem as clássicas afirmações populares que atestam a simples e centenária despolitização brasileira. E para muitos tudo não passaria de uma conspiração da “imprensa vendida”, a velha válvula de escape. Amparados na popularidade messiânica de Lula, os candidatos do governo recebem afagos do chefe e seguem em frente, sorridentes na fotografia. Nada parece fazer diferença.
Quando Lula perguntou, há algumas semanas, “onde está esse tal de sigilo”, produziu uma piada cretina, é verdade – mas deu mais um exemplo da natureza de seu sucesso, que é o horror a abstrações. Ao transformar o “sigilo” – um complexo conceito criado pela civilização para proteger os direitos do indivíduo – num malfeitor que precisa ser “preso”, ao mesmo tempo não disse nada, encerrou o assunto e deixou uma imagem concreta na cabeça do eleitor desavisado. Uma imagem inútil, mas tranquilizadora.
Outra abstração de difícil percepção popular, pelo menos no Brasil de hoje, é a separação fundamental entre Estado, governo e partido político. Lula se comporta como alguém que, em oito anos de mandato, ainda não conseguiu se transformar em presidente. A sem-cerimônia com que o aparelho inteiro do Estado, sob a aguerrida onipresença do próprio Lula, se lança na campanha presidencial, filmada em autoespetáculo pela própria tevê estatal, sem sequer o pudor de uma licença do cargo, dá a impressão assustadora de uma arrogância triunfante e corrupta, vivendo a pura lógica de terra arrasada, como se o sucesso de seu governo não melhorasse o país, mas paradoxalmente o tornasse pior, vivendo o ressentimento e a volúpia de uma vingança contra um “inimigo” que, de fato, jamais teve. Pelo contrário, durante oito anos Lula contou com o melhor Congresso que o dinheiro pode comprar, repetindo a velha piada.
Por um Fiat Elba, Collor virou farelo. Diante dos renitentes escândalos da Casa Civil, parece que o que está fazendo falta mesmo é um PT, que, como nos velhos tempos, não deixasse passar um fio de cabelo sem ligar o megafone. Mas acho que isso já é pedir abstração demais.
25 agosto, 2010
19 agosto, 2010
31 julho, 2010
Como "se saíram" os alunos brasileiros em 2009
29 julho, 2010
13 julho, 2010
CECÍLIA MEIRELES – EDUCADORA
Por tudo isso, enfocaremos nesta postagem a Cecília Meireles Educadora, embora para tanto não possamos esquecer a grande poetisa que foi. Em suas obras há sempre uma preocupação de ensinar, de educar. É importante referir a obras como O Romanceiro da Inconfidência, escrito na década de 1940 e publicado em 1953; e aquela coletânea de poemas voltada mais diretamente para as crianças, Ou Isto ou Aquilo, de 1964.
1. Traços biográficos
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) nasceu no Rio de Janeiro. Órfã da mãe aos três anos. Seu pai havia falecido antes mesmo do nascimento de Cecília. Criou-se com sua avó. Sobre essas mortes, escreveria: “acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno”. Aos 20 anos, Cecília publicou a sua primeira obra em poesia, Espectro. Aos 22, Casa-se com o pintor português Fernando Correia Dias, que se suicida em 1935. Casa-se então com o professor Heitor Vinícius da Silveira Grilo.
Eterna viajante, percorreu diversos destinos na América, Europa, Àsia e África. Em alguns desses locais, lecionou, ou fez conferências sobre literatura e teoria literária. Sobre suas viagens ficaram famosas as suas crônicas, publicadas em três volumes.
Cecília Meireles deixou também cinco volumes de crônicas sobre a Educação. A sua obra em prosa encontra-se publicada em seis volumes.
O seu livro de poemas Viagem, de 1939, recebeu da Academia Brasileira de Letras o Prêmio Olavo Bilac.
2. Cecília Meireles e a Escola Nova
Na ação educativa de Cecília está presente sem dúvida a influência da chamada Escola Nova, movimento pedagógico dos anos 30 e 60 no Brasil. Ela é uma das signatárias do Manifesto dos Pioneiros, de 1932. Juntamente com os líderes Fernando Azevedo, Lourenço Filho e Anísio Teixeira, Cecília empenhou-se na militância pela educação no Brasil.
A Escola Nova, um movimento de renovação do ensino que foi especialmente forte na Europa, na América e no Brasil, na primeira metade do século XX . Foi chamada também de Escola Ativa e Escola Progressiva. Os seus principais influenciadores foram: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), os pedagogos Heinrich Pestalozzi (1746-1827) e Freidrich Fröebel (1782-1852). Na Europa, foram importantes, o psicólogo Edouard Claparède (1873-1940) e o educador Adolphe Ferrière (1879-1960). Porém, é reconhecido como o principal filósofo, pedagogo e educador do movimento, sem dúvida, o norte-americano John Dewey (1859-1952).
No Brasil, talvez o primeiro a lutar pelas ideias da nova escola tenha sido Rui Barbosa (1849-1923). Na década de 1930, surge o grupo que assinou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, dos quais, como já ressaltamos, foram Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-1971), grandes humanistas, filósofos da educação e pedagogos entusiasmados. O pensamento de Dewey unia a todos, a escola deveria ser uma nova comunidade e a educação deveria voltar-se para as atividades próprias da vida. Vida e Educação é uma das principais obras desse autor norte-americano. Consta da coletânea Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 106-179.
3. Um depoimento:
No final dos anos 50 e início de 1960, a influência da Escola Nova ainda era grande nas Universidades brasileiras. Como aluno do curso de Didática, assim chamado na época, e que complementava o Bacharelado e atribuía ao formado o título de Licenciado, eu mesmo cheguei a redigir um trabalho baseado nessa obra, quando o saudoso professor Albano Wolski solicitou uma monografia sobre Educação e Trabalho. O livro de capa verde mantém-se até hoje em minha biblioteca.
4. A cronista Educadora
Como cronista da Educação,assinou colunas nos principais períódicos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Nessa função de jornalista teve de enfrentar as forças ideológica do então governo Getúlio Vargas, a quem ela chamou de Senhor Ditador. Publicou a Página de Educação de 1930 a 1933. Foram mais de mil artigos em que defendia mais liberdade na educação. Queria que as escolas fossem mistas com a presença de ambos os sexos e não aquela separação que existia. Lutava também pela escola pública e não aceitava que as escolas tivessem de ser todas religiosas, como era naquela época.
Cecília voltou mais tarde a atuar em outros órgãos, como A Nação, A Manhã. Em assuntos literários ainda atuou ainda no Diário de Notícias e na Folha de S. Paulo. Portanto, colaborou nos principais jornais da época e alguns deles ainda importantes em nossos dias.
5. Um segundo depoimento:
Sobre a frequencia de meninos e meninas em ambientes separados, aqui em Curitiba, permanece um retrato vivo da situação. É o prédio da Escola Xavier da Silva, na Av. Silva Jardim, no centro, que ainda funciona em um bonito edifício daqueles tempos de 1920 e 1930. Lá está gravado na própria construção em relevo um dos blocos: ALA MASCULINA; em outro, ALA FEMININA. Para os mais jovens, hoje isso soa totalmente inusitado e inverossímil.
Em textos sobre essa Escola, consta, por exemplo:
“Em 1903, o Grupo Escolar Dr. Xavier da Silva foi inaugurado. Com seis salas de aula, tinha por objetivo atender as quatro séries primárias, com seções separadas para meninos e meninas e, para isso, seriam três salas para cada sexo.”
(http://www.oei.es/pdf2/rbep_224_arquitetura_grupos_escolares.pdf. Acesso em 13.jul..2010)
e
"Estado do Paraná – 1914 - Grupos escolares: Função - Série
Grupo Escolar Xavier da Silva
Seção feminina
Maria Rosa G. do Nascimento - Diretora
Leonor Machado Busse - Professora da 1.ª série
Carolina Pinto Moreira - Professora da 2.ª série
Anna Pereira Marques - Professora da 2.ª série
Seção masculina
Verissimo Antonio de Sousa - Diretor
Lindolpho Pires da R. Pombo - Professor da 3.ª série
Brasilio Ovidio da Costa - Professor da 2.ª série
Aristeu Corrêa de Bittencourt - Professor da 1.ª série"
A educação naquele tempo era assim: perfeita separação dos alunos por sexo.
TEXTOS:
I – Fragmento de uma crônica
Mas, enquanto uma reforma do Ensino Primário, como a que nos deixou o governo findo, nos promete - embora da sombra e da frialdade a que a condenaram - uma era nova, e de real importância, para a nossa nacionalidade, o regime atual, que tanto tem invocado a Liberdade como sua padroeira, nos coloca nas velhas situações de rotina, de cativeiro e de atraso que aos olhos atônitos do mundo proclamarão, só por si, o formidável fracasso da nossa revolução... Veio o sr. Francisco Campos com o seu feixe de reformas na mão. E, em cada feixe, pontudos espinhos de taxas... E esperávamos uma reforma de finalidades, de ideologia, de democratização máxima do ensino, da escola única - todas essas coisas que a gente precisa conhecer antes de ser ministro da educação...Depois veio o decretozinho do ensino religioso. Um decretozinho provinciano, para agradar alguns curas, e atrair algumas ovelhas...decreto em que fermentam os mais nocivos efeitos para a nossa pátria e para a humanidade. Chama-se a isto ser liberal. Fala-se da religião como de um movimento de liberdade. Liberdade! Oh! mas, afinal, sejamos coerentes. Façamos o déspota. Façamos o vizir. Façamos, de certo modo, o César do século 20. Mas conservemos a significação dos nomes!
(MEIRELES,Cecília. Página de Educação, Diário de Notícias, 6. maio.1931 – Fragmento. http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/cec_esp2.htm - Acesso em 13 jul..2010)
II - Edmundo, o Céptico
Naquele tempo, nós não sabiamos o que fosse cepticismo. Mas Edmundo era céptico. As pessoas aborreciam-se e chamavam-no de teimoso. Era uma grande injustiça e uma definição errada.
Ele queria quebrar com os dentes os caroços de ameixa, para chupar um melzinho que há lá dentro. As pessoas diziam-lhe que os caroços eram mais duros que os seus dentes. Ele quebrou os dentes com a verificação. Mas verificou. E nós todos aprendemos à sua custa. (O cepticismo também tem o seu valor!)
Disseram-lhe que, mergulhando de cabeça na pipa d'água do quintal, podia morrer afogado. Não se assustou com a idéia da morte: queria saber é se lhe diziam a verdade. E só não morreu porque o jardineiro andava perto.
Na lição de catecismo, quando lhe disseram que os sábios desprezam os bens deste mundo, ele perguntou lá do fundo da sala: "E o rei Salomão?" Foi preciso a professora fazer uma conferência sobre o assunto; e ele não saiu convencido. Dizia: “Só vendo.” E em certas ocasiões, depois de lhe mostrarem tudo o que queria ver, ainda duvidava. “Talvez eu não tenha visto direito. Eles sempre atrapalham.” (Eles eram os adultos.)
Edmundo foi aluno muito difícil. Até os colegas perdiam a paciência com as suas dúvidas. Alguém devia ter tentado enganá-lo, um dia, para que ele assim desconfiasse de tudo e de todos. Mas de si, não; pois foi a primeira pessoa que me disse estar a ponto de inventar o moto contínuo, invenção que naquele tempo andava muito em moda, mais ou menos como, hoje, as aventuras espaciais.
Edmundo estava sempre em guarda contra os adultos: eram os nossos permanentes adversários. Só diziam mentiras. Tinham a força ao seu dispor (representada por várias formas de agressão, da palmada ao quarto escuro, passando por várias etapas muito variadas). Edmundo reconhecia a sua inutilidade de lutar; mas tinha o brio de não se deixar vencer facilmente.
Numa festa de aniversário, apareceu, entre números de piano e canto (ah! delícias dos saraus de outrora!), apareceu um mágico com a sua cartola, o seu lenço, bigodes retorcidos e flor na lapela. Nenhum de nós se importaria muito com a verdade: era tão engraçado ver saírem cinquenta fitas de dentro de uma só... e o copo d’água ficar cheio de vinho...
Edmundo resistiu um pouco. Depois, achou que todos estávamos ficando bobos demais. Disse: “Eu não acredito!”. Foi mexer no arsenal do mágico e não pudemos ver mais as moedas entrarem por um ouvido e saírem pelo outro, nem da cartola vazia debandar um pombo voando... (Edmundo estragava tudo. Edmundo não admitia a mentira. Edmundo morreu cedo. E quem sabe, meu Deus, com que verdades?).
(Publicado em Quadrante 2. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962, p. 122).
III – Ou Isto ou Aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinque, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
CONCLUSÃO
Aí estão textos que falam por si e demonstram a atividade de Cecília Meireles como educadora. Educadora, sim, porém sem nunca ter abandonado o estilo e o espírito da grande poeta que sempre foi, lírica, sensível, atuante.
23 junho, 2010
A morte de Saramago - por Jayme Bueno
Vale a pena conferir e aprender mais sobre José Saramago lendo o post: A morte de Saramago no blog do Prof. Jayme Bueno.
21 junho, 2010
A Morte de Saramago - por Daniel Osiecki
15 junho, 2010
Futebol, teoria e prática
Sempre que eu escrevo aqui sobre futebol, tem umas senhoras que reclamam.
Acontece que, em primeiro lugar, eu adoro futebol. Em segundo, minha cara, se o Roberto DaMatta escreveu, se o Verissimo escreveu, se o Ubaldo escreveu e o pau não comeu, por que não eu? Viram?, estou até rimando.
É que eu tenho uma teoria sobre o nosso futebol paraguaio. Não sou homem de muitas teorias, sempre fui um prático. Mas há 30 anos, exatamente desde a Copa de 70, venho acompanhando a queda do nosso futebol. De lá para cá - exceção da seleção de 82 -, é sempre um sufoco assistir aos jogos da nossa seleção. Até contra o Panamá, país onde passa um canal no meio do campo, a gente ficou na agonia durante exatamente 61 minutos.
A minha teoria é a seguinte. Até 70, não havia substituições no jogo.
Machucou, saía e continuava com dez. Ali começou o imbróglio. Com as três substiuições, veio o banco de reservas. E com o banco, ele, o técnico. Deus.
Era aqui que eu queria chegar. Depois deixaram o Deus ficar de pé. E gritar.
Gritar palavrão, dar ordens, xingar, ameaçar, mandar fazer isso ou aquilo.
Sendo dono da coisa, da cabeça e do talento dos nossos meninos.
Ou seja, o técnico quer que o jogador faça o que ele quer e não o que o jogador sabe. Fico a imaginar um técnico gritando com o Garrincha, que dribrava para trás. A pedir para o Pelé não entrar pela direita. Teve um até que chegou a dizer que o Pelé estava ficando cego. Céus.
O jogador brasileiro tem aquele nível cultural que você conhece. É tímido, envergonhado, semi-analfabeto. Hoje, erram uma jogada e olham para o banco.
Já reparou? E, quando acertam, vão lá beijar o dono deles, o pai deles, o homem que pensa por eles.
A minha idéia é acabar com esse negócio de substituição e deixar os onze craques lá dentro. E eles se virarem entre eles. Eles perceberem com o talento que o verdadeiro Deus lhes deu e se ajeitarem. Vai voltar a criatividade e a ginga dos moleques canarinhos.
Eu não sei qual é a sua profissão. Mas imagine você trabalhando e um sujeito (que se julga superior a você, mas nunca fez aquilo) martelando no seu ouvido.
Fico imaginando eu aqui, escrevendo e um sujeito gritando ao meu lado:
- Olha a vírgula, porra! Olha a vírgula!!!
Sem saber onde é que eu ia terminar a frase.
- O parágrafo tá ficando grande! Corta! Corta!
- Tá usando muita reticência... Assim o leitor não agüenta. Olha o trema do agüenta!!!
- Crase, não! Você não sabe colocar crase. Não inventa!!! Escreva o feijão-com-arroz.
E quando eu dou uma paradinha para pensar, lá vem ele de novo:
- Pára de valorizar a palavra. Vai logo para a linha final e cruza uma exclamação.
Eu olho para ele e já não sei o que era mesmo que eu pretendia com a linha de cima.
Mas ele, ali na beira da mesa, gritando comigo. Dizendo palavrões que eu não posso colocar aqui. Eu começo a pensar numa frase bonita para correr até ele e dar um beijo. Ajeito o título.
- Isso é título que se apresente, rapaz!!! Muda o título. Mude o tipo. Use corrier, arial não está com nada. Olha o espaço! Olha o espaço, porra! Assim não vai dar. Olha o tempo. O pessoal da redação está ligando. Pensa na ilustração.
Já estou pensando em ser substituído. Estou cansado.
- Vamos cara, falta só um parágrafo. Vai mais para a esquerda, o texto tá meio reacionário. Olha a revisão. Jeito não é com g!!! Cobre o espaço!
Já pensou? Os jogadores devem ficar lá dentro com a mesma aflição. Não existe mais jogador. Existe aquele homem ali, que entende de tudo, que se veste bonito, fala bonito e - geralmente - é um tremendo de um mau-caráter e seu vocabulário se resume a palavrões e chavões.
Tirem aquele homem de dentro do campo, pelo amor de Deus, pelo amor e talento aos nossos craques. Ninguém trabalha sob pressão, com palpites.
Bem fazia o Feola, campeão de 58, que dormia nos treinos e deixava a garotada trabalhar com prazer.
o estado de s. paulo
15/08/2001
Mário Prata
04 junho, 2010
SOCIEDADE É INFORMAL. POR QUE USAR MESÓCLISES?
Sírio Possenti
Drummond de Andrade desafiou o cânone gramatical com seu "Tinha uma pedra no meio do caminho" e João Cabral fez o mesmo com "Joga-se os grãos na água do alguidar". Cabral aceitou "corrigir" a construção, que substituiu por "jogam-se" na edição da Aguilar (deve ter achado que "joga-se" era uma pedra no feijão...). No Google, as duas construções convivem. É impossível saber se são cópias ou "edições".
Esta nota tem a ver com uma notícia de jornal (espero que esta esteja correta!): lendo reportagem sobre o lançamento de edição especial de Alguma poesia, descobre-se (repito, se a informação for verdadeira) que Mário de Andrade, em carta, comentou elogiosamente a transgressão gramatical (sic!) no verso "O poeta chega na estação". Drummond respondeu que foi um cochilo, que ia corrigir. "Ainda não posso compreender os seus curiosos excessos. Aceitar tudo que vem do povo é uma tolice que nos leva ao regionalismo", escreveu a Mário não sei se Mário o aconselharia aceitar "tudo" o que vem do povo. Mário o convence a manter a regência como seguinte argumento: "Quem como você mostrou a coragem de reconhecer a evolução das artes até a atualização delas põe-se com isso em manifesta contradição consigo mesmo" (Folha de S. Paulo, 22/05/2010). Drummond, como se sabe, manteve a forma "popular". Que, aliás, não é regionalismo.
A única questão relevante, tanto no caso de Drummond quanto no de Cabral, é por que empregaram a forma "popular" e só se deram conta de que há um "erro" quando alguém fez a observação? Há uma só resposta, em termos de história da língua: é porque essas construções não são mais erros, já eram formas cultas naquele tempo, à luz da melhor e da mais rigorosa noção de padrão linguístico. Tanto não são erros - já não eram há quase cem anos - que dois escritores que não eram populares as empregaram. Achando que estavam escrevendo "certo".
Há um dado sociológico visível que poderia ser considerado para defender que nossa escrita seja menos arcaizante: a sociedade se tornou francamente informal. Quem espiar algum documentário que mostre o "maracanazo" verá a quantidade de homens de terno vendo um jogo de futebol. E não verá nenhuma mulher de calça comprida. Muito menos de bermuda. Hoje, elas vestem homens e mulheres. Ou todos usam jeans e camisetas.
Ninguém mais chama os pais de senhor e senhora. Por que temos que insistir em ênclises e em mesóclises?
Sírio Possenti é professor associado do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua, Os limites do discurso, Questões para analistas de discurso e Língua na Mídia.
31 maio, 2010
Violência sem limites!
Violência sem limites!
O mundo civilizado tem que condenar o ataque ao comboio de embarcações que levava suprimentos à faixa de Gaza, e responsabilizar dirigentes israelenses pelas mortes ocorridas em águas internacionais. Isso é inaceitável.
Com o cinismo dos hipócritas, embaixadores e porta-vozes de Israel tem a petulância de dizer que seus soldados foram atacados...sabe com o que? Estilingues, bolinhas de gude e barras de ferro, isso tudo, depois de invadir por ar e mar, as embarcações que levavam suprimentos para a faixa de Gaza. Os soldados responderam à altura: dispararam mataram quase duas dezenas e feriram outro tanto.
Em uma das embarcações estava a cineasta brasileira, que mora nos Estados Unidos, Iara Lee, que foi presa e está sendo deportada de Israel.
Até o momento a totalidade das manifestações das nações civilizadas, condenaram esse ataque grotesco. Esperamos que sejam punidos os responsáveis...!!!
Esperamos....
26 maio, 2010
O ENSINO DA LITERATURA NO ENSINO MÉDIO
Todo processo científico deve começar com uma indagação. Do mesmo modo, todo processo pedagógico deve começar com uma pergunta: por que ensinar determinada coisa? Assim, quando se vai ensinar literatura, deve-se perguntar: porque ensinar literatura no ensino médio? São os objetivos.
O ensino da literatura deve ser defendido por vários motivos pedagógicos: 1. Pelo lado informativo – deve-se ensinar literatura para que nosso aluno saiba e consiga transmitir conhecimento. Além do conteúdo que o texto literário contém, o estudante recebe outras informações, ou seja, o texto literário é forma de conhecimento; 2. Pelo lado formativo, Nelly Novaes Coelho, afirma: “literatura é reflexo da vida, é a exteriorização verbal artística de uma experiência humana, é evidente que usaremos dela para orientar a educação integral de nossos alunos” (COELHO, Nelly Novaes. O ensino da literatura, 1966, p. 8.). É comumente aceito que a literatura pode levar o aluno à sua formação humanística e assim à educação integral; 3. Com aprimoramento da leitura pelo contínuo contato com a literatura. Em conseqüência, melhorará também a sua escrita. Com isso, adquire o seu próprio estilo, modo peculiar de escrever e de comunicar-se pela linguagem.
Finalmente, como a literatura é cultura, o texto literário irá despertar esse gosto pelo conhecimento, pelo senso crítico. O aluno, assim, poderá saber distinguir um bom texto de um texto de menor valor, é a formação do leitor.
II - Justificativa do ensino por meio de textos
O ensino da literatura deve iniciar-se por textos mais leves, como as crônicas de Fernando Luiz Veríssimo, bastante adequados. Mais tarde, pode-se introduzir o estudo de autores tradicionais da literatura brasileira, como aqueles do Romantismo, que são relativamente fáceis, embora de uma outra época, o que às vezes não agrada muito ao aluno. Ao final do estudo da literatura, é que se pode começar com textos, mais complexos, como os de Guimarães Rosa e os de Clarice Lispector.
Simultaneamente aos textos em prosa, devem-se inserir os textos poéticos acessíveis, como os de Mário Quintana e os Manuel Bandeira. Cecília Meireles, Adélia Prado e outros autores mais complexos, como Carlos Drummond de Andrade, ficariam para mais tarde, ao final do ensino médio.
Pedagogicamente, seria bom que a escolha do texto a ser estudado fosse de escolha do professor em conjunto com o aluno, ou, então, do próprio aluno. Assim, ele se sentiria motivado para a leitura, compreensão e análise do texto.
III - Justificativa histórico-literária
Em sala de aula, o texto literário deve ser colocado em seu contexto: época de sua produção, autor que o produziu, a forma literária em que está escrito e outros relacionamentos que o próprio texto sugerir. Assim, um conto de Mário de Andrade deve vir acompanhado da explicação do professor sobre o contexto histórico: séc. XX, período após a Primeira Grande Guerra; o contexto literário: a Semana de Arte Moderna, de 1922; o papel de Mário de Andrade na organização e realização da Semana, ao lado de outros como Oswald de Andrade.
Do ponto de vista da Teoria da Literatura, o conto, como forma literária, deve ser visto como pertencente à ficção. Uma espécie de texto que é inventada, criada, e que, por isso, não deve corresponder exatamente à realidade.
O texto ficcional, como a própria palavra assinala, é ficção, é invenção, é fingimento. Assim, não tem compromisso com o real, com a verdade. Terry Eagleton ao definir literatura, afirma: “É possível, por exemplo, defini-la como a escrita ‘imaginativa’, no sentido de ficção – escrita esta que não é literalmente verídica” (EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução, s. d., p. 1).
Do mesmo modo, em textos dos anos 40, como os de Jorge Amado, há que se considerar o período do pós-guerra, quando o mundo todo entrou em colapso e surgiram ou se intensificaram vários movimentos filosóficos, como o Socialismo. Tudo isso serviu de base para uma literatura política e de alcance sociológico. Assim foram também os textos dos autores do Romance do Nordeste, como os de Graciliano Ramos e os de Rachel de Queiroz.
Do mesmo modo, devem-se enfocar textos da atualidade literária. Um texto de Clarice Lispector só pode ser compreendido após o Existencialismo de Jean-Paul Sartre, por exemplo. Um texto de Guimarães Rosa, com sua linguagem criativa e renovadora, só pode ser entendido após as várias formas de Experimentalismo na literatura.
Antonio Candido, sobre a relação entre história e literatura, declara que os textos históricos: “se não ajudam a penetrar no miúdo da análise, talvez ajudem a entender alguns traços gerais do poema, como o gosto pelos contrastes e a energia da descrição...” (CANDIDO, Antonio. Na sala de aula: caderno de análise literária, 1986, p. 9). O mesmo acontece diante de outras relações, como aquela entre filosofia e literatura, por exemplo.
Quanto ao texto poético, há também que se explicar ao estudante como esse tipo de texto funciona: em versos ou não; com rima ou não; com ritmo próprio; e com as palavras que se transfiguram. Massaud Moisés ensina: “A poesia é a linguagem no seu ser genuíno” (MOISÉS, Massaud. A criação poética, 1977, p. 27). O poema, deve ainda merecer explicação da sua forma: forma fixa; soneto; construção mais livre, como é mais comum no Modernismo.
IV - Justificativa metodológica: o ensino com pesquisa
Uma última finalidade para o ensino da literatura no ensino médio é introduzir o aluno à iniciação da pesquisa. O aluno deve aprender a pesquisar textos literários, observar aqueles que mais chamam a sua atenção, fazer análises de alguns textos e também desenvolver-se em apresentações.
Esta metodologia pedagógica vem sendo amplamente defendida e difundida no ensino brasileiro por Pedro Demo. Com ela, o aluno passaria de mero espectador no processo de ensino e de aprendizagem e assumiria papel de agente no seu próprio aprender. (DEMO, Pedro. Pesquisa e construção do conhecimento, 2002, p. 10).
O professor, por seu lado, deve dar a oportunidade ao aluno de mostrar o resultado de suas pesquisas, proporcionando-lhe tempo em sala de aula ou em evento paralelo, como Seminários e outros. Assim, facilita-se ao aluno e abrem-se para ele novas oportunidades.
V - Palavras finais
O magistério é a profissão daqueles que realmente querem ver o aluno desenvolvendo-se com base sólida para futuros estudos, vestibulares, concursos. O verdadeiro professor é aquele que procura fazer que o seu aluno progrida cultural e profissionalmente. Assim, a escola e os professores estarão cumprindo o dever de formar cidadãos conscientes, para a realização pessoal.
REFERÊNCIAS
CANDIDO, Antonio. Na sala de aula: caderno de análise literária. São Paulo: Ática, 1986.
COELHO, Nelly Novaes. O ensino da literatura. São Paulo: FTD, 1966.
DEMO, Pedro. Pesquisa e construção do conhecimento: metodologia científica no caminho de Habermas. 5. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2002.
EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Brasileira Waltensir Dutra. São Paulo: Martins Fontes, s.d.
MOISÉS, Massaud. A criação poética. 16 ed. São Paulo: Melhoramentos; Universidade de São Paulo, 1977.